Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Entrevista com Rui Pelejão, candidato à Câmara Municipal do Fundão


Rui Pelejão, independente que se apresenta pelo PS à presidência da Câmara Municipal do Fundão, em entrevista ao Mais Beiras Informação. Com uma visão humanista da política, o candidato aposta na coesão, no combate à desertificação e na valorização da qualidade de vida como pilares da sua candidatura. Defende ainda uma mudança tranquila mas corajosa, e propõe um Fundão mais justo, cuidado e atrativo para todas as gerações.

1 – Quais os motivos da sua candidatura a estas Autárquicas e quais os pilares da mesma?

Candidato-me como independente e sem filiação ou militância política porque acredito que vivemos numa época em que os cidadãos empenhados devem dar um passo em frente e fazer da política o desígnio e a ferramenta para a melhoria da qualidade de vida de todos.

Considero que pela proximidade e pela ação concreta, a política autárquica é um bastião da democracia e da liberdade. Nesse sentido, considero que poder trabalhar com alegria e seriedade para melhorar a vida dos fundanenses é a única motivação política que tenho.

Temos como objetivo tornar o Fundão o concelho com melhor qualidade de vida do interior de Portugal. Há potencial humano e massa crítica para cumprir essa ambição. Haja vontade e união em torno desse objetivo.

A demografia e a desertificação do concelho, que perdeu mais de 20 por cento dos habitantes nos últimos 20 anos, continuam a ser o problema central de desenvolvimento. Para melhorar a qualidade de vida é preciso mais e melhor economia. Só com trabalho e perspetivas de carreira é possível fixar e atrair famílias. Atrair empresas de indústrias que precisem de mão de obra mais qualificada, mas também apoiar e melhorar o contexto das empresas do Fundão para crescerem e poderem criar mais e melhor emprego.

Só assim será possível trabalhar em todas as frentes que constroem a qualidade de vida de um lugar, seja ele a cidade do Fundão ou cada uma das suas 23 freguesias que devem ser tratadas com justiça, carinho e equidade no acesso a bens e a serviços.

Serviços e respostas melhores no domínio da Saúde, da Ação Social, dos Transportes, da Educação. Como é possível travar a batalha da demografia se não temos vagas nas creches para todas as crianças do concelho?

O Fundão só será atrativo para quem queira ficar ou para quem se queira mudar para cá se tiver oferta na habitação, se os espaços públicos forem bem tratados, se tiver mais espaços verdes, de desporto e de lazer; se apoiar a parentalidade e a infância, e se cuidar melhor dos nossos seniores. Mas também se oferecer cultura e entretenimento para todos os públicos e em particular os jovens; se tiver um associativismo forte e independente; se criar autoestima, identidade. Acredito no Fundão como terra de oportunidades, um lugar onde seja possível nascer, crescer, viver, criar e investir.

“Acredito num Fundão onde se possa nascer, crescer, viver, criar e investir. É esse o futuro que me move e que quero construir com os fundanenses.”

 

2 – O que considera ter de diferente relativamente aos outros candidatos?

Considero que a minha experiência profissional como jornalista, gestor, empreendedor e profissional de televisão me deu uma ampla visão do mundo e a humildade necessária para saber escutar, que são duas características importantes para o cargo a que me candidato.

O meu trabalho no “Jornal do Fundão” nos últimos 8 anos foi ouvir muita gente, conhecer bem o concelho, as freguesias, as pessoas. Por vezes, o exercício prolongado do poder retira discernimento e reduz a capacidade de autocrítica que é essencial para podermos fazer um pouco melhor todos os dias. Como diz aquela célebre frase de José Saramago, “é preciso sair da ilha para ver a ilha”.

Acredito que ao contrário de alguns candidatos, que vivem como donos da ilha à demasiado tempo, tenho a perspetiva necessária para fazer mais e melhor para o Fundão. Quero liderar pela inspiração e pelo exemplo e não pelo medo, pela pressão do poder ou pelo “respeitinho”.

Não sou político de carreira nem um tecnocrata, sou um humanista e penso que a política precisa de mais humanismo e empatia. Não sou contra ninguém, sou pelo Fundão.

“Por vezes, o exercício prolongado do poder retira discernimento e reduz a capacidade de autocrítica que é essencial para podermos fazer um pouco melhor todos os dias”

 

3: Quais os setores/áreas/investimentos que considera importantes impulsionar ou melhorar o município?

Estamos a construir um programa que contempla os vários ciclos de vida, desde a infância à velhice. Queremos um Fundão que cuide e que esteja atento às necessidades de todos. Todos os investimentos prioritários serão feitos sob esse desígnio – cuidar das pessoas. Cuidar das pessoas é cuidar da sua saúde, cuidar da sua educação, cuidar da habitação e dos espaços públicos, cuidar das acessibilidades e da mobilidade, cuidar da natureza e da floresta, cuidar da água, cuidar das infraestruturas essenciais para a sua qualidade de vida. Cuidar das pessoas é também combater o isolamento, a pobreza, a exclusão social, as desigualdades. Cada euro de investimento público conta, sobretudo numa das câmaras mais endividadas do país. Cada euro gasto será avaliado no impacto que tem sobre a qualidade de vida das pessoas. Se não tiver impacto não se continua a gastar numa política falhada, como tantas vezes acontece, por orgulho ou teimosia.

“Queremos um Fundão que cuide e que esteja atento às necessidades de todos. Todos os investimentos prioritários serão feitos sob esse desígnio – cuidar das pessoas.”

 

4 – Qual a análise que faz aos últimos quatro anos do município?

Foi um mandato bipolar. Bipolar porque por um lado foram alcançados ou pelo menos lançados alguns projetos estruturantes para o desenvolvimento do concelho, nomeadamente no que diz respeito à habitação, ao ordenamento do território com o novo PDM ou às políticas de inovação e de acolhimento.

Por outro lado, mantêm-se debilidades fortes em domínios como a mobilidade e transportes, a conservação ou requalificação de espaços públicos, o lamentável estado das estradas e acessos, a reforma administrativa e a transformação digital dos serviços municipais, a otimização dos recursos humanos, o fraco investimento nas freguesias, a invisível política de turismo, a comunicação com os munícipes (que é mera propaganda eleitoral permanente). Enfim, há uma série de áreas importantes que precisam de ser urgentemente melhoradas.

Bipolaridade também sentida no ambiente de crispação e clivagem política que se viveu neste mandato entre os agora candidatos do PSD e vereadores subitamente independentes que ao longo dos últimos anos fizeram dos seus respetivos pelouros permanentes palcos de campanha pré-eleitoral. Na sua metade final, este mandato foi um autêntico grito de fim de ciclo a pedir urgentemente uma mudança tranquila e corajosa para que se possa fazer diferente e melhor.

“…este mandato foi um autêntico grito de fim de ciclo a pedir urgentemente uma mudança tranquila e corajosa para que se possa fazer diferente e melhor.”

 

Falando de um município localizado num concelho situado no Interior, que políticas acredita serem necessárias implementar pelo Governo para diminuir o despovoamento e a desertificação desta região? O que pode inverter este rumo ou onde estão as potencialidades de crescimento?

Ao longo das últimas décadas atiram-se alguns milhões para o interior em nome da coesão, muitas vezes com reduzida eficácia.

Penso que é tempo de haver um verdadeiro pacto de regime que coloque a coesão territorial como um desígnio nacional urgente. A começar pela governação e autodeterminação. Portugal continua a ser dos estados mais centralistas da Europa. A regionalização é o modelo necessário para que o Estado Democrático se defenda das quimeras populistas com respostas reais aos problemas das pessoas.

Com a regionalização caberá à região saber onde se deve investir para que o interior seja competitivo e atrativo. Temos de diminuir os custos de contexto, ter uma fiscalidade que discrimine positivamente a criação de riqueza, de postos de trabalho, de conhecimento.

Só fortalecendo a economia e as empresas do interior se conseguirá combater a desertificação. Não nos podemos deixar render ao estatuto de menoridade, a ser apenas uma espécie de “reserva extrativa” de onde vem a água, a madeira ardida, o lítio, a energia eólica e a fotovoltaica.

O interior de Portugal pode ser um lugar excelente para viver com maior qualidade de vida e com habitação acessível, haja economia e empregos, a começar pelos do Estado que estão todos concentrados em Lisboa. Quando mais uma vez se fala em reforma do Estado, devia começar-se por aí

“Com a regionalização caberá à região e não à Europa ou ao Terreiro do Paço saber onde se deve investir para que o interior seja competitivo e atrativo.”