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Opinião: Os melhores Jogos Olímpicos de sempre! Mas vamos querer mais e melhor, certo?
Felizmente atingimos o melhor resultado de sempre nas participações Portuguesas nos Jogos Olímpicos e isso deve ser motivo de orgulho para todos nós. No entanto acomodação, falta de reflexão e ambição, são razões para retrocesso certo, portanto vamos lá fazer mais e melhor. Fazer o planeamento a curto, médio e longo prazo e definir objetivos claros é o que certamente a tutela, as federações e clubes estão a fazer de momento. Assim, torna-se importante responder a questões como: Quantas medalhas queremos ganhar em cada uma das próximas 4 edições dos Jogos Olímpicos? Em que modalidades temos maior potencial de vitória? E perguntas operacionais trazem perguntas estruturais. Há capacidade de planear a 16 anos? Há vontade de investir com foco nos objetivos? Vamos fazer acontecer mais e melhor? Acredito que vamos mesmo conseguir fazer mais e melhor! Portugal tem atletas excelentes, com uma elevada resiliência, espírito de sacrifício e foco na sua missão, tem treinadores competentes e bem preparados para colocar os atletas nos mais altos patamares de performance, tem federações desportivas organizadas para que as condições de treino e competição sejam as melhores. Então o que falta?
Deixo três breves aspetos para reflexão…
- As infraestruturas com condições de treino de excelência para algumas modalidades não existem ou são insuficientes. A ausência de instalações com tecnologia de topo, com equipas de treino multidisciplinares, com uma forte ligação a grupos de investigação e desenvolvimento das universidades, levam a que muitos atletas tenham de fazer o seu trabalho preparatório fora do país. Reconheço que estamos a fazer melhorias significativas neste aspeto.
- Percebermos que nem só de futebol vive o desporto. Devemos estar conscientes que o nosso apaixonante desporto rei, num evento como os Jogos Olímpicos conta muito pouco, tendo as várias modalidades desportivas um peso enorme ao nível dos resultados desportivos. No entanto, o nível do investimento que se faz nos atletas olímpicos, quanto a mim, ainda é insuficiente. Segundo alguns números que surgiram na comunicação social, um atleta que vença a medalha de ouro recebe do estado 50.000 euros, prata 30.000 e bronze 20.000. Para que se tenha uma noção clara das diferenças em relação aos prémios, caso a seleção nacional de futebol vencesse o europeu, cada jogador português ganharia cerca de 300.000 euros. Compreende que não se poderá fazer comparações dos mercados, nomeadamente na visibilidade das modalidades, indústria, direitos televisivos, sponsorização, fontes de receitas, entre outros. Se considero que poderia estar um pouco mais equilibrado? Considero! Por outro lado considero que devemos ter a consciência que o prémio é a valorização pelo resultado final, no entanto mais importante e decisivo que os prémios monetários por atingir o pódio é o investimento que se faz no caminho preparatório até lá chegar, ou seja naqueles momentos que é importante incentivar, mesmo sem a certeza dos resultados. Como referiu Patrícia Mamona numa das suas últimas entrevistas “a medalha significa muito, são 20 anos de trabalho“.
- Como referi anteriormente, não podemos esquecer que o planeamento a longo prazo não pode estar esquecido. Se por um lado temos de investir naqueles que já são atletas olímpicos, por outro temos de “semear” o futuro. Semear é cuidar continuamente os promissores talentos, e em simultâneo incentivar aqueles que não têm probabilidade de atingir altos níveis de performance a continuar a sua prática desportiva. E para isso salta-me de imediato uma expressão… organização estratégica. E quando me refiro a organização estratégica refiro-me ao percurso desportivo do praticante desde tenra idade. Para que todos nos possamos situar, tenra idade é creche e pré-escolar. As atividades psicomotoras nesta idade são suficientes? As instalações dispõe de equipamento para desenvolver estas atividades? As escolas têm espaços de brincadeira que estimulem o desenvolvimento psicomotor? Vamos avançar mais um pouco no percurso formativo das crianças. Chegamos a outra etapa e encontramos o agora tão falado Desporto Escolar. Qual a relação que este estabelece com os clubes e associações desportivas, por exemplo quais os níveis de prática onde cada um deve intervir, qual a relação que estabelecem ao nível da cooperação com entidades externas à escola, quais as condições de conciliação entre estudo e prática desportiva? Perguntas interessantes. Mas vamos seguir caminho, avançamos mais uns anos e encontramos o Desporto Universitário. Na verdade um atleta de alto rendimento consegue fazer um percurso académico, até são conhecidos vários exemplos felizmente! Mas também são conhecidos vários episódios que eram bem evitáveis. E a relação entre os clubes e as universidades, estão potenciados? Há alguns anos constato que existem universidades a protocolarem e desenvolverem rentáveis sinergias com os clubes, no entanto seria excelente para todos que fosse uma opção mais seguida. Verifique o leitor a quantidade de talentos desportivos portugueses que estão a ir estudar para universidades nos Estado Unidos. Dependentemente do seu talento os alunos/atletas ganham bolsas de estudo entre os 25 e os 100%. O que procuram? Uma valorização do seu talento desportivo, por outro lado uma conciliação harmoniosa entre a prática desportiva e os estudos, e em simultâneo alargam os seus horizontes num país reconhecido como um mundo de oportunidades. Curiosamente o “agora” tão célebre Neemias Queta foi parar aos Estados Unidos numa bolsa destas! Resultado desportivo, check! Agora peço ao leitor que pense na atratividade, no reconhecimento e na visibilidade que uma universidade ganha com o desporto? Muitas têm dificuldade em ter alunos, talvez um eixo de investimento a considerar seja o desporto. Retorno para as universidades, check!
Deixo alguns reptos finais. Querem que as modalidades sejam mais valorizadas? Querem que haja mais investimento do setor privado no desporto? Querem que a comunicação social dê mais visibilidade às modalidades? Tudo começa na Educação. Quem no futuro tomará as decisões importantes, quem fará investimentos no desporto, quem irá consumir produtos desportivos são as crianças e jovens de hoje. Se durante o percurso de formação de uma criança e jovem o desporto for valorizado, se for utilizado como uma área tão importante como a matemática ou o português (que é!), de forma muito simplista afirmo que ganhamos em dois aspetos: qualidade de vida dos cidadãos e construímos a tão almejada valorização das diferentes modalidades e atletas. Acredito convictamente que a educação é o maior sustento do desenvolvimento!
João Sá Pinho