“Jogar areia nos olhos”, por que é uma tática política tão popular?
Todos concordam com o filósofo alemão Kant quando diz o seguinte: que não há desculpas para não se dizer a verdade. O facto é todos têm a perceção/intuição.
O que é a verdade? No imediato é a conformidade da ideia com o objeto, do dito com o feito, do discurso com a realidade.
No que consiste a verdade? Na natureza de uma coisa, X é tradicionalmente concebida como o conjunto das condições necessárias e suficientes para que algo seja X, ou seja, como o conjunto das características que todos os Xis possuem e apenas os Xis possuem.
Se mentimos descaradamente e nos atiram constantemente areia para os olhos, então como podemos conhecer a verdade? Diz-nos Platão, no diálogo Teeteto, que a verdade é uma crença verdadeira e justificada em contraposição com os sentidos e a opinião.
Dizer o que não se pensa, não cumprir o prometido é o mesmo que frustrar a verdade.
Se na coisa pública nos mentem descaradamente, como podemos conhecer a verdade? Principalmente quando cegam os eleitores com dados, números duvidosos e respostas irrelevantes a perguntas diferentes e mais grave quando professam estar a dizer a verdade, há que saber qual o significado e função da palavra “verdade”? Ora, na coisa pública somos constantemente “bombardeados” com supostos portadores da “verdade” e o facto é que apresentam sempre motivos para agirem assim.
Segundo Maquiavel, toda a fanfarronice política, discurso é deliberado. Logo, indiciam decisões fundamentadas no atirar areia para os olhos, é como se não fosse de confiança e escondem algo do público. Será algo que é pior do que aquilo que julgamos? Será que gostamos de ouvir um político a falar verdade? Não ficaríamos horrorizados ao ouvi-lo e, por consequência, lhe retiraríamos o nosso voto.
O provável é eles dizerem-lhe o que se quer ouvir e, numa perspetiva socrática, os políticos pronuncia-se demasiadas vezes em vez de irem ao cerne da questão. E quando é um mau político é evasivo para esconder a sua ignorância. Se for um político mais ou menos sério dirá, com coragem, que não tem todas as respostas. Respondem a perguntas com mais perguntas e procuram encontrar lacunas para se manter popular. Expõem inconsistências, contradições dos argumentos do adversário e julgam tentar chegar à verdade. Agora a verdade pura e dura 1 + 2= 3 é que é um vade retro!
As declarações na política são sempre prováveis e nunca demonstrativas, não sabemos se são falsas ou verdadeiras. Se um governante lhe prometer algo e você não sentir o conteúdo no seu bolso, não sabe se é mentira ou verdade. A verdade na política é contingente e não necessária. Só existem verdades contingentes, dai serem verdades prováveis, ou seja, entra no mundo da probabilidade e só poucos a conseguem a confirmar. Logo, os políticos nunca falam a verdade e nem o quadrado lógico das oposições resiste à política do atirar areia para os olhos.
Carlos M. B. Geraldes, PhD