Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Entrevista com Rodrigo Fonseca, treinador do Vilanovenses


Rodrigo Fonseca, treinador do Vilanovenses, venceu no ano passado a II Divisão Distrital com o clube, voltando à elite distrital e estando este ano a disputar o topo da tabela classificativa e a ser das equipas mais regulares da prova até ao momento. Em entrevista ao MaisBeiras, analisou o momento atual da equipa e a realidade do futebol distrital.

Rodrigo, puxando a cassete só um pouco atrás, na última época este Vilanovenses venceu a II Divisão Distrital depois de ter caído para a prova por não participação no ano do regresso em tempo de Covid-19. Foi um regresso do clube a um lugar onde tinha de estar?

Fernando, antes de mais agradecer o convite para poder falar um pouco sobre o Clube de Futebol os Vilanovenses e parabenizar-te pelo trabalho feito em prol do Desporto na nossa região e não só. Respondendo à questão, penso que ninguém tem dúvidas que o lugar desta Equipa não é na II Divisão Distrital, divisão em que competimos na época passada pelas contingências que todos sabem. Digo isto sem qualquer tipo de sobranceria ou arrogância, mas sim pela qualidade do plantel, pelas condições que a Direção nos proporciona e por toda o Historial que o Clube tem.  Na época anterior fizemos o que tínhamos a fazer, que era vencer o Campeonato da II Divisão Distrital e consequentemente voltar a competir numa divisão mais condizente com o nosso valor.

Embora se tenha reforçado claro, notou-se um claro interesse em transitar a estrutura-base do plantel de uma época para a outra. Foi um reconhecimento da qualidade deste grupo e de que a estabilidade é essencial para atingir resultados?

Em relação ao plantel que se sagrou Campeão Distrital da II Divisão, apenas registámos 3 saídas, o que diz bem do valor da Equipa. Reforçámos algumas posições que considerámos ser necessário, mas quisemos manter a estrutura base da Equipa da última época. Não só como reconhecimento do que fizeram, mas também por reconhecermos que quem esteve connosco na época passada tem qualidade, competência e valor para disputar uma Primeira Divisão Distrital. Não somos apologistas de mudanças radicais num plantel, ainda para mais num plantel que se sagrou Campeão Distrital invicto.

Quais foram os objetivos a que o grupo e a sua equipa técnica se propuseram esta temporada?

Temos a noção clara que este ano a competitividade e a disputa pelos 3 pontos vai ser diferente do que na época passada (aliás, basta ver a classificação à passagem para a 2ª volta do campeonato, para se ver que este é dos campeonatos mais equilibrados e disputados dos últimos anos). O nosso objetivo passa por pensar jogo a jogo em conquistar a vitória, respeitando cada adversário, mas com uma ideia de jogo bem definida, com objetivos realistas e estruturados e que passam por andar nos lugares cimeiros da tabela classificativa. Temos noção do nosso valor, temos noção da nossa qualidade, mas também temos noção que há equipas que apostaram claramente no título.  Nós, como referi anteriormente, respeitamos todos os adversários, mas também sabemos do nosso valor e como tal, ambicionamos fazer a melhor classificação possível.

A equipa tem vindo a fazer um ótimo campeonato, ocupando a quarta posição e estando ainda a disputar o primeiro lugar e a bater o pé às equipas que seguem na sua frente. Como analisa a temporada até agora?

É opinião unânime que o campeonato está muito disputado e que a diferença pontual entre o 1º e o 7º classificado é reduzida, sendo que uma vitória ou uma derrota, facilmente leva a alterações na tabela classificativa. Agradeço o elogio, mas não diria que temos feito um ótimo campeonato, pois já perdemos pontos em jogos que não o deveríamos ter feito, mas também há que dar mérito às outras equipas, que se têm batido bem e dificultado a vida aos adversários. Penso que até ao final do campeonato ainda se vão registar algumas surpresas e alguns pontos perdidos por parte dos candidatos, e quem for campeão, não o será com uma vantagem alargada.

Parece este ser um dos distritais mais equilibrados dos últimos anos, com tantas equipas separadas por tão poucos pontos e a poderem ambicionar o primeiro lugar com metade da temporada jogada. Como olha para este salto de competitividade que vem sendo dado?

Esta competitividade é salutar pois para além de manter as equipas em constante alerta, não permitindo distrações ou facilitismos, sob pena de se perderem pontos que mais à frente poderão fazer falta, também mostra um maior equilíbrio ao nível das equipas que disputam o campeonato. Por exemplo, chegar a esta altura e ter uma equipa com 15 pontos de diferença para o segundo classificado, iria levar a uma desmotivação por parte de quem persegue o líder e também daria uma sensação de relaxamento para quem vai na frente. Da forma como a classificação está, nem o líder pode facilitar e os perseguidores mantêm a motivação para uma eventual perca de pontos do 1º classificado e uma possível aproximação da liderança.

Hoje em dia e devido às enormes dificuldades burocráticas impostas aos clubes, poucos são os clubes a participar em prova que podem atingir a certificação para subir aos nacionais. Como é trabalhar para vencer um título e uma subida que seria dos clubes por mérito próprio sabendo que existirá depois um entrave desses mais à frente. Como é trabalhar sempre com este “fantasma” por detrás?

Sinceramente essa é uma questão que não faz parte do dia a dia da Equipa Técnica e dos jogadores. Essa é uma questão/preocupação que deve ser a Direção a ter. Nós estamos focados no processo de treino e consequentemente na preparação para a competição. Tudo o que seja extra, não nos afeta. Caso em Maio estejamos perante essa situação, quem de direito irá certamente tratar dessa questão. Neste momento, é algo que não nossa afeta.

Consideras que as regras de acesso têm de ser revistas e adaptadas a realidades regionais e distritais totalmente díspares entre si?

Sim, há claras desigualdades entre as equipas do interior do país, e as outras que estão sediadas em zonas de maior população, mais industrialização e maiores apoios financeiros.  E vemos que a regra do campeão distrital da AF Guarda é subir aos Nacionais e no ano a seguir voltar ao campeonato distrital. Esta é uma questão antiga, que todos os anos é colocada várias vezes, em vários locais, mas que de ano para ano não obtém solução. Enquanto não se equilibrar a balança económica dos apoios aos Clubes que vão disputar o Campeonato Nacional, as desigualdades serão sempre gigantes e o resultado passará inevitavelmente pela não manutenção na divisão superior. Qualidade existe no distrital da Guarda, mas mesmo que se juntassem os melhores jogadores de todas as equipas, faltariam os apoios necessários, para se poder lutar de igual para igual com equipas que têm orçamentos impensáveis para a nossa realidade.

Para terminar, existe uma palavra que parece descrever muito bem o que o grupo do Vilanovenses transmite para fora: união. É essa a característica maior que tem permitido este grupo avançar e ser bem sucedido?

Sim, é verdade. A maior parte do Grupo já está junto à algumas épocas, e vários jogadores já tinham trabalhado comigo noutro Clube, pelo que existe união e cumplicidade entre todos, pois já nos conhecemos à algum tempo.  É uma mistura entre jogadores experientes nestas andanças (e alguns com passagens por patamares superiores) e miúdos que estão a aparecer e que juntam a irreverência própria da juventude à vontade de mostrar trabalho e deixar a sua marca. A estas características aliamos ainda a qualidade do plantel à vontade que existe de vencer e voltar a colocar o Clube nos lugares cimeiros da tabela, e o Grupo tem correspondido, estando no bom caminho para que os objetivos sejam alcançados.