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Diretor: Paulo Menano

Opinando: “A bola é minha, o adversário não!” de Luís Granjo, Mestre no Ensino da Educação Física


A BOLA É MINHA, O ADVERSÁRIO NÃO!

 

Todos os fins de semana trazem a alegria da competição, o jogo.

Milhares de jovens dormem com formigueiro na barriga nas noites de 6ª feira ou sábado, “amanhã tenho jogo!”

Jogo é um termo do latim “jocus” que significa gracejo, brincadeira, divertimento, e que deveria representar um contexto saudável de partilha e muita motivação. Será???

Lembro-me dos meus tempos de criança, em que o jogo no recreio da escola era gerido pelo dono da bola e do resultado do jogo, ou seja, se o dono da bola estivesse a ganhar, tudo continuava tranquilo, mas se estivesse a perder, o jogo acabava com a justificação “a bola é minha e não quero jogar mais!.

A bola tinha dono e o adversário????

Nos diferentes recintos desportivos por onde passo, quer como treinador, quer como assistente, salta-me à vista o mau trato constante às equipas adversárias, quer os clubes visitantes como os visitados, que encaram os adversários como “inimigos” desportivos e com uma tendência natural de desvalorização desportiva da prática da modalidade em questão, “não jogam nada!”

A minha reflexão tem como base sólida o contexto do futebol formação, onde todos devem remar para o mesmo lado, na tentativa da formação integral do jovem atleta e a formação pessoal e social do ser humano.

Querer ganhar, treinar para ganhar não pode ser confundido com desrespeitar ou diminuir o adversário, uma vez que a competição só existe com adversários, ou seja, só podemos melhorar através da competição com a existência de adversários, que como qualquer equipa/clube, trabalham o melhor que conseguem e sabem para tentar ganhar os seus jogos ao fim de semana.

Só pode haver adversários se existir o principal valor da competição, o RESPEITO, o respeito pelos que treinam, aprendem, erram, ganham e perdem como nós.

No final, quando os que se destacam pelo mérito desportivo, e ganham o respeito dos adversários, a vitória será sempre mais reconfortante e estruturante, pois a valorização dos adversários permite aprendermos uns com os outros.

O principal mérito desportivo advém das vitórias, do sucesso desportivo, do trabalho de um grupo de pessoas, nunca do egocentrismo da facilidade e da “batota”. As quatro linhas definem os melhores, quer nos dias de sombra, no treino, quer nos dias de brilho, na competição, mas o respeito dos adversários elevam o desporto, a modalidade e a competição.

O jogo, a competição não pode refletir expetativas e frustrações, deve contribuir para um aperfeiçoamento desportivo, com forte impacto na saúde dos jovens atletas, e, acima de tudo, para um enriquecimento das relações interpessoais dos jovens. São vários os relatos de desordem nas bancadas por parte dos pais e familiares dos atletas, mas é fundamental o papel dos treinadores, e dirigentes do desporto formação, na promoção de comportamentos de respeito e amizade dentro das quatro linhas. Não podemos querer só a bola e não aceitar o adversário, porque para sermos melhores, ou os melhores, o adversário tem um papel decisivo.

Assisti, recentemente, a uma atitude de enorme impacto na gestão de maus comportamentos e respeito pelo adversário, quando um treinador, depois do seu atleta ter reagido a uma entrada mais viril do adversário, numa tentativa de agressão, o retirou do campo e lhe disse, em alto e bom som, “isso não é um comportamento decente”.

Mais que palavras, os gestos têm um impacto determinante para os jovens, que tendencialmente “copiam” comportamentos, principalmente de quem os lidera.

 

Luís Granjo

Mestre no Ensino da Educação Física

Treinador de Futebol Nível I