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Diretor: Paulo Menano

Opinando: Autárquicas, vote para não ignorar o futuro


«Não dizemos que um homem que não se interessa pela política se limita a meter-se na sua vida. Dizemos, sim, que é um inútil.»[1]

Péricles

 

O que se fez de mau? O que se está a fazer? O que poderia ter feito? O que aconteceu para não fazer? Quais as probabilidades de se fazer melhor?

As autárquicas são um momento em que os cidadãos querem ser levados a sério e também querem ter a sensação de que as suas preocupações estão a ser tratadas de forma sustentável. E para que o momento seja de elevação os cidadãos procuram nos candidatos, em princípio, duas coisas: ele deve ser profissionalmente qualificado e deve ter qualidades humanas. Ele tem que ser um tipo aberto, ser capaz de se aproximar das pessoas e ser capaz de lidar com elas. Ele tem que ser autêntico e honesto. Portanto, o candidato deve ser autêntico, honesto, carismático, ter a inteligência de ler a realidade, direto, forte na personalidade e com capacidade de exercer o cargo para as gerações e não como uma mente manga-de-alpaca e sem horizontes.

Um bom autarca deve ter boas habilidades de moderação na liderança de grupos de trabalho, reuniões e debates. Não deve ter medo de governar para as gerações do território, não obstante, de se confrontar com questões complexas de avaliação, na participação de discussões difíceis, por exemplo, não vacilar ante projetos de construção, na motivação em quem o rodeia de forma construtiva e ser suficientemente inteligente/capaz para ouvir/escutar diferentes opiniões que devem ser levadas com seriedade para a obtenção de uma significativa melhoria do bem-estar comunitário. Porque só assim poderá passar a ser visto como um autarca que inclui, na sua personalidade, autoridade, seriedade, persuasão e poder marcar, de facto, presença em festas locais como alguém que existe para servir em exclusivo a comunidade e do indivíduo.

Ora, o futuro dos municípios está no agir de todos nós e, não querendo ser pessimista, não se assegura nada fácil no interior das beiras porque não temos, no imediato, respostas para o fim de vida de algumas localidades, deficit demográfico, do “definhar” da floresta e para as consequências da digitalização na região que se irão fazer sentir, nomeadamente, no ensino não presencial nas localidades que acolhem alunos de outras localidades do território e etc. É neste contexto de incerteza que as certezas não se aplicam, e por esta ordem de razões, entre outras, temos que saber votar com competência.

Sabemos que a cabine de voto é sagrada, mas também, é o espaço de satisfação das fantasias fanáticas, do partidarismo explícito, dos desacordos, de mentes perturbadas, de cidadãos não empenhados para o ganho mútuo da comunidade, inimigos situacionais, a probabilidade de um indivíduo vir a fazer ou não qualquer diferença, isto é, o lugar onde a irracionalidade, o preconceito, a ignorância, apatia e a fantasia são punidas.

O voto é igual a um emblema honorífico, apesar do conhecimento político e a literacia económica não serem bem distribuídas entre todos os grupos demográficos. Com efeito o votante sabe quem é o presidente e pouco mais do que isto e, caso não saiba, tenta adivinhar ou não se rala com isso dizendo: “ são todos iguais.”

As eleições autárquicas são o sagrado momento do agir civil que tem de se sobrepor ao agir político incompetente, vulgar, de pechisbeque e não assentar numa base supostamente política do ódio com tendência a dividir os outros entre os maus e bons. Tudo é bizarro, principalmente em discussões insignificantes, superficiais, tribais e deprimentes, dado que não acrescentam nada ao agir político e ao bem-estar do comportamento humano.

A crítica e a firmeza não devem ser apenas frases irresponsáveis, de falta de cidadania e de manifestações preconceituosas do tipo: “ Falar mal de tudo e de todos é divertido”

É preciso saber fazer escolhas entre A e B que permitam saber o que de facto irão fazer. O que os eleitores não precisam de saber muito é para “expulsarem” do poder local quem está a fazer uma mau trabalho.

 

[1] Oração Fúnebre de Péricles, in Tucídides, Guerra do Peloponeso, Livro II, Cap. VII, P. 191, Edições Sílabo, 1 ª edição, Lisboa, 2008 «Não dizemos que um homem   que não se interessa pela política se limita a meter-se na sua vida. Dizemos, sim, que é um inútil. Nós, Atenienses, somos capazes de ajuizar todos os acontecimentos, e, em vez, de consideramos a discussão dos mesmos como obstáculo para a ação, pensamos que ela constitui um passo preliminar indispensável a qualquer ação prudente. Uma vez mais, nos nossos empreendimentos, apresentamos o singular espectáculo da ousadia e da deliberação, cada uma delas levada ao mais alto grau e levadas a cabo pelas mesmas pessoas, embora seja verdade que, usualmente, a decisão tanto seja filha da ignorância como a hesitação o é da reflexão.»

 

Carlos M. B. Geraldes (Ph. Dr.)