
Legislativas 2022: Entrevista a Cristina Guedes, do BE por Castelo Branco
Ao realizarem-se agora as eleições para as Legislativas 2022 o Mais Beiras Informação decidiu, nas suas próximas edições diárias, dar especial atenção às candidaturas. Cristina Guedes é a cabeça de lista do BE por Castelo Branco.
1. Quais as principais alavancas para o desenvolvimento do distrito?
O distrito de Castelo Branco sofre de problemas estruturantes e transversais aos territórios de baixa densidade populacional, o interior do país.
Consideramos que o reforço dos serviços públicos existentes e a devolução dos que já foram retirados é extremamente importante para o distrito. As pessoas precisam de saber que podem contar com um acesso adequado à saúde ou à justiça.
Se tivermos serviços públicos adequados às necessidades da população, esse será um dos principais motivos para fixar pessoas e desenvolver o distrito. Não há desenvolvimento sem pessoas.
2. Despovoamento e desertificação: Quais as medidas e/ou plano estratégico para combater estas duas realidades?
A desertificação é promovida pelas monoculturas, seja de eucalipto, seja agricultura intensiva e extensiva que necessitam de uma grande quantidade de água para se desenvolverem.
O despovoamento aparece por falta de condições de vida nos territórios de interior: serviços públicos que se vão embora ou que estão obsoletos, salários e condições laborais precárias e penalizações num território já “per si” penalizado, como é o caso das portagens que vai no sentido oposto à coesão territorial.
No fundo, esta pergunta está interligada com a primeira porque ambas são complementares, seja o desenvolvimento de um território, seja a reversão do despovoamento e da desertificação.
Para combater a desertificação, é necessário promover a diversidade florestal e apostar na floresta autóctone, inclusive, com apoios à sua implementação. Também é importante apoiar os pequenos e médios agricultores da região, já que são eles os verdadeiros promotores de um território saudável.
O despovoamento combate-se com medidas de fixação de população, entre elas e como já tinha dito: o reforço dos serviços públicos.
3. Qual será a vossa posição, quando no parlamento existirem votações, que ponham em causa o desenvolvimento do distrito e o partido seja contra? Vão seguir a ordem partidária ou votam a favor dessa proposta?
Sabemos que essa é uma prática comum nos deputados do PS e do PSD, mas de facto, consideramos esta atitude como enganadora já que estes deputados eleitos se candidatam com um Programa Eleitoral, programas que não contemplam a abolição das portagens, e não em nome pessoal. Basicamente, nada muda, mas eles podem dizer que votaram a favor da proposta e assim ter narrativa nos círculos onde foram eleitos.
De que vale uma deputada do PS votar a favor da abolição das portagens se sabe que o partido é contra?
Relativamente ao Bloco, existe o cuidado de conhecer e perceber as realidades locais, não tenho conhecimento de alguma situação em que um deputado do Bloco tenha votado diferente do partido em detrimento do distrito, é uma situação que não se coloca.
4. Quando é que a redução ou abolição das portagens deixa de ser uma miragem?
Pelo Bloco era já amanhã, mas infelizmente ainda não temos a força suficiente para o fazer. Temos apresentado inúmeras propostas nos últimos anos para a abolição de esta injustiça que tanto prejudica o distrito e as suas populações, mas os partidos de Direita e o PS teimam em continuar a penalizar este território.
5- Quais os setores que consideram importantes impulsionar ou melhorar no Distrito?
É importante gerar emprego, mas um bom emprego. Os trabalhadores da indústria no distrito, seja ela qual for, são trabalhadores altamente precários e é necessário valorizá-los com o aumento dos seus rendimentos.
O trabalho é um tema caro ao Bloco e provamos isso durante a fase mais crítica da pandemia, já que demos apoio a dezenas de trabalhadores do distrito que vinham pedir ajuda ao Bloco.
O nosso distrito vive muito da agricultura, por isso é necessário criar condições aos pequenos e médios agricultores para apostarem nesta vertente.
6- A falta de médicos é um problema grave, que tem abalado o distrito. De que forma estão a pensar agir para combater esta falta?
O Bloco tem uma proposta muito clara para esta situação: é a introdução de um regime de Dedicação Plena no Serviço Nacional de Saúde aplicável aos seus profissionais de saúde. É um regime que se divide entre modalidades de dedicação plena obrigatória e facultativa.
O modelo mais restritivo (portanto, obrigatório) aplicar-se-ia aos médicos do SNS que exerçam cargos de direção de departamentos e de serviços de natureza assistencial, assim como de coordenação de unidades funcionais de cuidados de saúde primário. Já a dedicação facultativa pretendia abarcar, mediante adesão individual, os médicos e outros grupos profissionais que integram o Serviço Nacional de Saúde. Ou seja, queremos que médicos em cargos de direção de departamentos e serviços assistenciais, mas também de unidades de cuidados de saúde primários fiquem obrigatoriamente vinculados a um regime de exclusividade no SNS. Todos os outros médicos e profissionais de saúde teriam essa opção, mas não estavam obrigados a optar por público ou privado.
7- Que políticas pretendem acionar para combater a assimetria do país, dividido pela estrada EN2 (litoral do interior)?
Na nossa opinião, há uma medida fundamental e estruturante para combater as assimetrias do território. É a regionalização.
8- A regionalização tem estado na ordem do dia. Qual é a vossa posição quanto a este tema?
O Bloco sempre defendeu a regionalização, também como uma forma de desenvolvimento dos territórios mais desfavorecidos. A regionalização é transparência, regionalização é democracia e regionalização é debate estratégico.
O Bloco de Esquerda rejeita o processo de descentralização para os municípios e a recente eleição indireta dos presidentes das CCDR, e empenha-se na concretização de um processo de regionalização democrático capaz de conquistar uma maioria social, promotor do desenvolvimento regional, da coesão social e territorial, do planeamento participado e criterioso do território e seus respetivos recursos naturais, do fortalecimento dos serviços públicos e do alargamento da sua cobertura, capaz de responder aos desafios da emergência climática e criador de uma escala regional de participação democrática.
9- Tem-se falado muito em corrupção. De que forma pretendem trabalhar para batalhar esta realidade?
O Bloco de Esquerda é certeza de combate eficaz contra a corrupção. As portas giratórias entre o público e o privado devem ser travadas. Cada euro que a corrupção leva das contas públicas é um euro cortado ao Estado Social. É um abuso sobre cada um dos seus cidadãos e cidadãs.
Por isso propomos a criminalização do enriquecimento injustificado, com confisco dos bens obtidos por esse meio. A riqueza sem origem clara e acumulada abusivamente deve ser taxada a 100%; a fiscalização do património e dos rendimentos dos titulares de cargos políticos e dos altos cargos do Estado por uma Entidade para a Transparência, com os recursos necessários para a sua tarefa e que tem urgentemente de entrar em funcionamento. Se há património não declarado, é crime. Se há enriquecimento desproporcionado, é comunicado ao Ministério Público para investigação; o reforço significativo dos meios humanos, financeiros e logísticos ao dispor da Entidade de Contas e Financiamento Políticos, para evitar a prescrição dos processos de apreciação das contas dos partidos políticos e das campanhas eleitorais; o reforço dos meios e pessoal da Autoridade Tributária e Aduaneira e da Polícia Judiciária afetos ao combate à evasão fiscal e à criminalidade económico-financeira; a eliminação dos vistos gold da ordem jurídica portuguesa e a criação de uma entidade inspetiva para as autarquias locais para a promoção da transparência e o combate à corrupção.
10- Como idealizam o futuro do distrito se vencerem as eleições?
Um distrito mais digno e valorizado para quem resiste e persiste em viver e trabalhar cá. Melhores condições de mobilidade e serviços públicos. Não ao desrespeito pela natureza: exploração mineira, poluição do ambiente e a agricultura intensiva são exemplos desse desrespeito.
Mais atividades culturais e recreativas para a população de diferentes faixas etárias.
11- Aproveitando esta nossa entrevista, qual a mensagem que pretendem deixar aos eleitores?
Temos como missão responder pelo nosso povo! Pois vivemos cá, sabemos o que se passa connosco e é por todos que nos comprometemos.