
Santa Comba Dão: Associação de Estudos do Baixo Dão desvenda “Caminhos da Nossa História”
Nem o frio e vento que se fizeram sentir na manhã do dia 6 de novembro demoveram os cerca de 40 participantes do passeio “Caminhos da Nossa História”, promovido pela Associação de Estudos do Baixo Dão.
O Município de Santa Comba Dão e o Centro de Estudos Arqueologia Artes e Ciências do Património (CEAACP) – Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) foram entidades parceiras na organização desta iniciativa, que ampliou o conhecimento sobre vários pontos de interesse patrimonial da sede do concelho, dando a conhecer factos, curiosidades e até testemunhos de descendentes de muitos daqueles que fizeram parte dos ‘caminhos da nossa história’.
Com início no Largo Alves Mateus, a viagem começou pelos marcos patrimoniais mais antigos, culminando nos mais recentes.
Esta primeira etapa foi guiada por Susana Martins, Pedro Matos, do CEAACP – FCT, e João Losada Silva, que leu o texto enviado por José Morais Branquinho (que não pôde estar presente na iniciativa) sobre a igreja da Real Casa da Misericórdia Velha.
“Conhecida popularmente como a Casa Paroquial, o edifício ora existente nada tem a ver com a primitiva Casa da Misericórdia”, onde funcionaria, na segunda metade do séc. XVI uma hospedaria e hospital.
Sobre a Casa dos Arcos foram dados a conhecer factos sobre a sua fundação e a cronologia associada à ocupação de um espaço, que já teve funções tão amplas e diversificadas, como sede de bandas e clubes de futebol, restaurante e café, correspondendo, atualmente, ao edifício Biblioteca Municipal Alves Mateus.
Sobre a capela do edifício, foi sublinhado o decurso de obras de conservação e restauro, promovidas pelo Município, que visam a salvaguarda do conteúdo histórico e iconográfico da talha dourada e policromada, elementos arquitetónicos e decorativos, assim como a sua função litúrgica..
A explicação sobre a Igreja Matriz coube a Pedro Matos, que falou sobre a fundação de Santa Comba Dão, associando-a à construção da igreja de Santa Maria do Burgo, em meados do séc. XIV.
A este templo mais antigo sucedeu – cerca de 400 anos mais tarde – o edifício da atual igreja, datado do séc. XVIII, que guarda, nas paredes evidências da igreja primitiva – uma pedra esculpida, na lateral exterior do edifício e uma placa de calcário, na atual capela-mor, que sugere que, em finais do séc. XIII/inícios do século XIV, terão sido realizadas grandes obras na igreja de Santa Comba do Burgo/Dão.
Seguiu-se uma comunicação sobre os marcos patrimoniais do período do Estado Novo existentes no Largo Alves Mateus – o padrão dos centenários, datado de 1940, que assinala os 800 anos da Fundação de Portugal e os 300 da Restauração – o edifício dos CTT e da Caixa Geral de Depósitos e o baixo relevo existente na fachada do Palácio da Justiça.
A autoria da composição em pedra é de Leopoldo de Almeida, cujo título “Moisés instaurando a Ordem sobre o Caos” corresponde a uma exaltação e metáfora que compara a epopeia de Moisés à de Oliveira Salazar.
Após a passagem pelo viaduto, João Boto Martins falou sobre o edifício onde funcionou o Colégio de Nossa Senhora da Conceição, datado de 1890 e destinado, na altura, apenas ao ensino básico particular, não dispondo de professor reconhecido para o efeito.
Aliás, o corpo docente reconhecido só viria em 1907, funcionando nesta escola – agora casa particular – um ensino mais alargado, até 1944.
No recreio da antiga Escola Primária (EP) n° 1, construída em 1937, Susana Martins reportou à existência, no local de um outro estabelecimento de ensino – a antiga escola Conde de Ferreira.
Este nobre benemérito foi um grande mecenas da instrução primária em Portugal, doando em 1866, ao Estado Português, 144 mil contos, destinados à construção de 120 escolas primárias (planta única por ser mais económico e mais rápido) em terras que fossem vilas, cabeças e sedes de concelho.
A secretária da Associação falou ainda sobre o facto da construção da antiga Escola Conde Ferreira – em funcionamento durante mais de 60 anos, entre 1869 e 1935 – ditou a deslocalização e consequente reconstrução da capela de Nossa Senhora da Piedade, com veneração de Nossa Senhora da Conceição, para a “proximidade dos alpendres da feira”, ao cimo do atual Jardim do Bairro Alto.
Após uma breve referência ao coreto, inaugurado a 20 de janeiro de 1907, o percurso foi pelo Bairro Alto, com passagem pela rua de Óvoa até ao Largo das Lajes, onde Daniel Coelho dos B Flat – dupla que gentilmente colaborou com as AEBD na animação deste evento – surpreendeu os participantes.
Numa interpretação de excelência, o músico brindou todos os participantes com uma versão, para violoncelo, de um tema icónico da banda Metallica.
No último ponto do percurso, Dolores Gonçalves falou da casa da roda, que em inícios do séc. XX terá funcionado na rua da Amargura , junto aos Paços do Município, e da qual há registos fotográficos.
Num registo bastante pessoal, Dolores Gonçalves – uma “neta da roda” deu a conhecer o contexto da sociedade da época e a “amargura” de muitos pais que tiveram de dar os seus filhos à roda.
A Roda dos expostos ou Roda dos enjeitados correspondia, no funda, a um mecanismo utilizado para expor ou enjeitar recém-nascidos, que ficavam ao cuidado de instituições de caridade.
Após este primeiro passeio de um ciclo de Caminhos da Nossa História que a AEBD programa realizar, decorreu, no Solar dos Costas, um almoço com produtos da época e pratos típicos da região.
Uma vez mais, o momento foi enriquecido com a atuação de Daniel Coelho, que com Mariana Café, compõe a dupla B Flat.
A AEBD agradece a todos os participantes, deixando uma palavra especial de agradecimento ao Pedro Costa, pela hospitalidade e espírito de partilha, aos músicos Daniel Coelho e Mariana Café, ao Município de Santa Comba Dão e ao CEAACP – FCT pela parceria e estreita colaboração, e à empresa Aguieira Imprime pelo apoio.