Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Opinando: “Eleições: mentalidades e invasores do desperdício político”, de Carlos M. B. Geraldes


Eleições: mentalidades e invasores do desperdício político

Segundo Nicola Maquiavel, no seu discurso sobre a Primeira Década de Tito Lívio, “os homens têm o hábito de se atormentar nas suas cruzes e de se empanturrar e saciar na sua prosperidade. A razão é porque a natureza criou os homens de tal forma que podem desejar tudo, mas não o obter.” Assim sendo, somos confrontados com um ser humano que, em primeiro lugar, vive em função do medo, da tristeza de uma vida desperdiçada e nunca abundante face aos seus desejos infinitos. Em segundo lugar, este humano não permite que o seu domínio seja invadido, e, havendo discórdia, por menor que seja, pega em pedras e armas; não obstante, permite que o outro invada as suas vidas de tal modo que ele próprio se deixa conduzir mentalmente pelos seus invasores.

Quem são os invasores? São todos aqueles que lhe prometem o empanturramento para que os seus maus hábitos sejam deveras atormentados. Quem é o eleitor? É todo o sujeito, com anos e anos de trabalho, que sacrifica e sacrificou a própria vida em prol de um suposto futuro melhor, para, quando chegar a determinada época, perceber que não a viveu. Este “sábio” eleitor nunca se deixará de se espantar com a cegueira do espírito humano porque o seu agir se fundamenta e justifica numa avareza e no princípio do desperdiçar do tempo.

Os futuros eleitos/invasores manobram com habilidade todo este conjunto de circunstâncias, modo de pensar, fazendo uso do medo para manipular os cidadãos, como os atributos selecionados para assustar os cidadãos e levá-los a apoiar políticas que, de outra forma, eles rejeitariam. Isto é, alertam os cidadãos sobre a presença de uma ameaça qualquer. E a resposta ou a forma como os cidadãos reagem difere segundo os horizontes mentais. Os invasores são seres que têm como ambição apropriarem-se de cargos, enfrentar, periodicamente, o problema de escolher entre um conjunto de alternativas de carreira, e essas alternativas costumam incluir a escolha de abandonar isto ou aquilo, ou buscar a reeleição, ou ainda tentar um cargo superior. Este detentor de cargos comporta-se de acordo com um cálculo racional ao fazer tais escolhas, pois os principais elementos envolvidos no processo de escolha incluem as probabilidades e os valores atribuídos pelo candidato às suas alternativas e os investimentos necessários para obter essas alternativas. A ambição genuinamente política é nula, o que persiste é o desejo insaciável de buscar cargos superiores, desenvolver-se como produto do investimento em nome da política, fazendo às custas do iludido e “sábio” eleitor a sua carreira pseudopolítica associada às características estruturais de tamanho da comunidade e competitividade eleitoral. Como nos diz Maquiavel, Príncipe, Cap., xvii, «os homens esquecerão mais rapidamente o assassínio do seu pai do que a perda do seu património».

Para os invasores as eleições são toda uma dimensão ritual e performativa da política em que se destacam questões abstratas, distantes e hegemonia na habilidade de descobertas empíricas de algibeira e de um generalizar de casos sobre como afetam a política e o medo do “sábio” eleitor. Porque o medo e a tristeza de uma vida desperdiçada são elementos com características abundantes a serem explorados nos seres humanos.

É uma sociedade com o dever de eleger um “funcionário invasor” que presta um suposto serviço público aos cidadãos. Os candidatos em potencial diferem nas suas competências e cada candidato em potencial possui informações privadas sobre o custo de oportunidade para desempenhar a suposta tarefa de autoridade eleita. É um modelo em que os candidatos ruins concorrem com uma probabilidade maior do que os bons e, para posições não atraentes, os bons candidatos aproveitam os ruins. Não obstante esta ligeira diferença o colocar esta pseudodoutrina em causa é sinónimo de que o sistema retalia, subversivamente, o que faz emergir os formuladores de políticas como sendo não só agentes políticos ruins mas também agentes que semeiam governos ruins.

É o desperdício na política! É o alegado ideal de Bem com conversa fiada e o sol-e-dó incessante que faz tudo para evitar que a mente se interrogue, pense, reflita. No fundo é um descaminhar na indiferença para o qual se é eleito, e o inverso de uma vida generosamente dada para a realização de importantes tarefas de um agir que se quer efetivamente político e não um esvaziar do não realizar aquilo que se deveria realizar.

Desse modo, os eleitos, não têm uma vida breve, mas fazem com que seja assim e toda a ocupação resulta sempre em nada e no que não se deve fazer e ser.

Votos de um bom e próspero ano 2022 para os leitores do Mais Beiras Informação.

Carlos M.B. Geraldes (Ph.D.)