
Autárquicas 21: Entrevista a Ana Freitas, candidata à Câmara Municipal de Gouveia, pelo PS
Após quatro anos de mandato, retomam agora as eleições para as Autárquicas 2021 e o Mais Beiras Informação decidiu ir ao encontro dos candidatos, colocando-lhes algumas questões, para que possam partilhar a sua visão e planos para o futuro do Município a que se candidatam. Ana Freitas é a candidata, pelo PS à Câmara Municipal de Gouveia.
Quais os motivos da sua candidatura a estas Autárquicas?
As pessoas e a necessidade de mudança que elas diariamente me têm feito sentir. Num concelho que fica, a cada ano que passa, mais e mais descaracterizado, despovoado, enfim, irreconhecível, há um apelo de intervenção urgente. As pessoas são o meu principal motivo.
O que considera ter de diferente dos outros candidatos, para se candidatar a este mandato?
Não sei o que pensam os candidatos que formalizaram a candidatura às eleições autárquicas de 2021 em Gouveia. Teremos de esperar que os respetivos programas sejam apresentados, para depois podermos, com justiça, fazer avaliações e comparações. Eu sou uma pessoa igual às demais no meu concelho. As dúvidas, os receios, as crenças e descrenças delas são também as minhas, ainda assim eu sei, a história diz-nos isso mesmo, que o caminho não pode ser o da desmobilização, da inação e do descrédito. Quando me convidaram só tinha um dos dois caminhos – ou ficava a assistir, derrotada no meu/ nosso descrédito ou assumia os meus valores e aceitava a responsabilidade e a esperança de saber estar e fazer diferente.
Quais os setores que considera importantes impulsionar ou melhorar na região?
As pessoas vêm sempre antes de tudo. Não há economia nem política sem pessoas e, portanto, as pessoas, as que cá estão e as que espero agregar, são o eixo da mudança que se impõe. O programa da candidatura será divulgado dentro em breve. No entanto, podemos destacar como eixos programáticos a transição digital, a transição energética, a sustentabilidade ambiental, o incentivo à participação pública e a diplomacia económica capaz de criar condições para empreendedores e empresários desenvolverem as suas atividades, com uma visão de futuro sustentável e inovadora.
Nesta visão não descuramos o aproveitamento turístico e o desenvolvimento da atividade agrícola como forma de diversificação económica e de aproveitamento sustentável dos recursos endógenos.
Nestes quatro anos que passaram, o que faria de diferente relativamente ao executivo Camarário vigente?
Ao contrário do que tem acontecido, as populações anseiam, mais do que por iniciativas e eventos esporádicos e inconsequentes, por qualidade de vida e por um projeto de governação autárquica, de médio e longo prazo, que seja coerente e que lhes diga, não só a elas mas também aos empresários e aos potenciais investidores, para onde é que queremos ir e com o que é que podem contar, nos próximos 10, 20 ou 30 anos.
As pessoas desejam políticas locais que deem resposta às suas necessidades de saúde e de educação. Mas esperam também políticas sociais, ambientais, de expansão económica e empresarial, suscetíveis de captar e de fixar pessoas, empresas e empregos.
As novas políticas autárquicas terão de dar resposta a uma sociedade mais exigente e mais esclarecida, que deseja uma autarquia mais transparente, mais equitativa, mais justa, mais ecológica e mais digital. E por isso, os novos autarcas terão de ser também mais flexíveis, mais empáticos, mais capazes de responder a esta nova forma de estar e pensar dos munícipes.
Cada vez mais os autarcas deverão ser pessoas tecnicamente bem preparadas e dotadas de um perfil e de um passado que evidencie a sua capacidade para compreender e enfrentar os novos desafios em busca do superior interesse das populações. Mas devem ser também pessoas impolutas, sobre as quais não recaia a menor dúvida ou suspeita ética ou moral, e que por isso mesmo sejam fatores de agregação, de mobilização e de credibilização da atividade política e da vida pública e capazes de inspirar outros para em ações de valorização do território e de pessoas..
Acredita que os recursos de que dispõe a Câmara são suficientes para fazer face às necessidades dos cidadãos que aqui residem?
Os recursos são sempre insuficientes para se poder fazer o muito que se deseja. Mas não creio que o segredo esteja em ter muitos recursos ou muito dinheiro para “atirar para cima dos problemas” como tem sido feito em Gouveia durante os últimos 20 anos. O concelho de Gouveia precisa, para a próxima década, de pessoas jovens e dinâmicas, dotadas de visão estratégica e de capacidade para gerir da melhor forma os recursos disponíveis e para estabelecer pontes com o governo central, de forma a aproveitar as oportunidades de desenvolvimento que irão surgir com a descentralização de competências, com a Agenda 2030 e com o Plano Nacional de Recuperação e Resiliência. O posicionamento do concelho e a alocação dos recursos certos a um conjunto de políticas estruturais são passíveis de produzir resultados duradouros para Gouveia e para os Gouveenses.
Sendo um concelho situado no Interior, que políticas acredita serem necessárias implementar pelo Governo para diminuir o despovoamento e desertificação?
Os concelhos situados no interior têm, na sua grande maioria, grandes desvantagens em relação a outros concelhos, ditos do litoral. Uma dessas desvantagens, talvez a mais conhecida e mais falada, está relacionada com as acessibilidades. No entanto algumas dessas dificuldades, e concretamente esta, estão a ser relativizadas, pelas novas formas de nos comunicarmos, de trabalharmos e de fazermos negócios recorrendo às redes digitais – as novas autoestradas. É evidente que o digital não resolve todos os problemas e que as mercadorias continuam a ter que chegar a Gouveia por via terrestre, e para quem cá produz, tem que ser fácil fazer chegar os seus produtos aos centros de distribuição ou aos centros de consumo. Esta nova forma de nos relacionarmos, vai criar novas oportunidades de negócios e certamente atrair pessoas altamente qualificadas que, para fazerem o seu trabalho, não precisam de autoestradas nem vias rápidas. O governo sabe isto, temos tido conversas com membros do governo e sabemos da sua intenção de apoiar o interior. Mas o que não pode continuar a acontecer é o governo lançar programas e iniciativas e o executivo municipal não aproveitar essas oportunidades, como aconteceu recentemente quando, ao contrário do que aconteceu com cerca de 60% dos municípios do interior, a Câmara de Gouveia não assinou nenhum dos acordos de cooperação no âmbito da adesão à rede nacional de teletrabalho e coworking. Assim, e tal como aconteceu nos últimos 20 anos, o concelho vai continuar a exaurir-se e a perder população, empresas e empresários, para concelhos vizinhos que, sofrendo da mesma interioridade se posicionam melhor nestes programas e ações concretas.
Que medidas pretende implementar para captar investidores para o concelho?
As respostas anteriores respondem de certa forma a esta questão. No entanto, diria que a adoção de um programa agressivo de diplomacia económica, resiliente e bem orientada, é meio caminho para criar as condições para que empreendedores e empresários possam desenvolverem as suas atividades no nosso concelho, com uma sustentada visão de futuro.
Como acha que deve a Câmara proceder, para procurar fazer face ao desemprego crescente na região?
As respostas às questões anteriores dão pistas muito concretas sobre as nossas intenções e orientações. Os detalhes do programa só serão conhecidos quando este for oficialmente apresentado. Realça-se ainda assim, que o indicador desemprego não representa bem as pessoas sem atividade, pelo que deve ser considerado em conjunto com as pessoas que depois do desemprego passam à inatividade. Só esta abordagem conjunta nos permitirá a aplicação de políticas adequadas para a inclusão de todos, seja no âmbito do mercado de trabalho ou do desenvolvimento de atividades integradoras e de desenvolvimento local.
Que conselho daria a um deslocado em busca de novas oportunidades no Interior?
Perguntar-lhe-ia: o que sabes fazer? O que queres aprender? O que estás disposto a fazer?
Depois de lhe demonstrar as qualidades e vantagens da vida em Gouveia e adulterando um pouco a frase de John Kennedy dir-lhe-ia: “Não perguntes o que o teu concelho pode fazer por ti. Pergunta antes o que podes tu fazer por ele”.