Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Autárquicas 21: Entrevista a Jorge Fael, candidato à Câmara Municipal da Covilhã, pela CDU


Após quatro anos de mandato, retomam agora as eleições para as Autárquicas 2021 e o Mais Beiras Informação decidiu ir ao encontro dos candidatos, colocando-lhes algumas questões, para que possam partilhar a sua visão e planos para o futuro do Município a que se candidatam. Jorge Fael é o candidato pela CDU  à Câmara Municipal da Covilhã.

 

Quais os motivos da sua candidatura a estas Autárquicas?

Quem sente os problemas e sabe que pode contribuir para um concelho melhor do que agora é, tem de estar disponível para o fazer no lugar onde esse contributo é mais eficaz. Por isso, decidi aceitar o convite para encabeçar a candidatura da CDU à Câmara Municipal.

 

O que considera ter de diferente dos outros candidatos, para se candidatar a este mandato?

Integro um projecto que faz da consigna Trabalho, Honestidade e Competência uma prática política. Quem nos conhece sabe que assim é. E sabe que os eleitos e activistas da CDU estão sempre na primeira linha de defesa da população, em particular da mais vulnerável, e no combate pelo desenvolvimento. Foi assim na luta contra a privatização do saneamento e da água, contra as portagens, contra a destruição de serviços públicos, a extinção de freguesias, em defesa dos trabalhadores, dos arrendatários, dos utentes dos transportes públicos. Diz-se que nas eleições locais são as pessoas que contam, como se o Poder Local e os seus responsáveis fossem neutros. Mas não é assim! Como escreveu Brecht: “Pergunta à propriedade: Donde vens tu? Pergunta às opiniões: A quem aproveitais?” Pela nossa parte reafirmamos que a cidade não é um negócio, as autarquias não são empresas e os cidadãos não são clientes! Não prometemos mundos e fundos! O que dizemos, cumprimos! Não abandonamos as causas justas, e sendo justas, os insucessos não nos desanimam, nem nos fazem desistir. Essa é também uma diferença entre a CDU e os outros!

 

Quais os setores que considera importantes impulsionar ou melhorar na região?

A região precisa de todas as actividades e de apoiar a base económica instalada. Necessita de uma política agrícola e florestal que privilegie a pequena e média produção, que valorize os recursos endógenos, que salvaguarde os solos agrícolas e a biodiversidade, recusando grandes áreas de monocultura intensiva; precisa de uma política de reindustrialização, com a valorização da transformação industrial da matéria prima regional e precisa de uma economia para as qualificações que produz, que aposte no conhecimento e nas novas tecnologias; e tem de dinamizar e potenciar o turismo sustentável.

 

Nestes quatro anos que passaram, o que faria de diferente relativamente ao executivo Camarário vigente?

Começaria por implementar uma gestão participada. Contar com a opinião das populações, das diversas entidades, dos trabalhadores do município é essencial para o acerto das decisões. Teria sido muito mais exigente e reivindicativo perante o poder central em matérias como o investimento público, a defesa dos serviços públicos, as acessibilidades e transportes – é inaceitável que os preços dos passes sociais continuem sem redução – e teria recusado a municipalização da saúde e da educação. Teria reforçado os apoios à população, aos micro e pequenos empresários, aos agentes culturais, no âmbito do combate à pandemia. Teria ido mais longe na redução da factura da água, das taxas e impostos que penalizam a população e na criação de condições tendo em vista a compra dos 49% do capital privado da Águas da Covilhã e o resgate da concessão do saneamento em «alta». Note-se que os Covilhanenses pagam o IMI mais caro da região, o saneamento em «alta» e a taxa de ocupação do subsolo mais caros do país!  E teria promovido um programa urgente de requalificação do espaço público.

 

Acredita que os recursos de que dispõe a Câmara são suficientes para fazer face às necessidades dos cidadãos que aqui residem?

As necessidades evoluíram, mas temos ainda problemas básicos por resolver. Os recursos aumentaram, mas são insuficientes. Continua, pois, a ser indispensável exigir mais meios, sobretudo num momento em que, fruto da pandemia, é provável uma redução de receitas, e num quadro em que a Lei de Finanças Locais continua a não ser cumprida. A título de exemplo, o valor do Fundo Social Municipal, que financia a educação, é o mesmo desde 2016(!).  Acresce que o município da Covilhã assumiu, com o nosso voto contra, mais competências na área da educação e da saúde, sem estarem garantidos os meios, nomeadamente financeiros, o que suscita fundadas preocupações. Para além dos financeiros, a Câmara tem meios humanos que deve valorizar e tem de combater o despesismo – extinguir a ICOVI, empresa municipal é um exemplo – gastar melhor, ser mais eficiente e assim libertar recursos para responder aos problemas da população, aproveitar as oportunidades e gerar mais riqueza.

 

Sendo um conselho situado no Interior, que políticas acredita serem necessárias implementar pelo Governo para diminuir o despovoamento e desertificação?

Na última década o distrito perdeu mais de 18 mil pessoas. A Covilhã perdeu 5. 344 residentes (-10,3%), consequência de um saldo natural e migratório negativos. É preciso inverter este rumo, antes que seja tarde demais. Mas não é com golpes de asa, como o incentivo ao teletrabalho, nem com projectos predadores da natureza e exploradores de mão-de-obra, como a exploração de lítio ou mega projectos turísticos na Serra da Estrela que se construirá um futuro sustentável. O que se exige não são medidas avulsas, mas uma estratégia de desenvolvimento. O que se impõe é concretizar a Regionalização, instrumento fundamental para combater as assimetrias; defender e promover a actividade produtiva, em especial a indústria, valorizar o trabalho e os trabalhadores, aumentando de forma significativa o salário mínimo nacional; reabrir os serviços públicos encerrados e reforçar o investimento na saúde, educação, justiça; implementar uma rede pública e gratuita de creches e jardins de infância; repor as freguesias extintas contra a vontade das populações; apostar numa boa rede de transportes públicos acessíveis, ecológicos; concretizar as vias rodoviárias em falta e apostar na ferrovia; eliminar as portagens nas ex-scut; dotar os territórios de conectividade; reforçar os meios financeiros da UBI.

 

Que medidas pretende implementar para captar investidores para o concelho?

Para além das mencionadas, é fundamental aprofundar a cooperação com a Universidade da Beira Interior; dinamizar o Parkurbis; arrancar com a 3ª fase do Parque Industrial do Tortosendo; estimular o investimento, isentar de derrama as empresas com volume de negócios inferior a 150 mil euros e criar um programa de apoio ao comércio local.

 

Como acha que deve a Câmara proceder, para procurar fazer face ao desemprego crescente na região?

Deve promover e apoiar tudo aquilo que qualifique as pessoas e o território; exigir e contribuir para valorizar o trabalho e os trabalhadores; organizar e potenciar as enormes capacidades e recursos existentes; exigir e reivindicar mais apoios e investimentos; em suma, implementar uma política económica de estruturação produtiva de criação de emprego.

 

Que conselho daria a um deslocado em busca de novas oportunidades no Interior?

Mais do que conselhos, dir-lhe-ia que aqui há memória, coragem, luta, determinação, enormes capacidades e potencialidades e que, onde há tudo isso, há esperança e confiança na construção de uma vida melhor!

 

Fernando Gil Teixeira