
Opinando: Ana Reis Nunes “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”
Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma
Lavoisier
Recentemente, a escola sede do nosso agrupamento (Agrupamento de Escolas de Fornos de Algodres) hasteou orgulhosamente o galardão Eco-escolas que atesta as boas práticas da escola em termos ambientais. Estava um dia luminoso com um sol de franzir os olhos, em que qualquer sombra era bem-vinda. Foi uma cerimónia simples mas muito simbólica, como se querem todas as coisas que nos apaixonam. Sob o signo do “Exemplo”, a iniciativa, mais do que fazer alarde do que se fez, alertou para o muito que falta fazer em prol do ambiente.
Esse dia teve como propósito maior enaltecer todo o esforço que as diversas entidades, dentro e fora da escola, têm feito para garantir um futuro mais sustentável. Assim, foi reconhecido o importante papel que as nossas “forças vivas”, desde a Direção da escola à Câmara Municipal, Bombeiros e Associação de Pais têm desempenhado em termos do ser exemplo de preservação e manutenção de um ambiente saudável. Porém, o destaque, merecido destaque, foi para os alunos, sobretudo os do 12º ano que este ano terminam o seu percurso nesta escola e que tiveram um desempenho excecional no que à defesa do ambiente diz respeito. Por conseguinte, foram galardoados com uma medalha representativa do apreço e do valor que a comunidade escolar lhes reconhece, mercê do trabalho realizado ao longo de três anos. A cerimónia, breve, terminou com a passagem de testemunho (leia-se “bandeira do Eco-Escolas”) desses alunos “seniores”, para os seus colegas mais novos que este ano entraram para o 5º ano. Se as crianças são o futuro, temos que lhes dar exemplos positivos para que nunca esqueçam o que delas se espera. E foram elas, estudantes do 5º ano, a içar a bandeira que anuncia o firme propósito de levar longe a voz de uma Terra que reclama por cuidados urgentes e universais. A semente foi lançada e deseja-se que frutifique e se mostre nos comportamentos de cada um.
Frequentemente ouvimos dizer que uma pessoa sozinha pode fazer pouco. Nada mais errado. Se cada um assumir perante si próprio a sua quota parte de responsabilidade, o passo é gigantesco. Comecemos por pouco e em breve veremos muito. Em nós, se não nos outros. O desafio é que, na hora de “gastar” recursos, cada um se interrogue: “QUERO OU PRECISO?” Se a resposta for honesta, é possível que surpreenda. De facto, levados pela voragem de um consumo cego, nem sempre nos apercebemos das escolhas desnecessárias ou mesmo más que fazemos; impelidos pelo desejo de agradar e de ser aceites passamos ao lado do que é verdadeiramente essencial, por conta do verbo TER que se materializa como imperativo das nossas vidas. E a natureza não comporta tanto gasto desnecessário e desequilibra-se num mundo onde uns vivem sem limites e outros não têm o básico para sobreviver. Nada mais injusto!
A esta altura, acredito que alguém pergunte: “O que tem o que gastamos a ver com o ambiente?” ou “Que finalidade tem este texto?”. A primeira pergunta é fácil de responder: “TUDO! Tem tudo a ver!” Quanto à segunda, é uma espécie de pensamento em voz alta que me dispus a partilhar com quem tem a generosidade de ler este texto.
Poderia continuar a falar de sustentabilidade, de falta de recursos, de natureza em perigo, de alterações climatéricas. Muito teria para dizer. Porém, fico-me pela ideia de reciclagem (entenda-se “separação de resíduos”) que muito me diz. Sou adepta! Inicialmente, quando me vi a separar resíduos pela primeira vez, há muitos anos (muitos mesmo!) os “R” eram três, 3R: Reduzir, Reutilizar e Reciclar; entretanto, evoluímos para a política dos 4 R e acrescentou-se Recuperar; aparentemente eram poucos e passaram a 5 R: adicionou-se Renovar. Presentemente, fala-se numa atualização e a política dos R passou a aceitar 7 R: Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Recuperar e Renovar, Repensar e Recusar. Se lhes falo nestes R é porque acredito que está ao alcance de todos pôr todos em prática. Gosto particularmente da inclusão do último. Sejamos capazes de recusar que outros decidam por nós o que nos serve ou não. Porque a maior reciclagem tem que acontecer no interior de cada um, que cada um pense no exemplo que quer ser e como quer ser lembrado também nesta questão da sustentabilidade.
O princípio de que a aprendizagem é um processo permanente e contínuo também se aplica neste domínio, por isso, tenhamos a coragem e a determinação de querer continuamente aprender, sendo ponte para um futuro mais justo e uma Terra, nossa mãe comum, mais sustentável. Lembremo-nos, se mais nada nos convencer, do provérbio índio que uma grande amiga constantemente evoca: “Nós não herdamos a Terra dos nossos pais; tomámo-la de empréstimo aos nossos filhos”.