Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Entrevista a Rui Nascimento, treinador do Vila Cortês


Rui Nascimento e o Vila Cortês do Mondego já se confundem, parecendo fazer parte um do outro desde sempre. O treinador está a orientar o clube já há 7 temporadas, já esteve com a equipa no Campeonato de Portugal e numa grande entrevista ao MaisBeiras Informação, falou sobre esta ligação muito especial, sobre o presente da equipa e sobre os objetivos para o que ainda está para vir.

 

Esta ligação ao Vila Cortês vai-se prolongando e prolongando. É já uma segunda casa para o mister? Como descreveria esta ligação com o clube?

Antes de mais reconhecer este seu trabalho que muito contribui, entre outras coisas, para valorizar o futebol da nossa região. Naturalmente que tantos anos fazem com que esta minha ligação seja muito especial. Conheço tudo e todos quase como a palma das minhas mãos e tenho consciência do que esperam do meu trabalho. A chave desta continuidade tem diversos fatores, mas um dos principais tem sido claramente o relacionamento e respeito mutuo que existe entre mim e o grande líder deste clube, Lúcio Valente. Todos os anos têm surgido contactos, mas, até ao momento, nenhuma chegou à efetividade de objetivos que o S.C. Sabugal me propôs aquando da minha saída nas épocas 2014/2015 e 2015/2016, e isso tem-me mantido por aqui, onde verdade seja dita, me sinto como se estivesse em casa, com uma verdadeira segunda família. Sinto-me muito bem onde estou, mas o futuro a Deus pertence e obviamente um dia esta ligação terminará, e quando terminar, certamente sairei pela porta grande.

 

Voltou do Campeonato de Portugal para o distrital há 2 temporadas. Ainda é uma experiência que o marca, essa de ter levado este clube tão especial para si aos nacionais e ter dado essa alegria ao clube e aos adeptos?

O contexto pandémico acabou por apresentar conjunturas desportivos especiais, permitindo equipas a subir de escalão sem ser por classificação, como também foi exemplo o que aconteceu no Campeonato Distrital Sénior da A.F. Guarda. No nosso caso, quisemos também dizer presentes e aproveitar uma hipótese única para aprendermos ainda mais. Foi claramente um momento único para muitos, desde freguesia, atletas, treinadores a dirigentes, mas principalmente para o clube. Infelizmente, aquilo que muito caracteriza o Vila Cortez não existiu devido às restrições COVID, que foi o público e isso teve influência clara no nosso desempenho. No entanto, além da projeção que acabámos por ter a nível nacional, possibilitou-nos experiências e ensinamentos que obviamente muito contribuíram para o crescimento de tudo e todos.

 

Todos dizem que o distrital da Guarda se tem vindo a tornar cada vez mais competitivo. Nota também isso? Quais são as diferenças que vem notando nos últimos tempos?

Existem diversos fatores que levam a isso, entre eles, ressalvo a qualidade do trabalho técnico, onde naturalmente a Associação de Futebol da Guarda acaba por ter um papel importante devido à aposta feita na área da formação. Aliado a isso, havendo orçamentos mais equitativos como agora acontece, as diferenças não são tão notadas e permitem que a classificação seja mais renhida e subsequentemente mais emotiva para quem joga, mas também para quem acompanha.

 

Continua a existir uma dificuldade crónica das equipas do distrito se conseguirem manter nos nacionais. Por exemplo, Castelo Branco tem 4 equipas nos nacionais e a Guarda tem tido sempre apenas um representante que tem sempre descido no ano seguinte a subir, como agora parece a Guarda Desportiva destinada. Haverá alguma forma de combater isso e inverter a tendência na sua opinião?

Existem vários fatores, um deles é a série em que a F.P.F. insere as equipas da Guarda. Cada série possui as suas dificuldades, mas relembrar, a exemplo, que no ano em que descemos conjuntamente com 2 histórico do futebol português, Águeda e Beira Mar, tínhamos também como adversários o Anadia, Canelas, Lourosa, S. João de Ver, Sanjoanense, Valadares, Sporting de Espinho, entre outras, tendo 5 delas subido à Liga 3 que foi criada essa época, das quais 4 ainda aí se mantêm. Outro fator é a falta de matéria prima para recrutamento. Aqui sofremos um pouco o peso da interioridade, não é que não existam atletas na nossa região e de qualidade, o problema é que alem de poucos, grande maioria dos nossos jovens vão estudar para fora e sem treinar regularmente, em patamares de exigência máxima, nada feito. Outro fator e claramente possivelmente o principal, financiamento. Equipas como Associação Desportiva da Guarda, A.D. Fornos, G.D. Gouveia, A.C.R.C. Sourupires e outras, também se lá mantiveram e com boas classificações, mas sempre assentes em grandes orçamentos e subsequentemente bons e equilibrados planteis No entanto esse “esforço” levou à extinção de alguns clubes e ao endividamento de outros e isso tudo deve ser bem ponderado na hora de se avançar. No distrito da Guarda os clubes são subsídio-dependentes dos Municípios, e, para os patamares de exigência do atual Campeonato de Portugal, é claramente insuficiente. À semelhança de Castelo Branco e outros distritos, os clubes procuram sustentabilidade em outras receitas, algo nada fácil na nossa região pois obriga a que o tecido empresarial local se identifique e participe nos projetos, tal como os seus sócios, convergindo na realização ações diversas que potencializam o aumentam de recolha de capitais. Algo que agora também está em voga são os projetos semelhantes aos que recentemente têm sido utilizados pela Guarda Desportiva F.C. e Desportivo de Gouveia, assentes em investidores que garantam grande parte das exigências desportivas e financeiras dessa competição. Por fim, a “profissionalização”, pois não é a treinar 2 a 3 vezes por semana, com planteis 100% amadores, curtos e por vezes pouco equilibrado que se consegue competir com clubes que na sua estrutura, alem de 24 jogadores ou mais, possuem treinador principal, treinadores adjuntos, departamento de analise, preparador físico departamento de médico, nutrição, etc. Basicamente, ou é a sério ou eventualmente não valerá muito a pena perder tempo e dinheiro.

 

Como analisa a última temporada em que o clube ficou a apenas 4 pontos do título distrital?

Considero que foi uma boa época, intensa, bem disputada e bastante competitiva, ganhando quem apresentou maior regularidade. Naturalmente, tratando-se a Guarda Desportiva F.C. de um clube praticamente profissional, treinando todos os dias e por vezes de forma bidiária, estiveram sempre em vantagem em relação a todos os outros clubes, mostrando-se mais competentes. No entanto, mais uma vez, provámos que com pouco orçamento, mas com boas condições de trabalho, uma equipa muito competente, uma direção empenhada e um publico fantástico, conseguimos bater-nos com qualquer equipa, daí o honroso 2º lugar e subsequente participação na edição 2022/20223 da Taça de Portugal. De realçar que todo e qualquer resultado está assente em quem nos apoia e aí, claramente, o Municipio da Guarda tem sido um dos maiores aliados, sem o qual nada do que o clube é hoje, desportiva e patrimonialmente, seria possível.

 

Esta temporada está a existir uma luta intensa e quase no final da primeira volta apenas 7 pontos separam os seis primeiros classificados. O Gouveia e o Guarda FC parecem partir na frente como favoritos, mas tudo pode mudar. Como analisa a época até agora e quais são os objetivos para o Vila Cortês?

Há semelhança da época anterior, está a ser um campeonato bem disputado, mas ainda com maior equilíbrio. Praticamente em todas as jornadas existem “surpresas” e nenhum jogo está garantido. Desportivo de Gouveia e Guarda F.C. têm estado na frente, com mérito, mas tudo pode mudar num curto espaço de tempo, como se constata jornada após jornada, daí ser importante manter o foco e pensar jogo a jogo por forma a mantermo-nos nos lugares cimeiros. Sabemos que temos qualidade para disputar todos os jogos para ganhar e é nessa mentalidade que está assente a nossa dinâmica de trabalho.

 

Venceu o prémio de melhor treinador de desportos coletivos seniores de 2022 na Gala do Desporto da Guarda. Como se sente relativamente a esse reconhecimento que lhe foi atribuído?

Apesar de não ser isso que me move, um prémio é sempre um prémio e estaria a ser hipócrita se disse-se que não fiquei satisfeito com esse galardão. Estes reconhecimentos acabam por me dar ainda mais forças e motivação para continuar a trilhar este caminho no futebol que já faço há muitos anos. No entanto este prémio acaba por não ser só meu, mas sim de todos os que me têm acompanhado nesta viagem, desde jogadores, treinadores, diretores, presidentes, adeptos e obviamente nos meus maiores fans, a minha família.