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Diretor: Paulo Menano

Poder, Prazer e Lucro: Equilibrando a Trindade para uma Sociedade Responsável


« Um homem a quem o poder sobe à cabeça é sempre ridículo.»

Montherlant, O Cardeal de Espanha, I,2

«Nenhum mortal pode considerar-se livre.
Uns são escravos da riqueza, outros da sorte,
pois ora as prescrições da lei, ora os caprichos
da maioria nos impedem de seguir
nossas inclinações, submissos aos desejos. »

Eurípedes, Hécuba, 1130 1

O poder, o prazer e o lucro são uma trindade de conceitos que mobilizam a natureza humana, mas que também podem levar a comportamentos egoístas e a decisões imprudentes. Isto é, uma trindade que tanto explora recursos para lucrar sem se importar com os danos, sente prazer em humilhar os subordinados e usar o poder para intimidar e controlar as pessoas. Ao mesmo tempo, esses mesmos conceitos também podem ser usados de forma positiva, como investir em tecnologias limpas para proteger o meio ambiente, sentir prazer em ajudar os outros e usar o poder para promover a justiça e a igualdade. Logo, é importante buscar o equilíbrio entre esses conceitos e usar o poder de maneira responsável e justa para beneficiar a
sociedade. Além disso, a autorreflexão e a humildade são fundamentais para uma boa gestão do poder.

Ao longo da história, vários filósofos abordaram a relação entre poder, prazer e lucro de maneiras diferentes. Enquanto Nicolau Maquiavel , O Príncipe, via o poder como um apetite fundamental, Thomas Hobbes, Leviatã, acreditava que os indivíduos buscavam poder para se protegerem a si e os seus interesses, John Locke , Dois Tratados do Governo Civil, defendia que os indivíduos tinham o direito de buscar o lucro, e James Madison, O Federalista, presidente dos Estados Unidos, acreditava na divisão de poder como forma de equilibrar as forças. No entanto, todos eles concordavam que o equilíbrio entre esses conceitos é essencial para evitar excessos e comportamentos prejudiciais. O poder deve ser visto como um processo dinâmico e não uma qualidade estática, e a humildade e a autorreflexão são importantes para uma boa gestão do poder.

Além disso, o prazer e o lucro devem ser buscados de forma moderada e controlada, para evitar excessos e comportamentos egoístas. O prazer deve ser visto como uma sensação de satisfação ou prazer resultante de uma atividade ou experiência agradável, mas deve ser administrado com moderação para não exagerar. Aliás, a lamúria é uma força poderosa que pode levar as pessoas a agir de maneira imprudente e egoísta, a fim de satisfazer seus desejos. Da mesma forma, o lucro deve ser visto como o aumento de riqueza ou património resultante da realização de uma atividade económica, mas deve ser controlado seguindo certas regras e leis para evitar excessos.

Para lidar com esses conceitos de forma saudável, é preciso tratar de descobrir o equilíbrio entre eles e usar o poder de maneira responsável e justa para beneficiar a sociedade. A autorreflexão, o dever, o respeito, o serviço à comunidade e a humildade são fundamentais para uma boa gestão do poder, negando os desejos do eu, o prazer e o lucro devém ser amanhados de forma moderada e controlada. Com isso, podemos evitar comportamentos egoístas, não cair na pomposidade e nos abusos dos desejos prejudiciais e promover uma comunidade saudável e equilibrado para todos.

Num mundo onde o poder é frequentemente mal utilizado e os poderosos se sentem acima da lei, é decisivo lembrar que a arrogância e a falta de humildade nunca triunfam. Como bem observou Pierre Desproges no seu livro “Dictionnaire superflu à usage de l’élite e bien nantis” de 1985, “Já não temos grandes homens, mas pequenos, que chafurdam e saltitam à direita e à esquerda com uma serenidade na incompetência que obriga ao respeito”. Esta citação mostra a triste realidade dos líderes contemporâneos que carecem de grandeza. Assim como Maquiavel e outros pensadores nos ensinaram, aqueles que se consideram acima do bem e do mal estão fadados a um castigo inevitável e implacável. Por esta razão, não podemos permitir que a natureza humana corrompa o exercício do poder. É essencial possuir humildade e responsabilidade para lidar com as suas consequências. Devemos rejeitar o falso prazer de nos esquivar da culpa, tal qual fez Pilatos, e também repudiar a excessiva acumulação de riquezas. Se desejamos evitar um castigo no momento mais inoportuno, devemos sempre recordar que o poder é um privilégio que deve ser utilizado com sabedoria e moderação.

Carlos M. B. Geraldes, PhD