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“O fato de a Guarda ter sido eleita para sede do Centro de Educação Rodoviária enche-me de orgulho”, Santinho Pacheco


Com um percurso político de mais de 40 anos, Santinho Pacheco é o rosto mais conhecido e a voz que mais afincamente se levanta em prol do distrito da Guarda na Assembleia da República. Ao longo desta entrevista, fala-nos do seu percurso, das “bandeiras” deste mandato que agora finda e do que se propõe fazer aquando a reeleição de deputado pelo Círculo Eleitoral Socialista da Guarda, deixando a garanti ade que continuará “a lutar e defender intransigentemente os interesses da Guarda”.

Há quantos anos está na política e como foi o seu percurso?
Ao longo dos anos fui subindo gradualmente, sempre como militante do Partido Socialista (PS). Depois de regressar da tropa, comecei por dar aulas, em 1975, em Gouveia, sendo que o meu início na política acontece em 1976 com a eleição de Presidente da Assembleia Municipal de Gouveia. Nas eleições seguintes, em 1979, sou eleito Vereador e Presidente da Junta de Vale da Serra, de onde sou natural. E, finalmente, em 1982 sou eleito Presidente da Câmara de Gouveia, cargo que ocupei até 2002, com algumas suspensões de mandato que, entretanto surgiram por força de ser deputado no tempo de António Guterres durante a 8ª Legislatura que acabou por ser interrompida com a queda do governo. Entretanto, entre 2002 e até 2008 permaneci ativo na política a nível distrital, até assumir o cargo de Governador Civil da Guarda, funções que desempenhei até 2011, ano de extinção dos mesmos. Por fim, de há quatro anos a esta parte assumo o cargo de deputado na 13ª Legislatura.

Como encarou, na altura, essa medida de encerramento dos Governos Civis?
Encarei como uma decisão errada porque, na prática, extinguiu os representantes do governo a nível local. É certo que nos grandes centros urbanos, a figura do Governador Civil não assumia a mesma importância que assumia nos territórios de baixa densidade, como é o caso da Guarda. E, nesse sentido, a abolição dos 18 Governos Civis acabou por se revelar uma má medida, já que a ponte direta entre os distritos e a administração central deixou de ser estabelecida, passando a ser feita directamente através dos 308 municípios a nível nacional.

Está à beira de concluir o primeiro mandato como deputado eleito pelo círculo eleitoral da Guarda. Que balanço faz destes quatro anos?
Ao longo de todos estes anos na política sempre me pautei por ser correto, seguir o meu percurso sem passar por cima de ninguém, quer a nível pessoal, quer profissional. E o reconhecimento foi surgindo ao longo dos anos. Chegar à Assembleia da República em representação do distrito da Guarda foi, e continua a ser para mim, um grande motivo de orgulho pelo que o balanço é extremamente positivo.

O que o motiva como deputado?
Defender os interesses deste distrito e deste território tantas vezes flagelado por motivos vários, é realmente o que me motiva. Levar a voz do meu povo, defender ideias e atrair o máximo de investimento político é gratificante. Por outro lado, levar até à Assembleia da República o que de melhor se faz no nosso distrito, sejam os produtos endógenos, a nossa cultura, as nossas gentes é motivante e, no fundo, acabo por ser uma “montra” do nosso distrito em Lisboa. O deputado também tem a missão de dar a conhecer e fazer propaganda pelo seu distrito, motivar o turismo, o investimento e ser um bom representante do povo que o elegeu. Um deputado, um presidente de junta ou um presidente de câmara, tem de servir o povo e defender os seus interesses. Não é o povo que precisa dos políticos. São os políticos que precisam do povo, do seu voto e, como tal, devemos ser nós (políticos) a servir a população.

 Tem sido uma das vozes mais defensoras do Interior do país a vários níveis, seja no caso do encerramento dos Correios, seja contra a questão das portagens na região. Sente que a sua actividade como deputado tem sido útil para a Guarda?
O encerramento de serviços no Interior do país, e falando concretamente no caso da Guarda, é um problema que só agrava a desertificação e o despovoamento. Ao longo destes quatro anos tenho tentado segurar o que temos evitando o encerramento de serviços, por um lado, e, por outro, atrair novos investimentos. E, nessa matéria, o fato de a Guarda ter sido eleita para sede do Centro de Educação Rodoviária enche-me de orgulho. Foi um projeto pelo qual me debati enquanto Governador Civil, inclusive cheguei a preparar e entregar esse dossiê. Na altura, em Salamanca, já existia um Centro de Educação Rodoviária e achei que faria todo o sentido ter um na Guarda. Nessa altura, em 2008, levantei o problema na Assembleia da República. E agora, passados onze anos é assinado um Protocolo que garante a instalação deste Centro na cidade da Guarda, numa parceria com o Instituto Politécnico da Guarda (IPG).
Na verdade, considero que tive uma actividade intensa ao longo destes quatro anos, útil para a Guarda, seja ao nível das portagens, do encerramento dos CTT, no apoio às Instituições de Solidariedade Social, as minas de urânio em Retortilho junto à fronteira com Espanha, o encerramento do balcão da Caixa Geral de Depósitos em Almeida, entre outros.

Podemos dizer que a instalação, na Guarda, do Centro de Educação Rodoviária é a “bandeira” deste seu mandato como deputado?
Esta é a prova concreta de que o papel de um deputado pode fazer a diferença. Não fosse a minha insistência na altura como Governador Civil, a experiência como Deputado e, agora, novamente o “pegar naquela bandeira caída”, talvez este distrito do Interior do país não tivesse sido escolhido para instalação deste serviço que terá abrangência a nível nacional.

Relativamente à questão das portagens no Interior. Acredita na possível abolição?
O meu compromisso com a população é votar a favor de tudo o que seja bom para a Guarda e, na última votação sobre a matéria, votei a favor da abolição. No entanto, considero que muitas das propostas que se fazem a respeito desta questão das portagens são feitas com algum oportunismo dos partidos políticos. Repare, nesse mesmo dia em que se faz uma reivindicação justa para o Interior, propôs-se a abolição de portagens noutras vias em Lisboa e Porto, por exemplo. Qualquer pessoa entende que não será possível abolir todas as portagens ao mesmo tempo, perdendo uma série de receitas para o país. Abolir portagens no Interior e no Litoral em simultâneo é uma utopia. Gostaria muito que fossem abolidas no imediato mas, não sendo possível, já ficaria muito satisfeito com uma redução gradual que, no futuro, se possa traduzir numa abolição total nos territórios do Interior.

Ocupa o segundo lugar na lista de candidatos do PS às legislativas de 06 de outubro, numa lista liderada por Ana Mendes Godinho. No entanto, o seu nome não constava na lista inicial apresentada pela federação local. Como encarou essa exclusão?
Do ponto de vista político encarei de uma forma natural. Quando está em causa a escolha de um nome é natural a existência de divergências. Do ponto de vista pessoal, confesso que fiquei um pouco magoado. Entendi que essa postura por parte da federação do partido foi um julgamento ou uma espécie de castigo da minha actividade como deputado. Ao longo destes quatro anos dei o meu melhor em prol da Guarda e do partido, pelo que o afastamento do meu nome é uma mágoa, que nível pessoal, não perdoo. Tenho consciência plena, de que fui e sou um bom deputado. Por outro lado, fiquei extremamente agradado quando o meu nome é escolhido por António Costa para integrar esta lista liderada por Ana Mendes Godinho. É com muito orgulho que integro esta lista e é o reconhecimento do trabalho que tenho feito na Assembleia da República ao longo desta Legislatura. Neste momento, o assunto foi democraticamente ultrapassado. A lista que havia sido proposta foi rejeitada e o Partido Socialista escolheu quem se tem debatido em prol da região e em defesa dos interesses locais.

Nestas eleições, a Guarda elege menos um deputado do que nas anteriores. No entanto, a sua eleição é certa uma vez que é o segundo da lista e o Círculo Eleitoral da Guarda elege três deputados. O que se propõe fazer no próximo mandato?
Continuarei a lutar e defender intransigentemente os interesses da Guarda. A abolição gradual das portagens será, com certeza, um dos problemas que não deixarei cair. Será uma das nossas propostas de programa eleitoral e será uma directriz comum a todos os territórios do Interior, a par da aposta na área agrícola. Fomentar a agricultura, a ruralidade será outra das nossas preocupações e existe agora um conjunto de medidas que nos permitem repovoar o território, seja pela via do regresso ao cultivo dos campos ou do turismo.

PERFIL
Nome: António José Santinho Pacheco
Data de nascimento: 01-09-1951
Naturalidade: Vila da Serra (Gouveia)
Profissão: Professor
Cargos exercidos: Presidente da Câmara Municipal de Gouveia; Presidente da Associação de Desenvolvimento Rural da Serra Da Estrela; Membro do Conselho Económico e Social Governador Civil do Distrito da Guarda; Deputado na Assembleia da República eleito pelo Círculo da Guarda
Comissões Parlamentares a que pertence: Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa [Suplente]; Comissão de Agricultura e Mar, Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação; Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as consequências e responsabilidades políticas do furto do material militar ocorrido em Tancos; Grupo de Trabalho – Acompanhamento da Temática da Floresta Portuguesa e dos Incêndios – Ex-Grupo de Trabalho – Acompanhamento da Temática dos Incêndios Florestais

 

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