Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Entrevista com Marco Santos, selecionador distrital de sub-15


Em entrevista ao MaisBeiras Informação, o atual selecionador distrital de sub-15 em futsal da Guarda analisou o último Torneio Interassociações deste escalão, onde a equipa do distrito da Guarda deu nas vistas e conseguiu uma excelente performance, vencendo todos os jogos em que participou. Uma entrevista onde se fala de presente e de futuro do futsal de formação no distrito.

 

A prestação da equipa de sub-15 no Interassociações tem recebido muitos elogios. Como olha para esse reconhecimento do trabalho realizado por si e pelos seus atletas?

R: Quero desde já agradecer este convite do MaisBeiras e ao mesmo tempo, dar-vos os parabéns pelo trabalho realizado em prol do desenvolvimento do desporto no nosso distrito. Quanto à pergunta, são sem dúvida meritórios todos os elogios que esta seleção tem recebido, foi uma prestação muita positiva dos miúdos num contexto competitivo super exigente e o reconhecimento dessa prestação é apenas mais um prémio para todos os que tiveram envolvidos nesta preparação.

Que análise faz à sua equipa e à participação no torneio?

R: Foi uma prestação muito positiva, acima até daquilo que era expectável, porque para além das quatro vitórias em quatro jogos os números que ficam são impressionantes, marcamos 41 golos e sofremos apenas 9, o que dá uma média de pouco mais de 10 golos marcados por jogo, que nos permitiu sair de S. João da Madeira como o melhor ataque do torneio. Estes números são claramente um indicador da qualidade da equipa e da forma como os atletas interpretaram todos processos que trabalhamos. Convém referir que este processo é continuo e nesta seleção tivemos a vantagem de ter uma base forte do ano anterior, o que nos permitiu fazer uma preparação diferente relativamente a outras seleções que tivemos, pois muitos dos miúdos já estavam identificados com o tipo de trabalho realizado neste contexto de seleção, e tiveram a facilidade de se adaptar melhor a um processo muito mais vertiginoso, que aquele que é utilizado nos clubes, isto porque aqui os miúdos têm que assimilar muita informação em  poucas unidades de treino. Em jeito de conclusão, dizer que esta foi sem dúvida das melhores prestações em Interassociações, desde que eu sou selecionador distrital.

Será esta uma geração de jogadores do distrito a ter em conta nos próximos anos e a acompanhar atentamente na sua progressão conjunta?

 R: Esta geração não se pode resumir apenas aos 12 atletas presentes que foram escolhidos por mim para representar a AF Guarda neste torneio, foram 12 de um total de 43 atletas disponíveis neste escalão e serão sem dúvida todos eles juntamente com os restantes atletas da formação, o futuro da modalidade no nosso distrito. Contudo espero sinceramente que com o passar dos anos este número aumente, pois seria uma mais valia para o crescimento da modalidade a todos os níveis.

Acredito que seja desafiante trabalhar com jogadores destas idades. Quais são os principais desafios e especificidades?

R: Sim é um trabalho desafiante e ao mesmo tempo aliciante, são miúdos que estão numa fase em que toda a informação é absorvida, seja ela errada ou correta e como tal todos os agentes que estão envolvidos neste processo têm um papel preponderante nos comportamentos a adotar. Mas convém referir, que os maiores desafios são os clubes que os têm, pois são eles que nesta fase inicial dos miúdos na modalidade, têm a responsabilidade de os formar enquanto homens e atletas, pois é lá que eles treinam semanalmente. No meu caso em específico, neste contexto de seleção distrital, o maior desafio é transmitir aos miúdos, quais os valores e objetivos associados a um processo, que tem como finalidade a chegada deles as seleções nacionais. É um processo que tem de ser feito em conjunto com os clubes, pelo que, é cada vez mais importante a comunicação entre ambas as partes, para dessa forma conseguir-mos fazer com que o processo evolutivo dos atletas seja feito de forma sustentada com o claro objetivo de os potenciar para outros patamares.

Um selecionador distrital tem sempre inevitavelmente pouco tempo para preparar a sua equipa para estes torneios e provas. Quais são as estratégias para conseguir montar estratégias num espaço tão curto de tempo?

 R: O principal objetivo das seleções distritais é potenciar atletas para as seleções nacionais. Como tal existe uma linha orientadora que, numa primeira fase visa o trabalho individual do atleta, corrigindo-lhe ações em função dos fundamentos que jogo lhes pede e só depois partimos para planos estratégicos. Eu relativamente aos clubes tenho a vantagem, de trabalhar apenas com os melhores e isso também ajuda na preparação. Contudo e como já referi é uma preparação vertiginosa que obriga os atletas a estarem focados na informação que lhes é transmitida, felizmente hoje em dia já temos plataformas digitais que nos permitem ajudar os atletas a compreender melhor a informação que queremos transmitir e com isso colmatar a falta de tempo que dispomos. Atualmente estamos a desenvolver um modelo de jogo para as seleções, de forma a que os clubes tenham acesso, e não tenho dúvida que essa estratégia de cooperação entre ambas as partes, fará com que futuramente os atletas apareçam neste contexto de seleção mais identificados com aquilo que pretendemos.

Considera que esta realidade de seleção distrital e de competição contra outras seleções distritais é fundamental para o crescimento destes jogadores? Saírem da bolha de campeonatos distritais muitas vezes com poucas equipas ou pouco competitivos e terem esse acréscimo enorme de competitividade nestas provas? 

R: Competir no interassociações é sem dúvida uma mais valia para todos os atletas, porque estão envolvidos num contexto competitivo onde estão presentes os melhores atletas de futsal a nível nacional do seu escalão e só isso já é um fator que os obriga a crescer enquanto atletas, porque quando se compete com os melhores a probabilidade de ser melhor é muito maior.

Por falar em campeonatos distritais de poucas equipas, esta é uma realidade comum à Guarda e a outros distritos de baixa densidade. Como olha para este que é já um problema para o futuro do desporto distrital: poucas equipas por escalão, campeonatos que acabam por ter vencedores anunciados logo à partida dada essa gigante discrepância?

 R: Quando eu iniciei os trabalhos na AF Guarda na qualidade de selecionador distrital, foi no ano em que pela primeira vez tivemos campeonatos em todos os escalões de futsal. Daí para cá em alguns escalões temos aumentado o número de equipas e em alguns infelizmente temos diminuído, fruto claro da nossa baixa densidade populacional. Contudo e porque sabemos que o futsal ainda continua o parente pobre do futebol, sabemos que vamos ter essa luta árdua durante mais uns tempos e como tal, nós agentes do futsal temos cada vez mais a responsabilidade de transmitir aos miúdos nas escolas que a opção pela futsal no nosso distrito é a melhor opção, para com isso tentarmos a cada ano que passa um aumento substancial de atletas. Relativamente aos vencedores anunciados como referiu, eu já não partilho dessa opinião, porque cada vez mais os clubes trabalham melhor e de forma mais organizada, o que tem permitido um equilíbrio maior nos campeonatos. E a prova disso mesmo é que o campeão de sub 19 foi o SC Sabugal, o campeão de sub 17 foi o GD Sameiro, o campeão de sub 15 foi a GDR Lameirinhas e o campeão de sub 13 foi o ED Carlos Franco, ou seja nenhum clube consegui-o ser campeão em 2 escalões diferentes. Este pormenor revela que a discrepância de uns para outros já não é assim tão grande como era há uns anos atrás.

Como podemos nós chamar novamente os jovens para a prática desportiva? Olhando mais a fundo para a realidade atual, quais são os problemas que estão a levar também a isto e como o podemos resolver?

R: Não tenho qualquer dúvida que os principais culpados pela falta de praticantes nas várias modalidades, são os agentes envolvidos, desde os desportivos aos políticos. Enquanto não nos mentalizarmos que para sermos competentes e competitivos, temos de proporcionar aos praticantes condições para eles se desenvolverem e se essas condições não existirem, dificilmente seremos exigentes competitivamente. O que, no geral se resume como falta de exigência competitiva e sem ela dificilmente cativamos ativos. Para finalizar e em modo reflexivo, deixo apenas uma questão? Se nós, potenciarmos os ativos que temos, não teremos os mesmos resultados dos outros? Eu pessoalmente acredito que sim e o melhor exemplo disso mesmo foi este Interassociações onde com muito menos recursos que outros conseguimos obter excelentes resultados e ao mesmo tempo valorizar os nossos ativos ao ponto de serem chamados a seleção nacional. Mas o caminho faz se caminhando e o objetivo no futuro passa claramente por haver uma interação maior entre todos os agentes envolvidos, para cada vez mais aumentarmos o número de praticantes e com isso elevarmos o nome do nosso distrito no panorama nacional da modalidade.