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Diretor: Paulo Menano

O Poder da Palavra no Debate Político Televisivo: Uma Reflexão Necessária


“A meta de uma discussão ou debate não deveria ser a vitória, mas o progresso.”

Joseph Joubert, ensaísta francês do século XVIII.

“Um debate é uma troca de conhecimentos, uma discussão é uma troca de ignorâncias.”

                                                                                                                 Robert Quillen jornalista norte-americano 1887–1948

O poder é, por natureza, uma força sedutora e tentadora. Desde os primórdios da civilização, os indivíduos têm sido atraídos pela ideia de dominar, influenciar e controlar. Contudo, à medida que avançamos no tempo, surge um desafio constante: como construir uma democracia verdadeira e eficaz? Os antigos debates em Atenas sobre democracia, mesmo entre aqueles que a desaprovavam, evidenciam que uma democracia sólida depende de mais do que simplesmente do ato de votar. Estamos ainda a aprender a lidar com a complexidade da democracia de massa, especialmente quando ela abrange milhões e milhões de pessoas.

Num mundo onde a informação é consumida a uma velocidade vertiginosa, o poder da palavra e da sua imagem no debate político televisivo torna-se ainda mais angustiante. A palavra, enquanto veículo de persuasão e influência, molda não só o discurso público, mas também o rumo da política e da sociedade na totalidade.

No entanto, é necessário distinguir entre dois tipos de poder da palavra: aquele que está subordinado ao espírito, onde a linguagem é usada para promover o entendimento, o caráter e a cooperação, e aquele que está sujeito aos apetites individuais, onde a palavra é empregue como uma arma para dominar o outro. Este segundo tipo de utilização da linguagem cria uma realidade artificial e convencional, onde a verdade é frequentemente deturpada em favor de interesses mais para alguns do que para os todos.

É inegável que as palavras têm o poder de moldar a consciência coletiva, de criar uma unidade espiritual que transcende fronteiras nacionais e se estende à humanidade na totalidade. No entanto, quando mal utilizadas, as palavras podem também ser armas perigosas, alimentando rivalidades e conflitos desnecessários.

O advento da televisão como meio de comunicação de massas trouxe uma nova dimensão ao debate político, ampliando e diversificando a maneira como influencia diretamente as pessoas. Nesse contexto, onde as opiniões são moldadas e os eleitores são influenciados de maneira sem precedentes, torna-se ainda mais crucial comunicar ideias complexas com clareza e acessibilidade. Ao abordar questões como a corrupção e a liderança, é essencial levar em conta duas abordagens distintas: uma mais direta e populista, enquanto outra mais ponderada e educada.   Aqui estão dois exemplos, não obstante de  expressarem a mesma ideia:

Abordagem Populista: “É hora de encarar a realidade. A corrupção está a destruir o nosso sistema, e precisamos de líderes corajosos para enfrentá-la. Chega de desculpas! Vamos agir agora e mostrar que estamos do lado do povo.”

Abordagem Educada: “Com todo o respeito, precisamos abordar as preocupações nos nossos debates políticos. A corrupção exige soluções eficazes e transparentes. Talvez seja sensato considerar opções pragmáticas para lidar com esses desafios. Juntos, podemos encontrar caminhos que beneficiem a todos.”

No entanto, é preciso ter cuidado com o poder da palavra no debate político televisivo. Por vezes, a retórica de “guerra” e o discurso exagerado podem toldar a qualidade do debate político, resultando numa polarização da sociedade e numa perda de confiança nas instituições democráticas.

Por isso, é fundamental que os cidadãos estejam conscientes do poder da palavra no debate político televisivo e sejam capazes de perceber com clareza a distinção entre discursos construtivos e manipuladores de emoções. Somente assim poderemos garantir que a democracia continue a florescer e a prosperar, mesmo num mundo cada vez mais complexo, estranho e polarizado.

Carlos M. B. Geraldes, PhD.