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Diretor: Paulo Menano

Opinando: Quanto vale a pré-época


Para treinadores (e também outros agentes) a pré época é um momento muito importante da época desportiva e são vários os motivos que levam a esta convicção. Este momento da época define vários aspetos que terão influência ao longo das primeiras semanas de competição existindo também, para muitos, a crença que a pré época define toda uma época.

Na minha opinião, durante a pré época, aquilo que se deve valorizar menos são os resultados obtidos porque não revelam muito do que podemos ver/ser durante a competição enquanto equipa. Isto porque o contexto em que as equipas se defrontam é diferente do contexto competitivo e por isso muitas vezes os resultados não espelham aquele que será o seu real valor. É claro que fazer uma pré época cem por cento vitoriosa não tem o mesmo impacto para o grupo de trabalho que uma pré época só com derrotas mas no início do campeonato todas as equipas começam com os mesmos pontos e a gestão de expetativas e a definição de objetivos é crucial. Há no entanto vários pontos que, quanto a mim, são fundamentais para que a pré época seja de facto a base que vai fazer com que a equipa chegue preparada para as dificuldades da competição e alinhada com as expetativas e objetivos do clube.

Em primeiro lugar a definição de objetivos: a definição de objetivos leva a que se pense todo o processo de trabalho, obriga a avaliar os recursos disponíveis (materiais e humanos) para perceber se é possível atingir o rendimento pretendido. É importante também definir esses objetivos a curto, médio e longo prazo e identificar os indicadores e variáveis que permitam medir o desempenho ao longo da pré época.

Em segundo lugar o planeamento: o que e como vamos fazer para atingir os objetivos? Que percurso pretendemos fazer até chegar ao primeiro jogo oficial? Qual o grau de dificuldade dos jogos? Que expetativas para esses jogos face ao que é pedido à equipa? Quais os custos e benefícios de seguir um caminho em detrimento de outro.

Em terceiro lugar o conhecimento da equipa: conhecer os jogadores que temos é fundamental para perceber o Homem no jogo. O treino e o jogo são os momentos mais importantes para isso mas o pré treino/jogo e pós treino/jogo também – identificar o perfil comportamental de cada jogador (inquéritos), conhecer o contexto social e família, o que motiva os jogadores, quais os seus objetivos pessoais são também questões que devemos colocar.

Em quarto lugar a cultura de equipa: na pré época é implementada uma rotina diária com regras, horários, direitos e deveres de todos os agentes envolvidos. Essa rotina, que está diretamente relacionada com a organização do clube, vai definir se os objetivos estão alinhados com o nosso comportamento, ou seja, se o discurso é igual ao percurso. Se assim for, os valores do clube (história) e da equipa (promovidos pelo treinador) vão definir os limites comportamentais que todos devem ter, dentro e fora de campo levando, ao longo do tempo, ao aparecimento da cultura da equipa.

Em quinto lugar a definição do plantel: ao longo da pré época todos os jogadores estão sob avaliação. Essa avaliação deve ir mais longe que o “jogo jogado”, deve ser mais profunda que a análise do “ser bom tecnicamente mas…” pois muitas vezes podemos ficar com jogadores que não partilham valores que são inegociáveis para o clube e/ou equipa criando resistências e conflitos internos que vão influenciar o desempenho desportivo.

Posto isto, é importante realçar que a pré época, tal como a época desportiva, é um período muito instável que obriga a ajustes constantes obrigando a uma grande capacidade adaptação de todos os agentes envolvidos, mas que no final de contas devemos todos procurar a solução ideal para o contexto ao invés de realçar o problema que o contexto nos proporciona.

 

Vasco Guerra

Treinador dos seniores do Idanhense