Opinando: “A Banalidade da Alfabetização: Reflexões sobre o Egoísmo Esclarecido”
“A manipulação da opinião pública é a maior forma de controlo social.”[1]
Chomsky, N.
“A cultura é como um pântano: quem não a compreende, não a vê.”[2]
Eco, Humberto
A alfabetização, em teoria, deveria capacitar os indivíduos a agir de forma crítica e consciente na esfera pública. No entanto, a realidade revela um paradoxo: muitos que dominam a leitura e a escrita acabam por se perder em banalidades e mensagens publicitárias que obscurecem o pensamento crítico. Este fenómeno não apenas arrasa a memória colectiva de um povo, como também promove uma falsa originalidade, perpetuando a vulgaridade na expressão e no comportamento.
Este comportamento é sustentado por milhões de “bípedes pensantes” que, sem o devido questionamento, se conformam a uma existência onde a liberdade jamais existirá. O instinto de uma suposta liberdade, fechada como um rato numa caixa, é rapidamente sufocado por uma cultura de reality show de banalidades conformistas, em que a irracionalidade e a superficialidade dominam as interações sociais, onde os debates filosóficos são tão raros quanto os unicórnios na fila do pão, isto é, “Quem consegue evitar o raciocínio por mais tempo?” A verdadeira essência da democracia é, assim, ameaçada por mentes estereotipadas que se contentam com o que é apresentado, sem uma análise crítica. Isto é, a alfabetização não prepara cidadãos para a coisa pública e muito menos para a governança; afinal, saber ler e escrever é só um detalhe, não é mesmo?
A maioria, ao proselitizar ideias vazias como se estivesse mendigando, engrossa um público que se distancia da possibilidade de pensar. Admira os que os manipulam e desdenha aqueles que oferecem verdades incómodas. É aqui que entra o egoísmo esclarecido, uma abordagem que, em vez de ter raízes profundas, parece mais uma planta de plástico: bonita à vista, mas sem qualquer substrato. E os influencers? Essa nova “fauna” de uma era digital, cujo papel tonto é transformar banalidades mentais em ouro, atraem seguidores que, como abelhas no mel, vão atrás de cada frase vazia, acreditando que estão a fazer parte de algo importante.
Assim sendo, deparamo-nos com uma dinâmica que revela alguma sociedade, que em vez de se libertar, se aprisiona numa visão estreita da realidade. É urgente que reavaliemos o papel da alfabetização e da sua verdadeira missão: não apenas ensinar a ler e a escrever, mas fomentar um pensamento livre e crítico que valorize o agir político a história e a diversidade de um povo.
Carlos M. B. Geraldes, Phd.
[1] Chomsky , N., Manufacturing Consent (co-autoria com Edward S. Herman), Vintage Publishing, 1995
[2] Eco, Humberto, A Estrutura Ausente, Introdução à Pesquisa Semiológica (7ª Edição) Perspectiva, 1997