Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Protesto da população no Fundão contra o projecto da Central Solar Sophia


A população de Fundão, no distrito de Castelo Branco, manifestou‐se de forma ruidosa na tarde desta segunda-feira, 3 de novembro de 2025, para contestar o projecto da central fotovoltaica Parque Solar Sophia, que abrange ainda os concelhos de Idanha‑a‑Nova e Penamacor.

Segundo os organizadores, o protesto — ao qual compareceram aproximadamente 200 pessoas — teve início junto à Câmara Municipal do Fundão, pelas 14h30, e decorreu depois até à Incubadora Tecnológica de Empresas do Fundão, local onde estava agendada a sessão solene de tomada de posse do novo executivo municipal.

Os manifestantes acusam uma clara falta de transparência no processo de consulta pública do projecto, afirmando que a comunidade não foi devidamente informada sobre os reais impactos ambientais, sociais e económicos que a implantação da central fotovoltaica poderá provocar.

O empreendimento em questão prevê uma potência instalada de cerca de 867 MWp, representando um investimento estimado de 590 milhões de euros, com uma produção anual projetada em 1.271 GWh – o equivalente ao consumo de mais de 370 000 habitações.

Para o grupo organizador, Movimento Cívico Gardunha Sul, esta não é apenas uma acção isolada, mas o prenúncio de uma situação persistente: “já existem muitos parques solares na região” e questiona-se até que ponto a acumulação destes projectos é compatível com o desenvolvimento local e a preservação do território.

No entender de vários opositores, incluindo a Câmara de Comércio da Região das Beiras, liderada por Ana Correia, o projecto representa mais do que um investimento em energia renovável: constitui um risco para o turismo rural, para os solos agrícolas, para a paisagem e para a qualidade de vida das populações. Numa carta aberta, Ana Correia classificou o mega-empreendimento, assim como as linhas de muito alta tensão previstas, como “um atentado anunciado que vai acelerar a desertificação do interior”.

Entre as principais reclamações assinala-se o facto de a consulta pública se basear exclusivamente numa plataforma online, o que não garante — segundo os protestantes — o envolvimento efectivo da comunidade, sobretudo em territórios onde o acesso à informação e à participação pode ser mais limitado. “Quem é que decide isto? Porque é que temos de ser, mais uma vez, uma zona de sacrifício quando depois não fica cá nada?”, questionou um dos porta-vozes.

Apesar de não se oporem em absoluto à energia solar ou à transição energética, os manifestantes exigem que o processo de planeamento seja mais equitativo, mais claro, que inclua sessões presenciais de esclarecimento, e que apresente alternativas de localização e dimensão para o projecto, de modo a mitigar impactos negativos.

Até ao momento, não foi divulgada publicamente uma resposta abrangente das entidades promotora ou das autarquias envolvidas em relação às preocupações levantadas. A acção desta tarde deixa à vista uma forte mobilização da comunidade local e aponta para a necessidade de um diálogo renovado entre residentes, autarquias e promotores de infra‐estruturas.