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Alerta Amarelo! As acácias invasoras estão a dominar a paisagem e a nossa saúde não vai sair ilesa!
“Até quando vamos continuar a olhar para o lado?” pergunta especialista
É difícil ignorar o amarelo vibrante que pinta as margens de estradas e linhas de água, montanhas, e outras paisagens nesta época do ano. Mas o que muitos (ainda) celebram como um espetáculo natural de grande beleza é, na verdade, um sinal de alerta, garante a especialista em espécies invasoras, professora da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra (ESAC-IPC) e investigadora no CERNAS, Hélia Marchante. “As acácias, originárias da Austrália, são espécies invasoras e estão a expandir-se de forma descontrolada, ameaçando outras espécies, os ecossistemas, a nossa qualidade de vida e até a economia”, avisa.
As espécies de acácias, como a mimosa (a que os cientistas chamam Acacia dealbata), a austrália (Acacia melanoxylon), a acácia-de-espigas (Acacia longifolia), entre outras, foram introduzidas em território nacional para fins ornamentais, para controlo da erosão e outros fins. Contudo, “estas plantas são agora uma das maiores ameaças à biodiversidade em Portugal”, assevera. “Elas substituem as espécies autóctones, alteram o solo, reduzem a disponibilidade de água e criam um monopólio verde que sufoca a diversidade natural”, prossegue.
Mas “os impactes das acácias vão para além da ecologia”, explica Hélia Marchante. “O pólen destas é alergénico, afetando a saúde respiratória de muitos cidadãos. Para quem sofre de rinite ou asma e vive/trabalha perto de acácias, esta pode ser uma época especialmente difícil. Além disso, os custos económicos associados à remoção destas plantas e ao impacte em setores como a floresta são significativos, reforçando a necessidade de intervenções coordenadas e continuadas.” Embora todas as acácias integrem a Lista Nacional de Espécies Invasoras (Decreto-Lei n.º 92/2019), sendo proibida a sua detenção, cultivo, comercialização, etc., “o problema continua a ser grave!”, remata.
E agora, o que podemos fazer?
Hélia Marchante acredita, porém, que “apesar do cenário preocupante, cada cidadão pode fazer a diferença”. “Não é preciso ser cientista ou técnico florestal para combater esta invasão – basta ter um olhar atento e vontade de agir”, afirma, enumerando algumas formas de o fazer:
- Transforme-se num “Explorador Verde”: Participe numa “caça ao tesouro” ambiental; Identifique acácias na sua região e ajude a colocá-las no mapa através de aplicações de ciência cidadã gratuitas como o iNaturalitst/BioDiversity4All; No site invasoras.pt pode aprender a distinguir as acácias que temos em Portugal; E no projeto “invasoras.pt” criado no iNaturalitst/BioDiversity4All, pode consultar os registos já existentes. Esta informação é crucial para definir estratégias de gestão eficazes e entender melhor o comportamento destas espécies no nosso território.
- Diga NÃO ao uso de acácias: Evite plantar estas espécies em jardins ou propriedades privadas; em vez delas, opte por árvores autóctones que sustentam a biodiversidade e ajudam a preservar os ecossistemas locais. Colher raminhos floridos pode ser atrativo, mas vai levar as alergias para dentro de casa!
- Apoie ações de controlo: Muitas entidades têm vindo a organizar iniciativas para remover acácias (e outras plantas invasoras); procure informação junto da sua Câmara Municipal ou de organizações de defesa do ambiente e participe ativamente. Na “Semana sobre Espécies Invasoras: Portugal & Espanha”, que decorrerá este ano de 3 a 11 de maio, haverá muitas atividades! Organize a sua ou participe noutra atividade programada: https://www.speco.pt/sei
- Exija mais das entidades competentes: A solução para o problema das espécies invasoras não depende apenas de ações individuais; todos devemos exigir das autoridades uma resposta mais firme e coordenada. É essencial investir em políticas públicas que promovam uma melhor gestão destas espécies, garantindo a conservação dos nossos ecossistemas e o bem-estar das comunidades.
O caso da acácia-de-espigas: o seu controlo biológico colocou Portugal na linha da frente da Europa
Entre as espécies de acácias invasoras, merece destaque a acácia-de-espigas. Esta pequena árvore invade dunas costeiras e outros habitats sensíveis, substituindo a vegetação nativa e comprometendo o equilíbrio dos ecossistemas. Contudo, uma solução inovadora tem sido implementada: o uso de controlo biológico.
Um pequeno inseto australiano, a vespa-formadora-de-galhas Trichilogaster acaciaelongifoliae, foi introduzido em Portugal em 2015, depois de 12 anos de testes em laboratório e análises de risco realizados por uma equipa que reúne investigadores da ESAC-IPC e do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra. Este inseto deposita os seus ovos nos botões florais da acácia-de-espigas, impedindo-a de produzir flores e, consequentemente, sementes. Sem capacidade de reprodução eficaz, a expansão da acácia-de-espigas está assim a ser travada de forma natural e sustentável.
“Os resultados têm sido encorajadores. Observamos uma redução significativa na produção de sementes e no vigor das populações de acácia-de-espigas em várias áreas de invasão”, salienta Hélia Marchante. Segundo a especialista, “este exemplo demonstra que soluções baseadas na natureza podem ser eficazes no combate às plantas invasoras, mas requerem monitorização e cooperação entre cientistas, gestores de ecossistemas e a comunidade”. No âmbito do projeto de ciência cidadã “Trichilogaster acaciaelongifoliae in Iberian Peninsula”, muitos cidadãos têm ajudado a mapear a expansão deste pequeno ajudante no controlo da acácia-de-espigas. Hélia Marchante desafia todos os que ainda não o fazem a também registar as galhas que observam no iNaturalist/BioDiversity4All.
Existem igualmente diferentes agentes de controlo biológico que estão a ser explorados para outras acácias, mas estão ainda em fase de teste.
“O controlo das plantas invasoras é uma causa urgente”, insiste. “Cada passo conta para devolvermos o equilíbrio aos nossos ecossistemas e para garantirmos um futuro mais saudável e sustentável para todos”. A professora da ESAC desafia-o a, da próxima vez que vir o amarelo brilhante de uma acácia em flor, perguntar-se: “o que posso fazer hoje para proteger a nossa paisagem e saúde?”. “Junte-se a nós nesta batalha!”, incita.
Se quiser saber mais sobre como controlar as acácias, o Manual de Boas Práticas para a Gestão e Controlo de Plantas Invasoras Lenhosas em Portugal Continental, publicado recentemente por Liliana N. Duarte, Elizabete Marchante e Hélia Marchante, inclui esta espécie. Um exemplar pode ser seu após um clique ou pedindo um pelo correio. Veja como em https://invasoras.pt/pt/gestão-de-plantas-invasoras.
Mais informação:
Sobre as acácias: https://invasoras.pt/; https://invasoras.pt/pt/especies-invasoras-portugal
Projetos de ciência cidadã: https://www.biodiversity4all.org/projects/invasoras-pt e https://www.biodiversity4all.org/projects/trichilogaster-acaciaelongifoliae-in-iberian-peninsula
Contacto:
Hélia Marchante – hmarchante@gmail.com; 934244614