Ao longo de quatro meses, em conjunto, escreveram e compuseram músicas olhando coletivamente o mundo e resgatando para a música as suas vivências e sentimentos.
“A ideia deste projeto era começar com a palavra, com o texto, e depois partir para o processo de composição, subvertendo o método habitual. Aqui partimos do texto, do debate sobre um tema, e apontámos uma série de caminhos possíveis para uma abordagem desse tema. Definimos essa abordagem e começámos a concretizar a letra e, a partir dessa letra bem estruturada, bem pensada, eles foram trabalhar na composição com o Gonçalo”, explica Capicua, salientando que houve da sua parte uma preocupação em “passar muitas ferramentas e coisas mais práticas, as minúcias do ofício”. “Aquilo que eu acho que foi mais importante transmitir-lhes foi como é que se alimenta uma ideia, porque às vezes é uma coisa muito vaga e é preciso não só concretizá-la, como desenvolvê-la. Às vezes, uma letra pode vir do jogo de palavras, de uma imagem, do jornal, mas é preciso que nós pensemos, primeiro, no que é que queremos dizer, qual é a nossa mensagem, e depois como é que a vamos dizer, qual a nossa abordagem”, refere.
Através dos encontros com os dois artistas, os jovens olharam coletivamente o mundo, resgataram as suas vivências e partilharam os seus sentimentos. Mas também desenvolveram competências técnicas, nomeadamente no que toca à composição musical.
“Desde o início que tanto a Capicua, como eu, quisemos muito passar a bola para o lado deles, que fossem eles a fazer. Eu sou dessa equipa de os incentivar a fazer, de lhes dar ferramentas para eles poderem fazer, serem autónomos e construírem eles as próprias canções. No fundo, eu senti-me um bocadinho como um guia ao ajudá-los tecnicamente. Como é que se faz aqui? Como é que se pode resolver ali? Quais é que são as possibilidades? No campo da música eletrónica, que softwares é que existem? O processo foi bastante partilhado e foi bastante dinâmico”, afirma Gongori.
O resultado final sobe agora ao palco do Teatro Viriato e conta com o entusiasmo unificador que só a música consegue ter e na qual a comunidade será envolvida.
“É importante as pessoas saberem isto. Os sons que estamos a utilizar foram eles que recolheram em contexto de ensaio. Tudo isso foi desenvolvido por eles, que terminam o projeto com essas competências mais apuradas”, reforça o músico.
“Três Tempos” é um projeto do Teatro Viriato, Culturgest (Lisboa) e Theatro Circo (Braga) que surgiu com o propósito de criar uma experiência de criação colaborativa em torno da música. A 03 de maio, os três grupos apresentam-se em Braga, no dia em que o Theatro Circo celebra o seu aniversário e no ano em que a cidade é Capital Portuguesa da Cultura. |