Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Opinando: “Do Choque do Futuro à Desintoxicação Digital: O Pensamento de Toffler e Gernsback”


“Uma das definições de sanidade é a capacidade de diferenciar o real do irreal. Em breve precisaremos de uma nova definição.”

Alvin Toffler, Choque do Futuro

 

Quando, nos anos 80 do século XX, ao ler dois livros de Alvin Toffler, oferecidos por uma pessoa amiga que já deixou a dimensão terrena, fiquei espantado/atordoado com o que viria por aí. Toffler parecia vir de outra galáxia. Ou seja, apresentou-me, antecipadamente, um mundo em que a tecnologia já está presente no nosso dia a dia, moldando não apenas a como trabalhamos, mas também como nos relacionamos. Alvin Toffler introduziu-nos num novo paradigma de vida, o qual os sistemas educativos atuais, motivados pelo medo ou pelos hábitos estabelecidos, são incapazes de refletir, mesmo com a leitura de alguns visionários, sejam eles da antiguidade clássica ou mais contemporâneos do pensamento universal.

Outro visionário é Hugo Gernsback [1]que apresentou perspectivas relevantes sobre o futuro da sociedade, especialmente quando refletimos sobre os desafios da conectividade e o impacto das relações mediadas pela internet.

Toffler, nas suas obras marcantes como o ” Choque do Futuro “, ” A Terceira Vaga” e “Os Novos poderes” alertou sobre os perigos do ritmo acelerado de mudanças tecnológicas e sociais. Ele descreveu o “choque do futuro” como a sensação de desorientação causada pela velocidade com que a sociedade evolui. Para ele, a transição para uma sociedade baseada na informação traz grandes benefícios, mas também uma desconexão crescente entre as pessoas, que se veem imersas numa abundância de informação, mas carentes de conexões significativas.

Por outro lado, Hugo Gernsback, Ralph 124c 41+ A Romance Of The Year 2660, o “pai da ficção científica”, imaginou futuros tecnologicamente avançados, mas muitas vezes pautados pela responsabilidade e pelo uso educativo da tecnologia. Nas publicações como “Amazing Stories”, ele apresentava histórias que exploravam tanto o potencial quanto os riscos dos avanços tecnológicos, incentivando os leitores a considerarem as consequências éticas e sociais dessas inovações.

A reflexão conjunta destes dois pensadores convida-nos a uma questão fundamental: como podemos usar a tecnologia para melhorar as nossas vidas sem perder o que nos torna humanos?[2] Hoje, num mundo hiperconectado, a conexão humana muitas vezes fica em segundo plano. A ideia de interromper o acesso à internet e ao Wi-Fi por um mês pode parecer radical, mas é uma proposta estimulante para promover uma “desintoxicação tecnológica” e reavaliar as nossas relações interpessoais.

Imagine um mês em que as pessoas não possam recorrer às redes sociais ou plataformas de mensagens instantâneas. Sem as distrações da internet, seríamos obrigados a procurar formas mais autênticas de interação: conversar com vizinhos, reunirmo-nos com os amigos e familiares ou simplesmente desfrutar de momentos de reflexão e leitura. Livros como os de Toffler e Gernsback[3] poderiam ser introduzidos nas escolas durante este período, estimulando discussões sobre o impacto da tecnologia e sobre como construir um futuro mais equilibrado.

Ao incorporar as ideias de Toffler e Gernsback no currículo escolar, os alunos poderiam explorar os desafios da adaptação à mudança acelerada e refletir sobre como avanços tecnológicos podem ser usados para promover o bem-estar coletivo. Gernsback, por exemplo, poderia inspirar estudantes a imaginar futuros onde a tecnologia e a humanidade coexistem de forma harmoniosa, enquanto Toffler os ajudaria a entender as consequências da sobrecarga de informação.

A humanidade precisa de espaço para pausar, refletir e reconectar-se consigo mesma. Um mês sem internet e Wi-Fi não apenas humanizaria as nossas relações interpessoais, mas também nos permitiria explorar alternativas para um futuro onde a tecnologia serve as pessoas, e não o contrário. Como Toffler e Gernsback sugeriram, o futuro é moldado pelas escolhas que fazemos no presente. Cabe a nós decidirmos como equilibrar o progresso tecnológico com a essência das relações humanas.

 

Bibliografia sugerida:

Alvin Toffler:

Choque do Futuro. Do Apocalipse à Esperança, Editor: Livros do Brasil

                    – A Terceira Vaga, Editor: Livros do Brasil

                    – Os Novos Poderes, Editor: Livros do Brasil

Hugo Gernsback:

Ralph 124C 41+, Editor: LIBROS MABLAZ

 

 

[1] Hugo Gernsback (1884-1967) foi um inventor, editor e escritor luxemburguês, naturalizado norte-americano, conhecido por popularizar a ficção científica. Fundou a revista Amazing Stories em 1926, a primeira dedicada ao género, e previu inovações tecnológicas como a televisão e a videoconferência.

[2] Exemplo: No filme Transcendence – A Nova Inteligência (Pfister, 2014), a inteligência artificial é explorada de maneira inovadora.

[3] Hugo Gernsback – Pulp! Amazing Stories. Série: Extra Sci Fi. Episódio exibido em 24 de abril de 2018.