
Opinando: Eleições – O Debate do Passado no Modo Titanic, Enquanto o Futuro Afunda?
Os debates televisivos entre candidatos às eleições de 19 de maio de 2025 confirmam o que muitos suspeitavam: a política portuguesa tornou-se um espetáculo de provincianismo, mediocridade e miopia estratégica. Enquanto o mundo enfrenta revoluções tecnológicas, geopolíticas e demográficas sem precedentes, os nossos líderes limitam-se a esgrimir lugares-comuns, como se governassem um país reduzido ao litoral e imune às tempestades do século XXI. A questão que se impõe é dura: estaremos a assistir, complacentes, à capitulação definitiva da política à portuguesa?
Debate-se o Acessório, ignora-se o Essencial
Os temas dominantes nos debates — telemóveis nas escolas, quando estes estão para deixarem de existir nos próximos 5 anos, rivalidades pessoais, medidas cosméticas — revelam uma classe política obcecada com o efémero. Enquanto isso, questões estruturantes são varridas para debaixo do tapete:
A Inteligência Artificial vai dizimar empregos tradicionais (atendimento, logística, até profissões liberais), mas não se discute como preparar os jovens para essa realidade. Continuamos a formar licenciados para empregos que deixarão de existir.
O Estado Social está em rota de colapso. Com uma população envelhecida e menos contribuintes, quem pagará pensões e serviços públicos? A resposta, nos debates, é o silêncio.
A Defesa e a Geopolítica são tabus. Num mundo onde a guerra volta à Europa e as cadeias de abastecimento são armas políticas, Portugal não tem estratégia — apenas a ilusão de que a NATO nos salvará.
O mais preocupante não é a falta de soluções, mas a naturalização do absurdo. Discute-se freneticamente o irrelevante, enquanto o futuro chega sem convite. É como ver um passageiro no Titanic a discutir a cor das toalhas da mesa do jantar — com o iceberg já à vista.
Há duas explicações possíveis para esta apatia:
Cansaço democrático não dá para mais: Os cidadãos, esgotados por décadas de promessas falhadas, dos comentadores, desistiram de exigir visão.
Incompetência estrutural: As instituições portuguesas, frágeis e capturadas por interesses do arco-da-velha, são incapazes de pensar além do próximo ciclo eleitoral.
O resultado é um país que navega à vista/deriva, sem rumo nem bússola. Enquanto nações investem a sério em educação digital e atração de talentos, nós ainda discutimos, com ar de descoberta, se a inteligência artificial é ‘uma modinha’ — em vez de, sei lá, reestruturar os currículos desde o ensino básico para preparar as próximas gerações. Prioridades, não?
Se queremos evitar o destino de uma nação irrelevante, é urgente repensar as prioridades:
Revolução Educativa: Redesenhar currículos para competências do futuro (programação, pensamento crítico, adaptabilidade).
Renda Básica Adaptada: Criar redes de segurança para o desemprego tecnológico massivo.
Atração de Indústrias Estratégicas: Incentivos fiscais para empresas de IA, energias verdes, biotecnologia e para quem queira produzir riqueza.
Integração Europeia Profunda: Sozinhos, seremos sempre periferia. É preciso exigir mais voz na UE, sem fogacho para português ver, e investir em defesa comum.
Portugal está numa encruzilhada histórica. Podemos continuar a fingir que o mundo não mudou — e tornar-nos um museu de nostalgia europeia — ou acordar para a realidade. Os debates eleitorais deviam ser o palco desta discussão. Em vez disso, são o sintoma da nossa decadência de cidadania política.
Restam duas perguntas: Quanto tempo temos até o futuro nos esmagar? E quem, nesta geração de políticos, terá a coragem de olhar, sem medo, para além do próximo orçamento?
Carlos M. B. Geraldes, PhD