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Diretor: Paulo Menano

Bolo Podre: o que nos resta de uma Páscoa normal


Das várias tradições gastronómicas portuguesas, surge na Páscoa o Bolo Podre, pão de cor exterior castanha, um interior amarelo e uma textura fofa com alguma humidade.

Esta maravilha gastronómica, surge pela primeira vez mencionada no “Livro de Cozinha” da Infanta D. Maria de Portugal (manuscrito de finais do séc. XV), onde é referida uma receita de biscoitos que muito se assemelha à receita do Bolo Podre. Por imposição dos tempos não levava ovos, apenas vinho branco e água-de-flor-de-laranja.

O Bolo Podre, ou Bolo de Azeite, ou Trigo Amarelo, é um bolo de azeite, pouco doce e a sua confeção é semelhante à do pão. Conserva-se sem grandes cuidados, durante cerca de dez dias, e por isso se conta que era confecionado na altura da Páscoa, na zona do Montemuro, e no concelho de Castro Daire.

Este manjar, de forte tradição familiar, é confecionado artesanalmente com ovos, farinha, azeite, fermento, banha de porco, açúcar, canela e em alguns lugares, leva também um copo de aguardente e uma pitada de sal.

Como manda a tradição católica, pelas aldeias de Castro Daire, o Trigo Amarelo, deve ser amassado na semana anterior à Páscoa, para que possa ser servido ao Senhor Abade, quando este for “tirar o folar” em dia de Ressurreição de Cristo.

A masseira tem de estar preparada para os longos murros que leva a massa, porque dizem os antigos, que tem de descolar da mão, para o bolo ficar com a textura fofinha no interior.

Em 2010, o Bolo Podre foi levado para mais longe, pela Confraria do Bolo Podre e Gastronomia do Montemuro, promovendo a venda e degustação deste doce regional, e particular da Beira Alta.

Os anos mudam, e as tradições vão-se adaptando, mas nunca são deixadas em esquecimento. Em Castro Daire, o forno continua a ser aquecido com lenha de giesta e carqueja e a cruz continua a ser desenhada na massa, em todas as casas do concelho, porque não vá o ar passar no pão, e o bolo ficar “mono”.