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Diretor: Paulo Menano

Opinando: O “Espírito” do Algoritmo na Educação: A Reinvenção ou o Fim da Escola Tradicional?


Vivemos tempos de uma silenciosa transformação profunda, e a educação não está imune a essas mudanças. O triunfo das tecnologias, especialmente dos algoritmos, apresenta-se como um desafio direto ao sistema educativo, suscitando um debate sobre o futuro da escola tradicional. Enquanto alguns veem a digitalização como a “morte” deste modelo escolar, outros veem na tecnologia uma oportunidade de conceber o ensino, tornando-o mais eficiente e personalizado.

Os algoritmos, para o bem e para o mal, já fazem parte do nosso dia a dia e, na educação, terão que ser uma ferramenta cada vez mais presente. Plataformas como a Kahn Academy [1] ou o Duolingo[2] são exemplos de como o ensino algorítmico pode ser vantajoso, permitindo que o conteúdo e o ritmo de estudo sejam ajustados ao perfil de cada aluno. Este modelo responde não só à necessidade de personalização, como também oferece flexibilidade e autonomia, algo que o ensino tradicional muito dificilmente consegue alcançar.

No entanto, este avanço tecnológico coloca em questão a relevância da escola como a conhecemos. Com o conhecimento disponível a um clique de distância e a capacidade de aprender de forma independente, será que o modelo de ensino tem os dias contados?

A escola tradicional, com as suas aulas expositivas, currículos rígidos e exames padronizados para avaliar o produto de uma reprodução “industrializada”, é muitas vezes criticada por não acompanhar as mudanças rápidas da sociedade e do mercado de trabalho. Isto porque é centrada na memorização e avaliações que privilegiam a repetição e o pastar, em detrimento do saber pensar e da compreensão, torna-se cada vez menos eficiente para preparar os alunos para os desafios a enfrentar neste século XXI.

Além disso, a uniformidade do sistema clássico, que trata todos os alunos de forma igual, ignora as diferentes necessidades, capacidades e interesses de cada estudante. Em contraste, o ensino algorítmico oferece a possibilidade de uma educação verdadeiramente adaptada a cada indivíduo. Esta personalização pode aumentar a motivação dos alunos e podem ser fatores fundamentais para uma realização educacional.

Contudo, embora o sistema clássico enfrente inúmeras críticas, ele ainda oferece algo que as tecnologias, aparentemente, por si só, não conseguem substituir: a socialização, o desenvolvimento emocional e o pensamento crítico num ambiente colaborativo. É na interação com os professores e companheiros de escola que os alunos aprendem habilidades sociais, resolvem conflitos e desenvolvem a sua empatia — elementos essenciais para uma educação integral. E quando chegar a prevista singularidade?

Embora os algoritmos possam ser uma ferramenta poderosa, confiar inteiramente neles para gerir a educação pode desumanizar o processo de aprendizagem. A automatização excessiva corre o risco de transformar a educação numa experiência mecânica, sem espaço para a criatividade, a improvisação ou o pensamento crítico. Os algoritmos, por mais avançados que sejam, não conseguem capturar, até à data, as mais valias emocionais, sociais e culturais que um professor humano percebe e adapta em tempo real.

Além disso, a dependência de algoritmos pode limitar as interações humanas, o que deve ser evitado, pois a experiência de aprender é, em grande parte, influenciada pela relação entre o aluno e o professor.

Então, devemos abandonar o sistema clássico e abraçar totalmente o ensino algorítmico? A resposta deve residir num equilíbrio entre os dois modelos. O ensino tradicional continua a oferecer valores inestimáveis, como a interação social, a construção de pensamento crítico e a formação cultural, enquanto a tecnologia pode ser uma poderosa aliada para melhorar as aprendizagens de forma mais acessível e inclusiva.

Posto isto, a integração inteligente das novas tecnologias no modelo educativo clássico pode permitir uma transformação positiva da educação. A escola precisa de se reinventar, aproveitando o potencial dos algoritmos para personalizar e flexibilizar o ensino, mas sem perder de vista o papel essencial do professor e da sala de aula como espaços de formação humana.

O desafio para o futuro é encontrar esse equilíbrio, integrando o algoritmo sem sacrificar a essência do ensino. Porque, no final, a educação não se trata apenas de transmitir conhecimentos, mas de formar pessoas capazes de transformar o mundo.

Carlos M.B. Geraldes, Phd.

 

[1] https://www.khanacademy.org

[2] https://pt.duolingo.com