Opinião: Portugal e a sua Cultura Política: A procura pela autoexigência dos cidadãos.
Portugal tem uma questão importante a resolver: como colocar um fim a uma débil cultura de exigência política? É necessário fomentar uma cultura política que inclua o entendimento, a compreensão, a exigência e a participação dos indivíduos em assuntos políticos e éticos. A falta desse envolvimento pode ter consequências para a democracia, como o “despejar” de forma irrefletida e vulgarucha a opinião de que “são todos iguais, nada me diz respeito”.
Num contexto mais recente, a crítica à administração portuguesa, por distribuir esmolas, espoliar uma maioria e viver da intriga, corrupção e confrontos entre justiça e política, contribui para a ideia de que a falta de uma cultura cívica e política sólida pode permitir a manutenção dessas práticas prejudiciais em todos os campos do agir político. Esses elementos podem indicar que, apesar do discurso de incentivo à autonomia, as condições estruturais e políticas não estão totalmente segundo os princípios de um Estado que possa incentivar a independência financeira e a iniciativa empreendedora dos seus cidadãos. O aumento contínuo de pobreza e a migração de quadros qualificados acentuam a preocupação nacional, enquanto a venda de interesses nacionais a estrangeiros é vista como um reflexo da falta de uma visão política consistente.
Ao examinarmos a galeria dos primeiros-ministros, vista como uma suposta fonte de aprendizado, reflexão e desafios para aqueles que desejam exercer o poder, torna-se crucial o desenvolvimento de uma cultura política exigente e informada. Da mesma forma que a menção à União Europeia é crucial para o progresso do país, a conexão entre as políticas internas e externas é fundamental.
A manhosa dinâmica política portuguesa revela uma faceta desafiadora do sistema democrático, na qual a distribuição de mandatos parece ter um impacto significativo na atenção e no comprometimento dos partidos políticos. A prioridade estratégica nas campanhas eleitorais e na administração ressalta a natureza pragmática das decisões políticas, muitas vezes focadas na manutenção ou na busca pelo poder. A análise da estatística eleitoral, independentemente de crenças ideológicas, demonstra como fatores numéricos podem influenciar o cenário político, instigando reflexões acerca da representatividade efetiva e da equidade regional no processo democrático.
A preferência dos meios de comunicação pelo “vulgar”, exemplificado por enigmas triviais notificados por WhatsApp, contrasta com a importância de eventos como julgamentos que encerram numa bolha a história de um país. A sociedade civil tem de ser mais autoexigente com a coisa pública do pais e evitar cair na armadilha das emoções que toldam a razão, apesar de uma maioria não o admitir. Por esta razão, exige-se um Portugal mais informado, especialmente em relação às ações cruciais que determinam o destino do povo.
No panorama político delineado, a falta de uma cultura política sólida é apontada como um desafio persistente. A ignorância política, destacada pelos filósofos gregos Platão[1] e Aristóteles[2], é vista como um problema que permeia muitas democracias, levando a escolhas eleitorais baseadas em emoções, caciquismo, desinformação e iliteracia de Estado. O desinteresse generalizado em questões políticas é considerado um aspeto crítico, afastando os cidadãos da participação ativa e contribuindo para uma população que se distancia das decisões políticas que afetam as suas vidas. A desinformação é apontada como uma consequência da falta de cultura política, como Maquiavel[3], alertou sobre os perigos de não compreender a realidade política. Promover uma cultura política sólida e informada é fundamental para combater a ignorância política e fortalecer a democracia.
A educação cívica deve ser uma ferramenta poderosa para melhorar o conhecimento político dos cidadãos e incentivá-los a participar ativamente na vida política. Todos nós, cidadãos, somos responsáveis pelos destinos políticos do nosso país. No entanto, é preocupante que muitas famílias portuguesas não tenham um acesso físico, nas suas casas, à Constituição da República Portuguesa e que o ensino sobre a sua importância e os princípios fundamentais da constituição seja negligenciado nas escolas.
É de bom senso que o Estado forneça às famílias portuguesas o acesso à Constituição, por meio da disponibilização do texto a todos os agregados familiares em vez de panfletos, e incentive a sua leitura e compreensão nas escolas, a fim de que a sociedade cívica compreenda os seus direitos, deveres e ajudem a fomentar o progresso da sociedade.
Carlos M.B. Geraldes, PhD
[1] Platão, República, 5ª Edição, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987
[2] Aristóteles, Política, edição 1.ª, trad. António Amaral e Carlos Gomes, Col. Veja Universidade/ Ciências Sociais e Políticas, Lisboa, 1998.
[3] Maquiavel, N., O Príncipe, s. ed., Círculo de Leitores, e Temas e Debates, Lisboa, 2008