
Legislativas 2022: Entrevista a Manuela Antunes, pelo BE Viseu
Ao realizarem-se agora as eleições para as Legislativas 2022 o Mais Beiras Informação decidiu, nas suas próximas edições diárias, dar especial atenção às candidaturas. Manuela Antunes é a cabeça de lista do Bloco de Esquerda por Viseu.
1- Quais as principais alavancas para o desenvolvimento do distrito?
Repensar toda a mobilidade, modernizando a Linha do Douro, exigindo a ligação ferroviária Aveiro-Viseu-Mangualde e uma aposta séria nos transportes colectivos/públicos que consiga efectivamente reduzir o uso do automóvel e garanta horários adequados à vida das pessoas. Isto implica trabalhar em rede com todos os municípios e pensar medidas de desconcentração urbana, criar uma melhor coesão territorial.
Medidas que beneficiam a vida das pessoas e são fundamentais no combate às alterações climáticas e caminhar assim para uma efectiva descarbonização.
Requalificação total que promova a segurança (existem zonas sem bermas de urgência) do IP3 e terminar o IC12, IC37,, IC6, IC26…
Devolver todos os serviços públicos roubados que colocaram algumas zonas do distrito ainda mais isoladas e desfavorecidas devido ao encerramento de balcões dos CTT, repartições de finanças, tribunais, extensões de saúde, valências em hospitais, agências bancárias..
Como por exemplo o encerramento do Serviço de Atendimento Permanente em Mangualde, Nelas a extensão de saúde de Cabanas de Viriato que sobrecarregou em mais 500 utentes o Centro de Saúde de Carregal do Sal…
É fundamental garantir o direito das populações a acederem aos cuidados de saúde de que necessitam e aos quais têm direito.
Queremos empresas que promovam o trabalho digno, com direitos promovendo assim a fixação de população.
É inaceitável que empresas que recebem dinheiros comunitários e municipais de repente decidem deslocar a sua empresa para outro país deixando os seus trabalhadores e trabalhadoras no desemprego, como é o caso da Covercar que estava localizada em Canas de Senhorim e vai para Marrocos.
É preciso atrair empresas com apoios mas não pode valer tudo.
Não queremos estar sempre em “saldos”!
Queremos um distrito que coloque as pessoas e o seu território em primeiro lugar!
2- Despovoamento e desertificação: Quais as medidas e/ou plano estratégico para combater estas duas realidades?
Esta pergunta está directamente relacionada com a primeira.
É fundamental apostar nas redes de serviços públicos e implementar um programa de reabertura gradual de serviços públicos, em colaboração com os municípios nos territórios de baixa densidade acompanhado de incentivos à fixação de trabalhadores/as do Estado nestes territórios: Tribunais, museus, escolas, transportes, centros de saúde de proximidade.
3- Qual será a vossa posição, quando no parlamento existirem votações, que ponham em causa o desenvolvimento do distrito e o partido seja contra? Vão seguir a ordem partidária ou votam a favor dessa proposta?
Não me parece que o meu partido alguma vez seja contra medidas que promovam e valorizem este distrito ou outro qualquer.
4- Quando é que a redução ou abolição das portagens deixa de ser uma miragem?
Nós não discutimos reduções. Queremos a abolição imediata das portagens nas ex SCUT.
Deixa de ser miragem quando quem estiver no governo as elimine por completo.
5- Quais os setores que consideram importantes impulsionar ou melhorar no Distrito?
Todos os sectores são importantes mas têm que ser pensados no sentido de promover a nossa região, que defendam um ambiente sustentável; sem poluir os cursos de água (como a maior parte das industrias fazem), que não mandem pessoas embora e não promovam a precariedade laboral com salários baixos.
6- A falta de médicos é um problema grave, que tem abalado o distrito. De que forma estão a pensar agir para combater esta falta?
É preciso concretizar a Lei de Bases da Saúde e parar de adiar investimentos fundamentais.
É preciso garantir condições de trabalho e carreiras dignas a todos/as os /as profissionais.
Garantir a contratação dos profissionais em falta e permitir trabalhar em regime de exclusividade, promover uma maior autonomia na gestão hospitalar, reforçar as redes de cuidados continuados e paliativos, criar equipas de saúde mental nas comunidades.
7- Que políticas pretendem acionar para combater a assimetria do país, dividido pela estrada EN2 (litoral do interior)?
Respondido nas anteriores perguntas
8- A regionalização tem estado na ordem do dia. Qual é a vossa posição quanto a este tema?
Esperamos pelas regiões administrativas desde 1976.
Defendemos a regionalização porque consideramos que este é o caminho para uma verdadeira coesão territorial, subsidiariedade, democracia participativa e autonomia administrativa, sempre com a participação cidadã.
9- Tem-se falado muito em corrupção. De que forma pretendem trabalhar para batalhar esta realidade?
Escrevo na íntegra as propostas plasmadas no programa porque todas são importantes e urgentes:
Criminalização do enriquecimento injustificado, com confisco dos bens obtidos por esse meio. A riqueza sem origem clara e acumulada abusivamente deve ser taxada a 100%;
• Fiscalização do património e dos rendimentos dos titulares de cargos políticos e dos altos cargos do Estado por uma Entidade para a Transparência, com os recursos necessários para a sua tarefa e que tem urgentemente de entrar em funcionamento. Se há património não declarado, é crime. Se há enriquecimento desproporcionado, é comunicado ao Ministério Público para investigação;
• Reforço significativo dos meios humanos, financeiros e logísticos ao dispor da Entidade de Contas e Financiamento Políticos, para evitar a prescrição dos processos de apreciação das contas dos partidos políticos e das campanhas eleitorais;
• Reforço dos meios e pessoal da Autoridade Tributária e Aduaneira e da Polícia Judiciária afetos ao combate à evasão fiscal e à criminalidade económico-financeira.
• Total transparência de quem é eleito e dos altos cargos do Estado, alargando a lista de responsáveis públicos com a obrigação de declarar o seu património, desde membros do Governo, consultores e consultoras ou peritos e peritas do Estado, deputados e deputadas e responsáveis de gabinetes ministeriais. Quem decide no país tem que declarar o seu património. Quem não deve, não teme: essas declarações devem estar acessíveis à população;
• Alargamento para seis anos do período em que os e as ex-governantes não podem ser contratados por empresas do setor que tutelaram, assegurando um período de nojo que proteja os interesses públicos;
• Recuperação dos direitos sobre mais-valias urbanísticas criadas por ação do Estado, designadamente pela classificação administrativa de terrenos rurais, com a subsequente autorização para edificar;
• Reforço dos meios ao dispor da polícia de investigação criminal;
• Eliminação dos vistos gold da ordem jurídica portuguesa;
• Criação de uma entidade inspetiva para as autarquias locais para a promoção da transparência e o combate à corrupção.
Temos feito um combate sério à corrupção, sem medo de falar nos assuntos e participando directamente nas denúncias
Tolerância Zero!
10- Como idealizam o futuro do distrito se vencerem as eleições?
Idealizo um distrito mais atrativo com trabalho com direitos, com o Serviço Nacional de Saúde reforçado, com melhor proteção social, com mais habitação pública e social e melhor eficiência energética das habitações, com uma mobilidade sustentável (densificar os transportes públicos e caminhar para a sua gratuitidade), com creches públicas e apoios dignos a quem cuida, com uma gestão florestal que defenda a biodiversidade e que priorize este princípio em todas as decisões tomadas para o nosso território, com serviços públicos de qualidade e de proximidade das populações e direitos iguais sem exceções, com fortes incentivos à cultura, às artes e defesa do património e com mais e melhor escola pública.
Idealizo também um distrito promotor de direitos humanos sem preconceito, sem racismo e sem xenofobia.
Idealizo um distrito mais justo, progressista e inclusivo.
Ou seja, se ganharmos a vida das pessoas vai melhorar realmente!
11- Aproveitando esta nossa entrevista, qual a mensagem que pretendem deixar aos eleitores?
O interior não pode esperar mais! É urgente inverter os anos de abandono e investimento.
Em 2019 ficámos num universo de 347.962 possíveis votantes a apenas 1753 votos de eleger e fazer história.
O interior não pode esperar mais!
Vota por razões fortes e compromissos claros.
Faremos sempre as perguntas que são necessárias e falaremos sempre nos assuntos sem receio, rodeios ou medo…
O voto útil à esquerda é no Bloco!