
Autárquicas 21: Entrevista a Fernando Figueiredo, candidato pela Iniciativa Liberal a Viseu
Após quatro anos de mandato, retomam agora as eleições para as Autárquicas 2021 e o Mais Beiras Informação decidiu ir ao encontro dos candidatos, colocando-lhes algumas questões, para que possam partilhar a sua visão e planos para o futuro do Município a que se candidatam.
Quais os motivos da sua candidatura a estas Autárquicas?
Enquanto no ativo no serviço do Exército estava, por principio e dever, inibido de participar na vida politica do concelho que escolhi para viver há mais de 35 anos. Mas, não dispenso a minha cidadania nem a capacidade que, sem falsa modéstia, angariei com longos anos e vasta experiência profissional em diversas áreas e assumo como diferenciadora para gerir os destinos do concelho de Viseu. Depois de muitos anos no sofá a assistir e a criticar é tempo de realizar, de fazer acontecer pela positiva o que sei fazer bem, servir os Viseenses como sempre, como Soldado, servi Portugal.
O que considera ter de diferente dos outros candidatos, para se candidatar a este mandato?
Sou o único candidato que se apresenta com um programa liberal, o que só por si já me diferencia dos restantes candidatos. Mas não fica por aí, pois se considerarmos o histórico eleitoral no concelho de Viseu é fácil perceber que existe um domínio do PSD há várias décadas, sendo apenas desafiado pelo PS e, mesmo assim, sem grande sucesso. Ora, na prática os candidatos destes partidos acabam já por estar inseridos na máquina dos mesmos e basta olhar para o seu percurso para perceber que têm feito a sua vida praticamente ligada à política. Esse é outro aspeto que me distingue dessas candidaturas, pois apesar de já ter tido oportunidade de desempenhar algumas funções no passado, a minha vida não está construída em torno dos lugares e dos cargos políticos.
Candidato-me uma vez mais, com o objetivo de servir os Viseenses e demonstrar que é possível fazer política seguindo uma visão diferente, com uma postura diferente e com resultados diferentes.
Quais os setores que considera importantes impulsionar ou melhorar na região?
Gostaria de começar por esclarecer desde já um ponto fundamental para compreender a minha visão e a posição da Iniciativa Liberal. Ao contrário do que se pretende muitas vezes passar, a nossa prioridade são as pessoas. Não é a economia, não é o papel do Estado… são as pessoas. A definição da economia e o papel do Estado são apenas um meio para alcançar um fim, sendo esse fim a melhoria das condições de vida de todas as pessoas na sociedade civil.
Nesse sentido, considero fundamental aposta em medidas que permitam dinamizar a economia, pois esta é o motor do desenvolvimento. É preciso tornar o território atrativo para atrair investimento e fixar empresas, pois essas empresas geram valor e emprego para a economia local e, por sua vez, isso traduz-se em desenvolvimento humano. Para tal, e dentro daquilo que é a área de atuação da autarquia, é preciso baixar a carga fiscal, simplificar os processos administrativos que dependem da administração local, promover e divulgar o território, implementar medidas efetivas de combate ao despovoamento e tornar todos estes processos mais transparentes e próximos do cidadão.
Infelizmente, temos verificado que, por vezes, nem é assim tão difícil atrair investimento. Mas uma das principais dificuldades sentidas por várias empresas que têm investido em Viseu passa pela dificuldade em recrutar talento qualificado. Nessa perspetiva, considero que existem duas formas de abordar o problema: uma passa por impulsionar a oferta formativa ao nível do ensino superior, para garantir que os jovens Viseenses tenham oportunidade de se formar na sua cidade e em proximidade dos potenciais empregadores que se fixam na região. Por outro lado, considero que é fundamental apostar nos setores que impactam diretamente a qualidade de vida das pessoas. Quem aceitará fixar ou vir trabalhar para Viseu se não tiver acesso a cuidados de saúde de qualidade, uma boa educação para os filhos, mobilidade, oportunidades para usufruir de espaços verdes e equipamentos de bem-estar, e acesso a cultura?
A receita é simples e já foi aplicada em várias cidades e regiões por esse mundo fora. Basta pensar porque é que aqui ao lado, em Espanha, existem várias cidades com elevado nível de desenvolvimento a centenas de quilómetros da faixa litoral, enquanto em Portugal o interior definha a cada ano que passa?
Nestes quatro anos que passaram, o que faria de diferente relativamente ao executivo Camarário vigente?
Governaria para as pessoas e com as pessoas. A autarquia tem uma excelente estrutura, tem recursos humanos de qualidade e como não há maus soldados, mas sim maus chefes, uma liderança motivacional centrada nas pessoas fará toda a diferença. Viseu tem tudo para ser o exemplo na região, falta levar os Viseenses a acreditar que somos capazes. Com uma liderança forte a Universidade Pública nunca teria sido perdida a favor de outro concelho. Sei conduzir um trator e no dia que isso foi anunciado, fosse eu o gestor camarário e atrás de mim seguiriam todos os tratores do concelho com destino a S. Bento! Só se lidera pelo exemplo, é isto que faria de diferente relativamente ao passado, geria com os Viseenses um concelho pelo exemplo!
Acredita que os recursos de que dispõe a Câmara são suficientes para fazer face às necessidades dos cidadãos que aqui residem?
Tanto que defendo uma redução de impostos nomeadamente o IRS de 4 para 2%, o que significará uma perda de cerca de 3 milhões no orçamento camarário. É possível fazer mais com menos embora isso só possa acontecer com quem esteja na gestão autárquica como deve estar na vida, com a noção de que primeiro há que dar resposta ao essencial e só depois ao acessório. Primeiro há que garantir a educação, a saúde, o emprego e a segurança aos Viseenses e o que sobrar então será para o demais que preenche o desiderato, o lazer e o bem-estar!
Sendo um conselho situado no Interior, que políticas acredita serem necessárias implementar pelo Governo para diminuir o despovoamento e desertificação?
O problema do despovoamento do interior é multidimensional e, infelizmente, não existe uma solução direta para o mesmo, pelo que requer não só uma abordagem integrada de políticas públicas, mas também uma mudança profunda de mentalidade e, até mesmo, cultural.
Sendo impossível ir ao detalhe desta problemática, considero que os principais eixos estratégicos para combater o despovoamento passam por:
1. Incentivar fortemente o desenvolvimento de negócios no interior. Seja através da redução da carga fiscal, seja através de programas de incentivos às empresas. Atualmente, existem vários programas nesse sentido, mas os critérios de atribuição dos incentivos e todo o processo de candidatura são demasiado complexos e orientados para os objetivos das estratégias nacionais, ao ponto em que a esmagadora maioria dos empresários acaba por não ter condições para se candidatar e, muito menos, usufruir acesso a esses fundos. É preciso descomplicar os incentivos e fazer chegar os mesmos onde poderão fazer diferença na economia real, isto é, aos empresários locais e às pessoas com vontade de lançarem os seus negócios.
2. Da mesma forma que é preciso reforçar e simplificar os incentivos para as empresas, também é preciso encontrar forma de incentivar as famílias a fixarem-se no interior. Como já referi, isso passa pela criação de condições de vida com dignidade e com qualidade, mas pode e deve ser complementado com incentivos diretos, tais como apoios diretos a estas famílias e de forma simplificada, sem grandes condições para utilização desses apoios para além do facto de a família se fixar no interior.
3. Promover uma mudança de mentalidade e valorização do interior, pois ainda existe a visão de que apenas nos grandes centros urbanos é que existem oportunidade de trabalho e qualidade de vida. Se há coisa que a pandemia nos demonstrou é que hoje, em vários ramos de atividade, já existem condições para realização de negócios e/ou de trabalho remotamente, pelo que se abrem várias oportunidades para quem decida viver no interior. Uma estratégia interessante passaria por apostar na criação de negócios 100% digitais, permitindo vender produtos e serviços diferenciados a partir de uma aldeia ou vila do interior, talvez até mesmo combinando isso com a exploração de produtos locais.
Que medidas pretende implementar para captar investidores para o concelho?
No programa da Iniciativa Liberal para Viseu, apresentamos um conjunto de medidas para a dinamização da economia no concelho. Entre estas, destacaria aquelas mais orientadas para a captação de investidores, nomeadamente:
– Desburocratização do licenciamento de atividade económica com programa-piloto de pré-licenciamento com fiscalização posterior
– Incentivos fiscais à fixação de empresas que criem, pelo menos, 5 postos de trabalho, independentemente do setor de atividade
– Rever e flexibilizar as condições oferecidas ao nível do programa “Viseu Investe”
Como acha que deve a Câmara proceder, para procurar fazer face ao desemprego crescente na região?
A solução para o desemprego está intimamente ligada com a dinâmica da economia local, sendo questões indissociáveis. No entanto, sabemos que o desemprego é um dos efeitos de uma economia fraca e pouco competitiva. Como tal, parece-me que a solução para este problema passa por atacar as suas causas e isso passa, necessariamente, por proceder à implementação de medidas que visem dinamizar a economia e torná-la mais competitiva e eficiente. Se as empresas não se souberem posicionar no mercado, não terão procura para os seus produtos e serviços. Sem procura não há receitas. Sem receitas não há sustentabilidade e surge o desemprego.
Nesse sentido, a Câmara deve dar prioridade às medidas que fortaleçam a economia local, sem que isso impeça a adoção de medidas de apoio social para as pessoas desempregadas.
Que conselho daria a um deslocado em busca de novas oportunidades no Interior?
Aconselharia a vir para Viseu, pois esta é, de facto, a melhor cidade para viver e trabalhar. Apesar disso, acredito que existe sempre espaço para melhoria, sendo essa uma das principais motivações que me impulsiona a mim e a todos os elementos neste projeto para as eleições autárquicas.