
Opinando: “O Xôr não me conhece de lado nenhum!”, de Ana Camilo
“O Xôr não me conhece de lado nenhum!”
Mais um ano, mais um Orçamento de Estado! Mais um ano, mais um Orçamento, mais um filme cujo guião nos remete para uma mesa de jogo. Mais um remake, este ano com um novo protagonista. Marcelo Rebelo de Sousa assume, desta vez, o papel de croupier.
Ora, vejamos, António Costa, primeiro-ministro, como habitualmente, lança uma proposta de Orçamento, sabendo de antemão que os seus parceiros de geringonça não o aceitarão. A intenção, este ano, era clara – a não aprovação do OE e provocar eleições antecipadas, o ano estava a correr-lhe bem. O
processo de vacinação tinha sido um sucesso, e com os Partidos do centro-direita a esboroarem-se, facilmente teria uma maioria absoluta. O ano estava a correr-lhe bem até ao dia 26 de Setembro, nada lhe faria supor que perderia autarquias emblemáticas como Lisboa, Coimbra, Funchal e até a Figueira da Foz…
Com este resultado e com o centro-direita a reerguer-se o jogo alterou-se “ligeiramente”. Ainda assim, António Costa avançou com o mesmo orçamento que já tinha definido.
Os partidos que habitualmente suportam a aprovação (BE e PCP) também saíram fragilizados das eleições autárquicas, com a sua base de apoio a reduzir-se eleição após eleição.
Precisam, como de pão para a boca, de fazer provas de vida indo buscar as suas bandeiras e reivindicando o seu magistério de influência para que o OE não seja “pior” para o povo, dizem.
Começa o jogo, António Costa diz que não alterará uma vírgula do orçamento, PCP e BE vão a jogo dizendo que votarão contra.
Entra na mesa o croupier de serviço. Marcelo Rebelo de Sousa vem à mesa avisar que têm de se entender, caso contrário haverá uma crise política, como se o fim do mundo estivesse para chegar.
Fazendo uma retrospectiva aos filmes anteriores, este remake não apresenta nada de novo. António Costa vai fazendo o seu bluff, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa fazem o seu contra-bluff (esta expressão não deve existir) querendo mostrar ao país que estão vivos e no próximo dia 27 acabarão o dia com o OE estado aprovado, cada um reclamando para si o sucesso da aprovação. Regozijando-se que evitaram uma crise política que, em bom rigor, nunca esteve em cima da mesa.
Portanto, quando António Costa num debate na AR disse a um deputado da nação em tom de enxovalho “O Xôr não me conhece de lado nenhum!”, talvez esteja enganado. Todos nós conhecemos muito bem António Costa, sabemos do que é capaz desde os tempos em que perdeu a eleição para a Associação de Estudantes…
E por cá continuaremos com uma das cargas fiscais mais altas da Europa para satisfazer as exigências dos seus amigos de geringonça!