Opinando – Outono em Novembro: Pensamentos ao Cair das Folhas
“Para o bem preparado, a morte é o início de uma nova jornada.”
Platão
“A morte não é o oposto da vida, mas sim uma parte intrínseca dela.”
Haruki Murakami
Novembro é um mês de transição. À medida que as folhas caem e os dias se tornam mais cinzentos, é também o momento em que muitos de nós visitamos os túmulos de entes queridos, celebrando o Dia de Todos os Santos e honrando a tradição secular de lembrar aqueles que partiram. Este é um período que convida a uma profunda reflexão sobre a morte, um ato que tem moldado as nossas civilizações ao longo dos séculos.
Nas tradições filosóficas e religiosas, somos lembrados da importância de olhar para o nosso interior. Como afirmou o Evangelho de São Tomé, “Quando reconhecemos o que está dentro de nós, isso nos salvará; mas se negligenciarmos isso, o que está dentro de nós nos levará à decadência.” Esta sabedoria intemporal convida-nos a explorar a natureza humana e a necessidade de nutrir o nosso eu.
Aceitar passivamente o mundo como ele se apresenta pode impedir-nos de compreender a complexidade da realidade. Embora o mundo exista independentemente do ser humano, somos parte intrínseca dessa teia universal. Cada um de nós, como observadores conscientes, possui o poder de influenciar e moldar o universo simplesmente pela presença.
É crucial cultivar um senso de cura, paz e abundância em nós. Reconhecer que a realidade vai além das nossas ações e está relacionada com quem somos é fundamental. Precisamos de transcender as ilusões e romper com o véu de Maya que nos limitam e abrir as nossas mentes para uma perspetiva que supere o egocentrismo, permitindo-nos ver o mundo com olhos renovados.
Com frequência, como sociedade, tendemos a aceitar resignadamente a presença da morte e da destruição, seja em conflitos ou em cenários caóticos. No entanto, as nossas reações a esses eventos fornecem profundas revelações sobre a nossa natureza. A visão de violência e morte, frequentemente cometida por indivíduos em estágios iniciais de desenvolvimento humano, é inegável.
A transformação de paradigma e a evolução da nossa realidade requerem medidas concretas. Podemos influenciar o mundo, mesmo sem aspirar à santidade. É essencial sermos mestres construtores das nossas próprias ações e entrarmos no ciclo que se fecha naturalmente. Ao agirmos com benevolência, amor, respeito, gratidão e serenidade, temos a capacidade de esculpir o nosso destino e tornar-nos agentes de mudança.
O respeito pelo próximo deve transcender princípios meramente económicos, jurídicos ou políticos, tornando-se um alicerce para a nossa existência. Buscar a compreensão, a ética e a compaixão como valores fundamentais é essencial para construir uma sociedade verdadeiramente admirável.
Embora muitos afirmem que as pessoas são resistentes à mudança, essa visão é imprecisa. A nossa existência na Terra tem o propósito de permitir que o espírito aprenda a ser verdadeiramente humano, não se limitando à espiritualidade desvinculada da realidade terrestre. Com base na educação, ética e compaixão, temos o poder de forjar um mundo melhor.
Precisamos de reconhecer os males presentes na sociedade, como guerras, violência e ganância. Cada um de nós deve assumir a responsabilidade de mudar as atitudes e contribuir para um mundo mais humano e justo. Devemos abandonar a inveja, o parecer desenfreado e a procura desesperada e ridícula por distinção e impacto bacoco, aprendendo a valorizar a qualidade e a verdadeira natureza das coisas.
Perante a morte o despertar da consciência começa em cada um de nós. Cada gesto de bondade, respeito e escolha ética contribuem para um mundo melhor. Tenha em mente que a vida é uma passagem e, um dia, não estaremos mais aqui. A morte é inevitável, mas o legado que deixamos por meio das nossas ações pode permanecer por muito tempo. O futuro depende de nós, mesmo quando partirmos.
Carlos M. B. Geraldes, (PhD.)