Entrevista com Rogério Afonso, treinador do SC Mêda

Rogério Afonso é treinador dos seniores do SC Mêda há vários anos e acumula também a função de coordenador técnico do clube que é neste momento líder da II Divisão Distrital e detentor em título da Taça Distrital. Em entrevista exclusiva ao MaisBeiras, o técnico fala sobre a temporada atual, os objetivos e a ligação especial a este clube onde já atingiu vários feitos nos últimos anos.

Depois de uma temporada sem participar devido à pandemia, a equipa recomeçou o seu percurso na II Divisão Distrital. No ano passado a equipa falhou a subida por apenas 1 ponto. Foi duro terminar tão perto do grande objetivo?

Desde já quero agradecer o convite e dar os parabéns pelo trabalho realizado, nem sempre é fácil trabalhar nestes meios. Quanto à pergunta, custa sempre chegar ao final da época e não atingir o objetivo principal. Mas quero realçar que na época Covid-19, subimos ao Campeonato de Portugal, pelo segundo ano consecutivo. No entanto a direção achou que não estavam reunidas as condições para participar no mesmo e tomou a decisão de não entrar no Campeonato da 1.ª Divisão Distrital, tendo em Consideração a saúde publica.

Que análise faz à última temporada? É que a equipa falhou a subida mas estando na II Divisão acabou por conquistar a taça distrital e mostrar a sua força. Foi um misto de sensações e emoções? Era um título também importante para a história do clube, conquistá-lo pela primeira vez?

Considero que foi uma época positiva, referir que o principal objetivo era a subida. Mas a conquista da Taça Distrital da 2: ª Divisão, e principalmente pela conquista da Taça de Honra, que muito nos orgulhou. Demonstrámos todo o potencial da nossa equipa, apesar de competir na 2.ª Divisão, veio ao de cima todo a qualidade individual e coletiva.

A equipa manteve para este ano grande parte do plantel e reforçou-se apenas em posições chave. Foi o reconhecer de que se fez muito de bom na época passada e que havia que dar continuidade para ter resultados positivos?

A nossa base já vem de anos anteriores, com alicerces na nossa formação. Do plantel de 15 Jogadores (Só dois atletas não passaram na nossa formação). Encurtamos o plantel Sénior para abrir espaço aos jogadores da equipa Júnior. Esta época já estreamos 7 jogadores juniores e 1 juvenil. Neste momento estamos a colher os frutos do trabalho realizado nos escalões de formação.

As participações que a equipa tem tido na Taça de Portugal não têm sido fáceis, diante de adversários de maior craveira e com mais orçamentos. Há esse sonho de poder começar a dar cartas na prova e viver aquele sonho que a Taça de Portugal possibilita às equipas dos escalões mais abaixo?

A nossa realidade não permite sonhar acordado, são “mundos” muito distantes, ainda mais quando nos calha em sorte, equipas credenciadas como o Gondomar, Beira Mar. Vou dar o exemplo desta época, o nosso Campeonato iniciou a 16 de Outubro, nós começamos a trabalhar no inicio de Setembro (a um Mês e meio antes). Mesmo assim chegamos ao jogo da Taça de Portugal com 6 treinos e 2 Jogos. O nosso adversário (Beira Mar) já tinha 30 treinos e 10 Jogos, com agravante de jogar dois escalões acima. Sem desculpas, mas esta é a realidade.

A equipa lidera neste momento a II Divisão de forma destacada. É um objetivo definido a 100% por todos: a subida e a conquista do campeonato?

Sim, o foco total é a subida de divisão e a conquista do campeonato, não pode haver distrações. Um clube com a dimensão e a história do SPG. C. MÊDA, não pode perder mais tempo, tem que regressar o mais rápido possível ao patamar superior, foi feita uma estimativa por parte da AF GUARDA das últimas classificações de todos os clubes, e o 1.º Classificado foi o SPG. C. MÊDA.

É também um objetivo a reconquista da Taça novamente?

Também temos essa pretensão, mas o foco essencial é o campeonato. Mas vamos tentar a dobradinha.

É especial treinar um clube onde também esteve tantas temporadas como jogador?

Muito mesmo, sem dúvida o clube do coração, depois de passagens por Mirandela, Chaves, Montalegre, Fôz Coa e Souropires. Fixar-me na Mêda, onde constitui família e puder fazer aquilo que mais gosto, primeiro jogar e agora treinar. Quero também realçar que a minha atividade não se cinge só a treinar a equipa sénior, acumulo a função de COORDENADOR TÉCNICO, de todos os escalões de formação e recreação, juntamente com um corpo Técnico fantástico desde os petizes até aos juniores. Estamos a falar de uma envolvência de mais de 100 atletas. Neste momento somos uma entidade formadora 3 estrelas, certificada pela Federação Portuguesa de Futebol.

São já várias temporadas a comandar o Mêda. Quais são os momentos que destaca até agora que foram mais especiais nessa caminhada e porquê?

Especiais muitos, mas aprendi mais com os fracassos do que com as conquistas. Mas enumero as seguintes, Conquista do Campeonato Distrital da 1.ª Divisão de Seniores, Vencedores da Taca de Honra em Seniores, Conquista do Campeonato Distrital de Juvenis, subida ao Campeonato Nacional de Iniciados e a Certificação da nossa formação com 3 estrelas.

Ao longo deste percurso que já percorreu como treinador existem pessoas que o marcaram de forma especial? Jogadores, outros treinadores, dirigentes que foram especiais para chegar onde está hoje?

Muitas mesmo, saí da minha aldeia com 13 anos, à procura de um sonho. Felizmente cruzei com gente boa e de muito coração, e fui bebendo de boas práticas, não vou “escrever” nomes, pois posso esquecer-me de alguém especial e não quero correr este risco. Acredito que o futebol é muito mais de chutar a bola para a frente, temos de preparar o futuro das nossas gerações. Não podemos absorver esta pressa que a nossa sociedade nos consome e passá-la para os nossos atletas, principalmente os mais novos. Vamos deixar de formatar as crianças e deixá-las serem crianças, num mundo dos adultos cheios de pressa. obrigado