Opinando: Estrangeirismos no Português: Evolução Cultural ou Perda de Identidade?
“Uma pessoa só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra. Todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.”
Eça de Queirós, As Farpas
“Minha Pátria é a língua portuguesa.”
Fernando Pessoa, Autobiografia sem Factos, Assírio & Alvim, Lisboa, 2006
“Da minha língua vê-se o mar.”
Vergílio Ferreira, in Revista internacional de língua portuguesa, Edições 4-7
De há uns anos a esta parte, a sociedade portuguesa tem presenciado uma crescente chorrilhar para a adoção de palavras em inglês em diversos contextos. Este fenómeno, que poderia ser inicialmente interpretado como um sinal de modernidade e integração global, revela, por vezes, uma superficialidade mental de produzir uma falsa impressão de sofisticação, ignorância, tontice, ou pior ainda, de complicar desnecessariamente a faculdade de entendimento, especialmente no setor bancário e nas comunicações.
É inegável que a língua é um organismo vivo, em constante evolução, assim como a pretensão em se querer impressionar com tretas de origem estrangeira. No entanto, a invasão de termos estrangeiros, particularmente do inglês, parece estar a ultrapassar os limites do bom senso e da utilidade prática. Frases como “meeting”, “deadline”, “feedback” e “Fuck” tornaram-se comuns no quotidiano, frequentemente substituindo palavras perfeitamente adequadas em português como “reunião”, “prazo” e “opinião”. Esta tendência não só desvaloriza a riqueza da língua portuguesa, mas também cria barreiras desnecessárias, especialmente para aqueles que não estão familiarizados com a língua inglesa.
No que toca ao setor bancário, o uso de terminologia em inglês muitas vezes serve apenas para confundir o cliente. Há situações que nem o empregado da entidade bancária sabe o que está a dizer. Os termos “spread”, “due diligence” e “leasing” são frequentemente usados sem necessidade, o que cria um véu de complexidade que pode afastar o consumidor comum. Essa prática não apenas é elitista, mas também prejudica a compreensão de bens financeiros relevantes, o que pode levar a decisões mal informadas.
É importante questionar o verdadeiro motivo por trás desta prática. Será que os portugueses usam estas palavras por falta de equivalentes ou é uma questão de status, de tontice ou verborreia social? Muitas vezes é um desejo de parecer mais tacanho, moderno ou cosmopolita, reflexo de uma cultura que valoriza o estrangeiro em detrimento do próprio. Aliás, fazendo até lembrar o “Episódio da Corrida de Cavalos”, Os Mais, que desmascara a aparência e o verniz postiço de uma sociedade cosmopolita, civilizada, assente numa bacoquice que pretende imitar o “chic” do “lá fora”.
A solução é usar mais a língua portuguesa. Devemos valorizar a nossa língua materna no seu uso correto. É claro que há termos técnicos ou conceitos que são mais fáceis de serem expressos em inglês devido à sua origem, especialmente em áreas como a tecnologia e a ciência. No entanto, devemos usar palavras portuguesas sempre que possível, para que a comunicação seja clara e acessível.
A adoção anárquica de palavras em inglês enfraquece a língua portuguesa e cria divisões sociais. A língua é um dos nossos bens culturais mais valiosos, um reflexo da nossa identidade e história. Todos nós temos a responsabilidade de valorizar e preservar o português.
“Esta é a ditosa pátria minha amada, à qual se o Céu me dá que eu sem perigo torne, com esta empresa já acabada, acabe-se esta luz ali comigo. Esta foi Lusitânia, derivada de Luso ou Lisa, que de Baco antigo filhos foram, parece, ou companheiros, e nela antão os íncolas primeiros.”
Luís Vaz Camões, Lusíadas, Canto III
Aos leitores do maisBeiras, desejo que o Pai-Natal chegue pela porta com boas festas, mentais, espirituais e corporais, e um bom ano novo em 2025.
Neste Natal, presenteie com histórias que encantam e transformam—porque, convenhamos, um livro é o único presente que não precisa de pilhas, não reclama do tamanho e ainda te leva a lugares incríveis sem sair do sofá! Afinal, quem não gostaria de passar as festas viajando pelo mundo, enquanto todos ao redor estão lutando, insanamente, por uma rabanada?
– Jenny Kleeman, Robôs Sexuais e Carne Vegana, editor: Livros Zigurate
Este não é um livro de ficção científica. O ‘admirável mundo novo’ que aí vem, numa investigação sobre o futuro da alimentação, do sexo e da morte.
– Yuval Noah Harari, Nexus, Editor: Elsinore.
– Martin Puchner, Cultura – Uma Nova História do Mundo, Editora, Temas & Debates
– Gustavo Sampaio, Porque Falha Portugal? Editor: Manuscrito Editora
– Fátima Campos Ferreira, Ramalho Eanes – Palavra que conta, Porto Editora
– Nuno Palma, As Causas do Atraso Português, Editora Dom Quixote
Carlos M. B. Geraldes, PhD