
Uma Conversa Informal com… Marta Duarte, escritora covilhanense com forte vínculo à Psicologia
Marta Duarte, covilhanense, trabalha na Faculdade de Ciências da Saúde, na Universidade da Beira Interior, na área de psicologia. Desde 2020, lançou-se na escrita de livros infanto-juvenis sempre com este sentido de missão de transmitir mensagens e desmistificar certos assuntos tabu. Neste Conversa Informal, falámos com Marta Duarte sobre os últimos projetos, a ligação à UBI, a vida em geral e como esta foi afetada pela pandemia principalmente nos mais jovens, o que o futuro nos reserva e ainda sonhos por realizar ou atingir.
A Marta tem uma enorme ligação à UBI. Fale-nos mais sobre esse vínculo profissional e afetivo?
A UBI, para além de ser o meu local de trabalho, é a instituição na qual me formei. Estamos a falar de uma instituição de ensino superior que tem um papel fundamental no desenvolvimento da região, e sendo eu Covilhanense com muito orgulho, é muito gratificante poder, diariamente, dar o meu contributo. O facto de desempenhar funções na Faculdade de Ciências da Saúde permite-me colocar em prática os conhecimentos resultantes da minha formação, Psicologia Clínica e da Saúde, em várias vertentes, mas em especial na interação com os alunos. Considerando que esta ligação já tem 20 anos é certamente fácil de compreender que para além do vínculo profissional se crie uma ligação afetiva.
Surge então em si uma vontade enorme de explorar sentimentos, sensações e formas de pensar/estar na vida através da literatura infantil. O que fez dar esse grande passo e lançar estes dois livros? Pode de facto um livro moldar o pensamento de uma criança?
A escrita foi uma descoberta que a pandemia me proporcionou. O confinamento e o afastamento social promoveram um sentimento de falta, uma carência de contato e da necessidade de estar com os outros. Esta foi a forma que eu encontrei para tentar colmatar esse sentimento. Os meus livros para além de contarem histórias, têm sempre por objetivo transmitir uma mensagem relevante. Na obra “O Planeta da Galochas” falo sobre a importância de protegermos o planeta e o livro “O meu avô não virou estrelinha” relata uma emocionante história sobre luto infantil, tema quase tabu e que devemos começar a tratar com mais naturalidade. A literatura infantil permite-me conciliar duas paixões: as crianças e a psicologia. Acredito que um livro pode moldar o pensamento e o comportamento de uma pessoa em qualquer idade, mas, quanto mais cedo se iniciar a leitura e a aprendizagem através dos livros mais fácil se torna a interiorização das temáticas. Têm aqui um papel relevante os pais/tutores, educadores e professores.
É inegável que cada vez mais os jovens se afastam dos livros, na mesma medida em que se aproximam dos conteúdos digitais. Como podemos inverter essa tendência?
Considero o afastamento dos livros por parte dos jovens uma questão realmente preocupante. O meio-termo seria o ideal, não temos de abdicar de uma coisa em prol da outra, os livros e os equipamentos digitais são perfeitamente compatíveis. Podemos ler um bom livro num tablet, num computador, não vejo qualquer problema nisso… mas não temos de realizar uma substituição definitiva. Não sei se é possível inverter a tendência, mas devemos trabalhar, quer em casa quer nas escolas, no sentido de moderar as preferências.
Olhando agora para o mundo da psicologia, quais são os efeitos que uma pandemia como esta pode ter tido para nós enquanto sociedade? O que mudou para sempre?
Está comprovado que a pandemia teve e está a ter consequências a vários níveis, e a saúde mental, é claramente uma das vertentes mais afetadas. O medo da doença, o isolamento social, a perda de emprego, entre muitos outros fatores despoletaram estados acentuados de ansiedade e stress. Estes quadros poderão deixar marcas para alguns mas quero acreditar que a maioria, depois de retomar a normalidade, consiga ultrapassar as dificuldades. Contudo, é preciso estar atento e garantir o apoio necessário a quem precise. O apoio psicológico é fundamental em situações de patologia grave ou ligeira. Quanto ao que mudou para sempre, tratando-se de um acontecimento à escala global, penso que ainda é cedo para fazer essa análise e tirar conclusões.
A Marta tem também um blogue onde partilha diversos conteúdos e onde explora o seu próprio “eu” e o que a rodeia. Fale-nos um pouco sobre esse projeto.
É isso mesmo, eu gosto de escrever e o que escrevo nem sempre resulta num livro. Por vezes são ideias soltas sobre um assunto de que se fala, um pensamento, uma dúvida… algo que me faz pensar e surge a necessidade de escrever o que sinto nesse momento. Por isso o blogue foi criado com o objetivo de partilhar ideias, pensamentos, experiências, reflexões, sobre temas diversos. A maioria dos textos é escrita por mim mesmo os que são acompanhados por vídeos, nos quais os meus convidados falam da sua experiência pessoal sobre a temática desenvolvida no texto. Para além de divulgar através deste meio os meus livros, divulgo também alguns trabalhos manuais que vou desenvolvendo com diferentes materiais. A base fundamental é mesmo a partilha e fico muito satisfeita quando me desafiam e quando me enviam textos para eu partilhar.
Terminemos com um exercício de imaginação e criatividade. Se pudesse mudar de vida e ter qualquer profissão, em qualquer sítio do mundo, o que escolheria?
Há duas coisas que eu costumo dizer, uma é que sou uma eterna insatisfeita e a outra é que me imagino a fazer coisas muito diferentes. Desde sempre me lembro de dizer que gostava de ser educadora de infância, por outro lado, adoro o mundo das artes… numa grande metrópole, mas na verdade imagino-me apenas a ser feliz aqui na minha cidade.
PERFIL
Um filme – Para Sempre Alice, com Julianne Moore
Uma música – Porto Sentido, Rui Veloso
Um livro – O tempo entre costuras, María Dueñas
Uma inspiração – Família e positividade
Uma viagem – Viena – Áustria
Um prato – Polvo à lagareiro
Fernando Gil Teixeira