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Diretor: Paulo Menano

Cineclube Gardunha do Fundão anunciou programação para abril


Nos 50 anos do 25 de Abril, o Cineclube Gardunha propõe-se olhar o passado, relembrar os nefastos processos utilizados pela ditadura, bem como o momento revolucionário a quente e os seus efeitos posteriores.
Homenageam JAIME, de António Reis, que estreou em Portugal em 1974, um filme com a mesma idade da revolução de abril. Ante-estreado no Fundão pouco antes da revolução, no âmbito de um aniversário do Jornal do Fundão, contou com a presença de grandes figuras – de Eugénio de Andrade a José Cardoso Pires ou Fernando Lopes-Graça, bem como o próprio Reis e Margarida Cordeiro. Foi um marco importante para a cidade e a região, pois o Jaime retratado no filme é natural do Barco, na Covilhã.
Será um momento de comoção e de reconhecimento da persistência da memória. Dia 2 de abril, A FLOR DO BURITI e a luta perpétua, até aos dias de hoje, do povo indígena Krahô, habitantes do território denominado kraholândia: área que compreende as fronteiras entre os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, no Brasil. Os realizadores estão presentes.
Seguidamente, no dia 9, e excepcionalmente pelas 21H00, uma dupla sessão: a homenagem aos também 50 anos da estreia de JAIME, num período quente, acompanhado por um documentário essencial sobre o período que se seguiu ao 25 de abril. TORRE BELA, um filme/documento que o alemão Thomas Harlan continuou a montar e a remontar obcessivamente até ao fim dos seus dias – existindo por isso múltiplas e diferentes versões, mostra as promessas e as utopias dos movimentos cooperativistas, dos trabalhadores rurais, a ascensão e queda de uma prática comunitária livre e igualitária.
Fernando Paulouro e Isaura Reis conversam, logo após o filme.
A 12 de abril, um parêntesis, ou não…. Dando seguimento a um pequeno ciclo de 4 filmes com a livraria/alfarrabista Livros Tintos, homenagem ao incomparável escritor americano Hunter S. Thompson e o seu inadjetivável Fear and Loathing in Las Vegas.
A homenagem éfeita com a leitura de trechos da sua obra, seguidos da adaptação cinematográfica do seu romance feita por Terry Gilliam, num projeto ultra pessoal de Johnny Depp, que deu, literalmente, o corpo ao manifesto como protagonista, num dos filmes mais loucos e selvagens dos anos 90.
O inventor do célebre jornalismo Gonzo – reportagem furiosamente na 1ª pessoa – símbolo da contracultura e alguém que viveu a sua vida e a sua profissão nos seus termos, no fundo é um revolucionário humanista, anti-imperialista e apaixonadamente livre.
A sessão é apropriada, bela e furiosa, perfeita para abril. Também começa às 21H00. A 16, um filme terrível mas essencial, é preciso vê-lo e revê-lo para que não se voltem a cometer os erros do passado, para que se relembre sempre o horror de um regime fascista e dos seus maquiavélicos processos: 48, de Susana de Sousa Dias.
Através de fotografias e dos depoimentos de quem foi preso e torturado, perceber os minuciosos detalhes da máquina de horror do regime Salazarista. É a peça central do ciclo. A realizadora está presente.
E a 23 de abril, um dos grandes filmes do nosso cinema, e do cinema contemporâneo tout court. CAVALO DINHEIRO é o culminar do trabalho de Pedro Costa com a comunidade cabo-verdiana a residir em Lisboa. E nunca assim vimos o outro lado da revolução de abril, através dos olhos e das histórias de expatriados perdidos numa terra que os assombra. Sem bairro, sem comunidade, sem os seus, Ventura, o mais fabuloso ser da galeria dos filmes de Costa, vagueia pelas sombras de promessas perdidas. João Dias, montador do filme e residente no concelho do Fundão, está presente.
A fechar, a 30 de abril, um mergulho nos abismos de um presente inconcebível, que nos deixa de boca aberta perante tamanha indiferença pelas vidas humanas. Matteo Garrone, o cineasta italiano, célebre pelo relato brutal e perturbador da máfia de Nápoles que urdiu em GOMORRA, narra agora a odisseia de um jovem senegalês de Dakar em busca de uma Europa “mítica”, numa arriscada travessia do Mediterrâneo a bordo de um barco sobrelotado, depois de ter enfrentado a hostilidade do deserto e a crueldade dos centros de detenção na Líbia.
Com a presença de João Mota, técnico superior do Centro Migrações Fundão e de mais convidados.