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Diretor: Paulo Menano

Opinião: Beira Baixa, um viveiro de atletas que urge cuidar!


No dia 8 de agosto terminou a melhor participação portuguesa nas olimpíadas. O momento foi aproveitado por todos sem exceção. Enquanto os agentes políticos, clubes e marcas se associavam aos vencedores, os atletas clamaram por mais apoios.

Para tornar possível o êxito olímpico é necessário garantir um contexto específico, que deve ser garantido desde a adolescência dos atletas e que vai muito para além de um bom suporte financeiro.

Portugal tem dado passos significativos para garantir estas condições. Neste momento existem pouco mais de uma dezena de Centros de Alto Rendimento que procuram dar resposta a 32 modalidades. São contemplados desportos coletivos como o futebol ou o Hóquei em campo, e individuais como o Atletismo, a Esgrima ou o Hipismo. Paralelamente, em pouco mais de uma década foram criadas 15 Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola, os quais procuram potenciar as carreiras duais de atletas-alunos que revelem potencial talento desportivo. Como resultado os atletas beneficiados com esta medida obtiveram um sucesso escolar acima da média nacional.

Este progresso é, no meu entender, escasso para quem pretende almejar os melhores resultados a médio / longo prazo sem ter de recorrer à nacionalização de atletas como Obikwelu, Nélson Évora ou Pichardo. Para que tal seja possível importa:

  • Incentivar uma prática desportiva diversificada, contrariando o paradigma vigente de acordo com o qual cerca de 1/3 dos federados estão filiados na Federação Portuguesa de Futebol;
  • Alargar o estatuto de agente desportivo de alto rendimento, o qual está dependente da participação de atletas em competições desportivas de elevado nível e, não menos importante, de proposta da respetiva federação;
  • Estender o número de Centros de Alto Rendimento e Unidades de Apoio na Escola ao interior de onde são originários grande parte dos atletas.

O distrito de Castelo Branco é um bom exemplo das alterações que urge realizar. Fruto de uma baixa densidade populacional e das condições morfológicas muitos jovens ainda têm a oportunidade de brincar, correr, nadar ou saltar nas ruas e ribeiras da região. Este facto permitiu, ainda que indiretamente, que pudéssemos apreciar os desempenhos de Ana Hormigo, Bruno Pais, Gabriel Macchi ou Francisco Belo na principal prova desportiva mundial. Neste momento esperamos que, a curto-médio prazo, possamos ver brilhar nomes como Samuel Barata ou, entre outras, Maria Gonçalves. Mas urge proporcionar melhores condições.

É necessário dotar a região de melhores infraestruturas e promover uma verdadeira articulação entre autarquias e estabelecimentos de ensino (básico / secundário / superior). Em bom rigor mesmo que os nossos atletas não atinjam as medalhas ou os pódios são autênticos heróis. Alguns atletas iniciaram a prática competitiva em clubes que abdicaram do atletismo para… apostar no futebol. Como consequência foram obrigados a migrar de forma encontrar um clube que permitisse desenvolver o seu potencial. Noutros casos ninguém imagina o esforço que é treinar às 7h e/ou as 19h para poder conciliar a prática desportiva com o percurso escolar. Mesmo assim em condições desfavoráveis quando comparado com os seus concorrentes. Quase todos treinaram (ou treinam) no asfalto ou em pistas de tartan degradadas durante mais de uma década. Ora, se mesmo assim, clubes como o Grupo de Convívio e Amizade nas Donas, Grupo Desportivo da Mata ou Escola de Judo Ana Hormigo potenciam talento imagine-se o que seria se lhes fossem garantidas outras condições.

Sérgio Mendes