
Entrevista a Márcio Silva, treinador do campeão distrital CD Gouveia
Márcio Silva é o timoneiro do Clube Desportivo de Gouveia, tendo liderado o clube à conquista do campeonato distrital e ao regresso ao Campeonato de Portugal na próxima temporada. Em entrevista exclusiva ao MaisBeiras Informação, o técnico falou sobre uma época de sonho, sobre o projeto que está a ser desenvolvido no clube a longo prazo e também do futuro e do que ainda está para vir.
A ligação ao Gouveia vai ganhando anos e principalmente uma ligação afetiva entre treinador e clube que cada vez mais se sente mesmo para o exterior? Como descreveria essa ligação que o une ao CD Gouveia?
Não sendo da cidade nem do concelho de Gouveia, sinto o clube de forma incondicional como qualquer Gouveense. Existe uma relação de confiança. O Clube Desportivo de Gouveia, proporcionou-me todas as oportunidades e acreditou em mim desde o primeiro dia. Estou muito grato por poder retribuir! É o clube certo para desenvolver um trabalho profissional e produzir futebol. Aliado a isto, é o clube mais representativo da região, o que faz com que o grau de responsabilidade seja elevado.
O ano passado teve aquela que costuma ser chamada a experiência de uma vida, ainda com 34 anos treinar o CD Gouveia no Campeonato de Portugal? Como foi essa experiência? Encontrou mais dificuldades do que as esperadas? Aprendeu muito também certamente?
“Vivemos numa aprendizagem constante”. Sou uma pessoa consciente. Apesar de entendermos que estamos preparados e prontos para toda a demanda de um profissional, vamos sempre aprender algo novo. Onde poucos acreditam, eu vejo uma oportunidade. No que diz respeito ao desenvolvimento individual, o próprio contexto obrigou-me a desenvolver capacidades evolutivas, estratégicas e organizacionais. Foi um ano de constante evolução e partilha de experiências. Conheço bem a serie (Norte), onde fomos colocados. Na minha opinião é série mais competitiva do CP, constituída por equipas com estruturas profissionais, com outa capacidade financeira e com outros argumentos.
Este ano aceitou o desafio de continuar no clube para tentar vencer o campeonato distrital e voltar a subir aos nacionais. O que o levou a essa continuidade? Eram logo de início esses os objetivos: o título e a subida?
Nunca foi colocada em causa essa possibilidade, nem tinha como não continuar. Estamos a desenvolver um projeto cada vez mais sólido e mais forte, com entendimento do que é futebol. O nosso staff é muito forte e com uma visão inovadora. A missão passa por valorizar atletas, formar a ganhar e por consequente a valorização do CD Gouveia. Atualmente sou um treinador de projeto e para projetos. Estamos a crescer no sentido de melhorar e desenvolver todas as áreas, para produzirmos cada vez mais e entregar resultados para sermos uma referência. Naturalmente a exigência e a essência do CD Gouveia, passa sempre por vencer. Foi uma época perfeita, com a conquista do campeonato, da taça e pela valorização que os nossos atletas obtiveram. Alguns deles acabaram por sair para outros contextos de forma valorizada, levando o nome do Desportivo ao mais alto nível.
A equipa chegou a estar a disputar por largas jornadas o primeiro lugar de forma muito acesa com vários adversários, com uma proximidade considerável até ao sétimo O distrital está a ficar cada vez mais forte e competitivo como vem sendo referido por muitos? Embora tenham depois acabado com uma vantagem considerável, notou isso na prova?
Foi um campeonato equilibrado. O nível competitivo foi mais evidente em relação aos anos anteriores, apesar de achar que precisamos manter essa competitividade de forma mais regular para os anos seguintes. A primeira volta do campeonato acabou por ser mais competitiva, as equipas tinham aspirações e a diferença pontual fazia com que todas elas acreditassem. Seguimos sempre com a mesma identidade de trabalho e máxima confiança. Nunca olhámos muito para a tabela, as coisas tinham de acontecer naturalmente, era uma questão de tempo! Nos momentos decisivos demos passos importantes para a concretização dos objetivos. Fomos a equipa mais regular da prova, com o melhor registo de ataque e melhor defesa. Respeitámos sempre todos os adversários, sem desvalorização e sem olhar para a posição que ocupavam. Sabíamos que eramos uma motivação extra quando nos defrontavam.
Que análise faz da temporada que culminou com a conquista do campeonato distrital várias jornadas antes do fim?
Teve um sabor especial, o nosso plantel era muito jovem e ganhar dessa forma só demonstra a qualidade do nosso trabalho. Ainda assim, mantive sempre os pés assentes na terra. O futebol é de momentos e o que ganhámos já passou. Foram títulos muito importantes numa época perfeita, para a afirmação do CD Gouveia com um projeto diferenciado e vencedor. Não deixa qualquer margem de dúvidas a conquista do campeonato, da taça e a valorização que os nossos atletas obtiveram. Isto, num ano especial em que o Clube assinala 60 anos.
Que significado teve a conquista da “Dobradinha”? Foi difícil preparar a final?
O clube já não conseguia a dobradinha desde 2014. A seguir á conquista do campeonato passou a ser prioridade preparar a final. Fomos gerindo os atletas com mais sobrecarga, para poderem chegar bem a nível emocional e físico. Depois de uma época exigente e com muitos jogos, foi importante essa gestão e direcionar o foco só para esse jogo. Acabou por ser fácil fazer com que os atletas mantivessem o foco, para além de serem muito jovens, são extremamente competitivos e ambiciosos.
Por último e falando de formação e de futuro, a equipa de juniores do clube está a dar cartas na II Divisão Nacional de Sub-19, mostrando ser um projeto promissor. É este também um dos grandes objetivos, aprimorar a formação, dar condições a estes jovens para crescerem e começar a formar para a equipa sénior? Como analisa esse projeto dos juniores que vem correndo tão bem? Para além disso nota-se perfeitamente a qualidade do trabalho desenvolvido quando vários destes jovens que trabalham também já nos seniores têm dado o salto para patamares superiores. É também um orgulho fazer parte desse processo de crescimento?
O melhor deste trabalho é fazer crescer jogadores. O futebol é um projeto que pode mudar pessoas, vidas e gerar oportunidades para muitos que talvez não teriam outra oportunidade na vida. Hoje o jogador jovem é um potencial alvo de mercado, há mais oportunidades. O nosso papel passa por aconselhar os atletas a continuarem os estudos e terem um plano B, para além do futebol. Procuramos que sejam estudantes exemplares, de forma a conseguirem conciliar o futebol e a escola. Torna-se gratificante acompanhar o desenvolvimento diário dos jovens. Nesta área o Projeto Europa tem um papel fundamental, no acompanhamento aos atletas e à gestão da sua vida social. A equipa de Juniores tem feito um trajeto fantástico em todo campeonato. Na primeira fase, disputou até à última jornada os dois primeiros lugares que garantiam o acesso à fase de subida. Com mais um pouco de felicidade e outros fatores teríamos conseguido. Atualmente ocupamos a primeira posição, que demonstra e espelha bem, todo o trabalho desenvolvido pela equipa técnica.
Para que estes jovens possam ser bem sucedidos nos seniores a nível de Campeonato de Portugal, o contexto competitivo de um nacional de juniores pode ser essencial para o garantir? O campeonato Nacional de Juniores tem atletas com grande potencial e que podem servir perfeitamente para o Campeonato de Portugal. Naturalmente que o fator relacionado com a experiência e com a transição para o futebol Sénior, possa pesar, mas é necessário que as oportunidades sejam dadas para projetarmos outros talentos. Não podemos ter medo de dar essas oportunidades e de os fazer crescer.
Não fazendo obviamente compromissos de futuro deste já, há vontade de continuar no projeto e novamente nos nacionais num regresso tão ambicionado?
Sou ambicioso. A vontade de continuar, continua a ser a mesma desde o meu primeiro ano em Gouveia. Tenho a noção que é uma realidade diferente, onde só por si a qualidade do trabalho não chega. Todos os clubes têm boas estruturas, trabalham bem, a competitividade é enorme, já para não falar na diferença dos orçamentos. Será mais um desafio. É muito melhor arriscar, sair da zona de conforto para alcançar novos êxitos e novas experiências, mesmo expondo-se. Quando chegar esse momento, vou estar pronto para o desafio.