
Covilhã: O Santo da Minha Aldeia no Museu de Arte Sacra
Periodicamente, o Museu de Arte Sacra expõe “O Santo da Minha Aldeia”.
Um projeto que visa extravasar o espaço expositivo, dando a conhecer um importante acervo histórico e artístico, maioritariamente ignorado, depositado quase sempre em pequenas ermidas. São imagens, relicários, alfaias litúrgicas, retábulos, entre outros objetos que permitem compreender a religiosidade de uma comunidade e a sua própria essência.
Estas peças são expostas temporariamente no Museu de Arte Sacra e o seu culto alvo de minuciosa análise, colocando em evidência aspetos tangíveis e imateriais necessários à construção de identidades e micro-histórias.
Até ao dia 30 de agosto, a peça em destaque no Museu de Arte Sacra é uma escultura de São Domingos (festa litúrgica: 8 de agosto), proveniente da capela com a mesma invocação em São Domingos – Vila do Carvalho.
Trata-se de uma escultura setecentista. Esta imagem, restaurada recentemente, mantém algumas das caraterísticas barrocas originais. O Santo que tem olhos de vidro, apresenta-se de frente, envergando o hábito da Ordem Dominicana por ele fundada. O hábito é composto por túnica talar branca e escapulário da mesma cor. Manto negro com motivos fitomórficos dourados, capa e capuz de cor negra. Na mão direita segura uma cruz e na esquerda um livro alusivo à criação da Ordem (Regra), mas que no caso concreto surge com a inscrição “observa a lei do Senhor e serás feliz eternamente”. Aos pés surge o principal atributo, um cão, animal que normalmente tem uma tocha ardente na boca, reporta-se ao sonho que a mãe de São Domingos teve quando se encontrava grávida.
Sonhou que um cão incendiava o mundo. Este aspeto foi associado aos frades da ordem que espalharam ardentemente pelos quatro cantos do globo a pregação de Cristo.
O culto de São Domingos mantém-se no local onde existe a atual capela, pelo menos desde 1320. Naquela zona, considerada ainda arrabalde da Covilhã, existia a igreja medieval de São Domingos, taxada na época em 50 libras. Para que se tenha noção deste valor, este encontrava-se a meio da tabela das igrejas da Covilhã taxadas em 1321.
Também aqui se encontram alguns interessantes aspetos da religiosidade popular como o roubo da telha. Refere-se a ela Jaime Lopes Dias “Diz ele que, no Teixoso (Beira Baixa), «curam-se as maleitas, roubando, sem o dono dar por isso (condição indispensável), uma telha de qualquer telhado e levando-a à capela de S. Domingos, de Aldeia de Carvalho»”.
Muitos dos habitantes de Vila do Carvalho e redondezas recordam ainda com nostalgia, no dia da festa de São Domingos, o subir ao mastro de sebo. Tal prática traduzia-se na difícil escalada de um mastro ensebado o qual ostentava no topo um peixe de bacalhau.