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Diretor: Paulo Menano

Opinando: “Tagarelice, terra da abundância…”, de Carlos M. B. Geraldes


Tagarelice, terra da abundância…

 

«Meu cérebro é uma floresta selvagem cheia de tagarelice assustadora.»

                                   Gilmore Girls, https://www.pensador.com/frase/MjU0MTIwOQ/

 

Tagarelice, terra da abundância, onde se olha e fala sem pensar e se fica atónito com a quantidade de possibilidades para se tagarelar sem distâncias imagináveis, biliões de pontos de vista para apresentar, um universo em chamas para alimentar e contemplar, para além dos prados, montanhas, floresta, selva, flores, bondade e emaranhados mentais. Se alguém criou esta possibilidade de tagarelar, então, temos que admitir em não desperdiçar a possibilidade de insanamente tagarelarmos. É o caos, é embriaguez e a insanidade para a criatividade da tagarelice: um sentido para o vazio da vida.

Inclinados sobre o smartphone, já com a cabeça e a mente domesticada, tagarela-se sobre o ecrã o que parece ser de trivial importância. É a combustão perfeita e o lugar onde se liberta a energia improdutiva é, citando Eça de Queirós, Os Maias, cap. II, como algo de “evidente pois que já andava ali, difamante e torpe, a tagarelice do Dâmaso.” É um acto de energia livre e do seu poder se manifestar como um criador original do improdutivo. O tradicional dá lugar ao moderno. A tagarelice na sua fé invadiu tudo, independentemente das suas consequências, é a irrepreensível agente do smartphone: desenfreada, empreendedora, ambiciosa, força motriz onde jorra um inesgotável esbanjador do nada.

Tagarelar é a nova especialização: destila-se, tece-se, tricota-se, costura-se, aplaina-se, forja-se, escava-se, prensa-se porque descobrir bisbilhotices é mais interessante do que aprender, olhar é melhor do que viver uma história e um digitar gostoso melhor do que ouvir o outro, já não importa saber se há emoções, sentimentos e apreço pelos actos e pensamentos. Tagarela-se sem se olhar para as sílabas, ou se o que se tagarela é útil para o sentido ou para a imensidão (in)consciente do universo da tagarelice.

Não há gramática que descreva o que se sente na tagarelice, basta saber dividir a bisbilhotice para a tornar mais útil à equação e aos seus graus de barulho, estudar as suas particularidades subterrâneas é como tornar ciente a imensidão de um universo (in)siginicante.

Falar sobre o tagarelar, o indiscreto, o barulho não é mais do que uma teoria da treta em que nem se prova e nem se aprova nada e muito menos se questiona o chorrilho de invenções. Como nos diz Fernando Pessoa: “A insensatez é irrequieta, tagarela e ignorante”

No fundo, que diabos fazem as pessoas a tagarelar nos smartphone? Os dedos ficam dormentes, a mente desligada e o sonhar menos produtivo! Smartphone?

«De fundo a voz ainda tagarelava e por dentro incessantemente o coração batia.»

 

 

 

                                                                                   Carlos M.B. Geraldes (Ph.D.)