
Vá conhecer a Covilhã, Cidade Criativa da UNESCO no Centro de Portugal
São cinco as cidades do Centro de Portugal fazem parte da Rede das Cidades Criativas da UNESCO.
A Rede de Cidades Criativas da UNESCO – UNESCO Creative Cities Network – foi criada em 2004. As cidades que integram este projeto têm, como objetivo comum, a utilização da cultura e da criatividade como instrumentos de transformação das cidades em lugares seguros, inclusivos, sustentáveis e preparados para o futuro.
A Rede serve como uma plataforma internacional de intercâmbio e colaboração entre cidades para a implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas, designadamente o Objetivo 11 sobre cidades e comunidades sustentáveis.
A Rede Cidade Criativa da Unesco é composta por 246 cidades em sete áreas criativas – que vão desde o artesanato, arte folclórica, design, cinema, gastronomia, literatura, media e música.
As cidades que integram a Rede assumem o compromisso de partilhar experiências, conhecimentos e boas práticas criativas, assim como desenvolver parcerias envolvendo os setores público e privado, associações, comunidade civil, organizações e instituições culturais.
No Centro de Portugal são cinco as cidades que integram este projeto. Na Região do Oeste, a cidade de Caldas da Rainha foi distinguida na categoria de Artesanato e das Artes Populares e a Vila de Óbidos na categoria de Literatura. Na Serra da Estrela, a Covilhã integra a categoria do Design. Na Beira Baixa e na Região de Leiria as cidades de Idanha-a-Nova e Leiria, respetivamente, são ambas Cidades Criativas da Música.
COVILHÃ # Cidade Criativa do Design (2021)
Inserido no território do Estrela Geopark da UNESCO, a Covilhã é a primeira cidade em Portugal a integrar a categoria Cidade Criativa do Design na Rede UNESCO.
Trata-se de um reconhecimento pelo compromisso em colocar a Cultura e a Criatividade no centro do desenvolvimento urbano sustentável, compartilhando conhecimento e boas práticas a nível internacional.
A cidade convida a percorrer as rotas de Arte Urbana e Arte Nova. A descobrir Judiarias, a conhecer o Património Industrial e a Rota da Lã. Mas é em espaços como o New Hand Lab e no Museu Nacional dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior que se promove a criatividade, a inovação e o empreendedorismo assente no respeito pela história e pela identidade cultural do seu povo.
A integração da Covilhã na Rede de Cidades Criativas da UNESCO radica-se na história local e no orgulho coletivo relativamente ao seu passado, indissociável do vanguardismo da indústria têxtil e dos lanifícios. Esta cidade portuguesa é um dos principais centros urbanos do interior português, situada na província da Beira Baixa, possuindo no seu território concelhio cerca de 46 500 habitantes, distribuídos por 21 freguesias (555 km² de superfície).
Os milenares vestígios de ocupação humana transformam o concelho e a cidade num autêntico mosaico vivo, repleto de inestimável riqueza patrimonial, cultural e natural. A cidade situa-se na vertente sudeste da Serra da Estrela e estende-se, pela encosta, entre os 450 e os 800 metros de altitude. O ponto mais alto de Portugal Continental (Torre, 1.993 metros) dista cerca de 20 km da Covilhã, inserindo-a na área abrangida pelo Estrela Geopark, que ingressou na rede de Geoparques Mundiais da UNESCO em 2020. Esta proximidade à natureza orientou a estrutura Covilhã, Cidade do Design para a priorização de políticas de desenvolvimento alicerçadas na sustentabilidade e na gestão responsável de recursos. É da natureza e missão do Design ser responsável, mas o projeto da Covilhã privilegia a reciclagem/reutilização de produtos e materiais e configura novos horizontes, através de processos criativos contemporâneos que evidenciam a relação entre Arte, Cultura e Meio físico, contribuindo simultaneamente para a valorização da Natureza.
A Covilhã retira partido de paisagens de exímia beleza, da abundância de águas cristalinas e da excelente qualidade do ar de altitude. Os sinuosos percursos e rotas atravessam um território de memórias e de contrastes, incentivando à descoberta de pitorescas aldeias de montanha, minas (Panasqueira e Recheira), praias fluviais, piscinas naturais, paisagens graníticas, lagoas encantadas, trilhos seculares, formações rochosas naturais, cascatas e termas. A criatividade impera, desde logo, na imponente paisagem que confronta e recebe quem chega à cidade.
A valorização paisagística e ambiental vem sendo uma prioridade da Câmara Municipal da Covilhã, reforçada através de vários projetos e intervenções como a criação de uma Rede de Miradouros no concelho, enquadrando-se no plano de Conservação, Proteção e Desenvolvimento do Património Natural e Cultural. Em todos os recantos se vão revelando excertos de passado e de presente, que lhe imprimem identidade e caráter. A orografia ímpar, que acompanha as curvas da montanha, faz dela uma autêntica “cidade presépio”. Além da neve, tão aguardada anualmente, o território atrai os visitantes pela ambiência proporcionada pelos colossais relevos montanhosos da Serra da Estrela, moldados há mais de 20.000 anos pelo degelo dos vales glaciares.
A Covilhã é, também, cidade-berço de navegadores e cosmógrafos como Pêro da Covilhã, os irmãos Francisco e Ruy Faleiro e o Mestre José Vizinho, entre outras dezenas de figuras relevantes para o sucesso das navegações ultramarinas europeias, entre os séculos XV e XVII. Os espaços culturais, maioritariamente gratuitos e com ampla oferta de programação, conservam e divulgam esse passado através do trabalho em rede, do serviço educativo, do recurso a tecnologias e a formas de expor inovadoras e contemporâneas. Tome-se, como exemplo, o recente Museu da Covilhã (Prémio APOM “Museu do Ano 2021” e Prémio Linguagem Clara 2022), a Galeria António Lopes, o Museu de Arte Sacra e o Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior; o Teatro Municipal da Covilhã e Centro de Inovação Cultural, bem como o Centro de Inovação Empresarial da Covilhã e o NEST – Centro de Inovação do Turismo; o C3D Makerspace da Biblioteca Municipal da Covilhã, o New Hand Lab e o Musée Maison, espaços onde se promove a criatividade e a inovação.
O seu diverso e rico património arquitetónico atravessa um amplo arco temporal, profundamente influenciado pela história e pelas características geográficas do território: os miradouros urbanos, os espaços verdes, os palacetes Art Nouveau da burguesia industrial, os magníficos elementos em ferro que ornamentam os edifícios, as antigas muralhas do castelo, e as capelas, conventos e igrejas centenárias. A Ponte sobre a Ribeira da Carpinteira é uma das mais impressionantes do mundo, tendo sido premiada com um AIT-Award (2012) e candidata ao prémio Mies van der Rohe (2011). Valeu à Covilhã o destaque de World’s Coolest Design Destination pela Travel+Leisure (2011).
A Covilhã é, ainda, território de folclore e de ancestrais manifestações de património cultural imaterial. A gastronomia local, divulgada pelos restaurantes locais, hotéis e confrarias, envolve os sentidos e recupera sabores antigos em iguarias como o pastel de molho, a panela no forno, o brulhão, o bacalhau à Assis, as bolachas de cerveja, os massapães, as talassas, as papas de carolo, o mogango, o requeijão, a cereja, o afamado Queijo da Serra e a famosa cherovia. No coração da cidade, é possível usufruir de experiências gastronómicas de qualidade, em restaurantes como Alkimya, Casa das Muralhas, DAbeira, G-treze, Montiel, Paço 100 Pressa, Taberna Laranjinha, entre muitos outros.
A importância das primeiras manufaturas, instaladas junto às ribeiras da Goldra (finais do séc. XV) e da Carpinteira (séc. XVI), foi inquestionável no desenvolvimento de técnicas e práticas produtivas e na especialização, vindo a justificar a atribuição do título de Notável à então Vila da Covilhã, em 1570. Foi também a relevância dos Lanifícios que determinaria, em 1870, a elevação a Cidade. Poucos centros urbanos podem afirmar assumir a mesma atividade económica regular durante tanto tempo. Por ser o maior produtor de lanifícios do país e um dos principais do mundo, a Covilhã foi apelidada de “Manchester Portuguesa”.
As suas ribeiras alimentaram, constante e abundantemente, todas as fábricas que ali se instalaram até ao século XX. A lã e os lanifícios são parte do ADN da cidade há mais de oito séculos, até um presente em que os têxteis se aliam a novas áreas da inovação e de vanguarda, uma transformação na qual o Design tem um papel preponderante. Hoje, os exemplares que sobrevivem de património industrial – em particular as imponentes chaminés de tijolo – ainda povoam as margens das ribeiras.
A Covilhã é uma Cidade do Design avant la lettre, isto é, antes de ser já o era. A sua candidatura – e posterior designação – vão muito além da sua longa tradição industrial têxtil, que se sustenta no Design enquanto precioso instrumento de criação de valor, marcando indelevelmente o seu património arquitetónico. A cidade apresenta uma ampla oferta formativa a nível médio e superior neste domínio, contabilizando-se várias entidades que ministram o ensino secundário e a formação profissional neste setor, além, obviamente, da Universidade da Beira Interior, que há mais de vinte anos assegura cursos de 1º, 2º e 3º ciclos em Design, sendo a principal parceira do projeto. A Covilhã é, hoje, um centro urbano que soube criar capacidade e competências para a formação de jovens altamente qualificados, uma realidade complementada pelas zonas industriais e rurais circundantes.
O Design está no centro de dinâmicas de participação cívica e de resposta às necessidades específicas das populações. Através do Design e das Artes, a Covilhã enquadra uma estratégia de reabilitação urbana e territorial, aumentando a sua atratividade cultural, económica e turística; permitirá também concretizar objetivos estratégicos relacionados com a internacionalização, aumentando o cosmopolitismo do município, seja pela integração nas redes e dinâmicas internacionais da UNESCO, seja pelo estímulo à circulação de pessoas, bens e serviços de Design. A Covilhã, Cidade do Design entende este campo criativo como fundamental para a agenda pública e como prioridade política e cívica, promovendo a cooperação cultural entre os diversos setores. Entende-se o Design como poderoso mediador entre a educação, a indústria, a academia e a administração pública, capaz de impulsionar a afirmação da Covilhã como cidade de Cultura, Conhecimento, Investigação e Inovação.
A Rede de Cidades Criativas da UNESCO, que a Covilhã passou a integrar no ano transato, conta já com 294 cidades que, a nível mundial, se comprometem em colocar a inovação e a criatividade no centro do seu desenvolvimento social, cultural e económico, promovendo-os colaborativamente como fatores-chave do desenvolvimento urbano sustentável e inclusivo. Das 49 novas cidades que, no ano transato, ingressaram na UCCN, apenas 3 são de Design: Covilhã (Portugal), Doha (Qatar) e Whanganui (Nova Zelândia). Não obstante a sua diversidade, as Cidades Criativas apresentam uma constante que passa, precisamente, pelo reconhecimento do valor ecossistémico da Criatividade e da Cultura. Ou seja, compreendem que uma cidade não pode ser criativa num domínio sem privilegiar os domínios conexos, que se nutrem e alimentam reciprocamente.
A candidatura à Rede foi um processo longo, que começou a ser preparado em 2018. O Plano de Ação, que contempla dezenas de atividades distribuídas pelo quadriénio 2022-2025, foi apresentado em sessão pública em abril de 2021. A sessão foi presidida por Vítor Pereira, Presidente da Câmara Municipal da Covilhã, com a participação da estrutura e dos órgãos da Candidatura, bem como de diversas entidades da Parceria e uma panóplia de convidados institucionais, incluindo a Rede de Cidades Criativas da UNESCO (UCCN). Antecedeu essa sessão um vasto conjunto de diligências e contactos, que resultaram, nomeadamente, no apoio unânime da Assembleia da Comunidade Intermunicipal da Beiras e Serra da Estrela, que congrega 17 municípios da região, e da Assembleia Municipal da Covilhã, que reiterou o sentido e o interesse estratégico deste desiderato.
Em junho de 2021, a Câmara Municipal da Covilhã foi notificada pela Comissão Nacional da UNESCO em Portugal relativamente à aceitação formal e ao apoio à sua candidatura. A confirmação da designação oficial da Covilhã como Cidade Criativa da UNESCO em Design foi anunciada a 8 de novembro do mesmo ano.
Ao ver confirmada a designação, a Covilhã tornou-se a primeira Cidade Criativa portuguesa em Design e a segunda da Península Ibérica, sucedendo a Bilbao como membro da sub-rede Cities of Design. O desiderato da candidatura a Cidade Criativa visava, fundamentalmente, afirmar a Covilhã como uma Cidade de Cultura, Conhecimento, Investigação e Inovação na área do Design, pelo que a sua integração na Rede deverá sustentar e orientar políticas e estratégias públicas, envolvendo todas as entidades (empresas/instituições), parceiros e especialistas, as comunidades escolares e universitária, bem como a comunidade em geral.
Em fevereiro de 2022, a equipa Covilhã, Cidade do Design foi acolhida na Reunião de Boas-vindas com Stijn Debaillie (Kortrijk) e Cindy Lee (Wuhan), respetivamente Coordenador e Sub-Coordenadora da UNESCO Cities of Design Network (COD). Ainda nesse mês, deu-se a primeira reunião de trabalho, via Zoom, entre todos os membros da sub-rede Cities of Design Network (COD), na qual foram apresentadas as três novas Cidades Criativas em Design. Mais tarde, em março – seguindo as orientações emanadas pela UNESCO – foi aprovado um novo logótipo Covilhã, Cidade do Design. Este ícone, desenvolvido por Francisco Paiva (diretor executivo da Candidatura), de acordo com os valores de modernidade, criatividade e empatia, substituiu o utilizado durante o processo de candidatura, passando a representar a cidade em todos os eventos realizados no âmbito da integração na UCCN. No seu primeiro ano como membro da Rede, a Covilhã marcou presença em eventos de caráter internacional, como a Biennale Internationale Design Saint-Étienne 2022 e a XIV Conferência Anual da Rede de Cidades Criativas da UNESCO (Santos, Brasil).
A Covilhã, Cidade do Design procura, por um lado, integrar as componentes académicas e formativas com a vertente expositiva, produtiva e empresarial do Design e, por outro lado, sensibilizar todos os públicos para a realidade e o desempenho do Design na melhoria da qualidade de vida, refletindo-se na otimização das condições do habitat, na otimização energética, no uso dos recursos disponíveis, no desenvolvimento da mobilidade e nas dinâmicas de relação entre a cidade e o campo. O Design está no centro das dinâmicas de participação cívica, de resposta às necessidades específicas das populações e à emergência ecológica e climática. Através do Design e das Artes, a Covilhã enquadra toda uma estratégia de reabilitação urbana, aumentando a atratividade cultural, económica e turística, tanto da cidade como do território circundante, aumentando o seu PIB, designadamente no setor das indústrias criativas, com efeito transformador nos modelos de produção e de consumo.
Sem descurar o seu passado como centro industrial, a Covilhã soube adaptar o património fabril a novas funções e inovar em processos e produtos, mantendo sempre uma identidade associada ao que de melhor se produz no âmbito da indústria têxtil e dos lanifícios, nacional e internacionalmente. Passado e presente dialogam, também, nas sinuosas ruas do Centro Histórico da cidade, que apresentam um notável conjunto de obras de arte resultantes do mais antigo festival de arte urbana do país, o WOOL. O Festival WOOL presta homenagem ao passado industrial da Covilhã e cria um autêntico “museu a céu aberto”, com obras de artistas como Vhils, Bordalo II, Pantónio, Mistaker Maker, Bosoletti, entre muitos outros.
o longos dos séculos, a cidade desenvolveu-se de acordo com elevados padrões de conhecimento e inovação, nos campos das Ciências e das Artes. A Universidade da Beira Interior é, atualmente, uma referência internacional no ensino e na investigação. Já o Parkurbis e o UbiMedical incubam e potenciam empresas de base tecnológica. Muitas personalidades das Artes e das Letras nasceram ou viveram na cidade, incluindo Eduardo Malta, Morais do Convento, Costa Camelo, Frei Heitor Pinto, Alçada Batista ou Ernesto Melo e Castro. Além de alinhar as estratégias municipais com os objetivos definidos no Plano de Ação do próximo quadriénio – não só da área cultural – a Câmara Municipal da Covilhã tem vindo a evidenciar o seu posicionamento e diferenciação, nos últimos anos, na principal Feira de Turismo em Portugal (BTL). Foram, igualmente, criados novos eventos (Natal com Arte; Verão no Centro Histórico; Industrial – Encontros com a Cidade Fábrica; Diafragma – Covilhã International Photofestival and Visual Arts), espaços (Espaço C3D; Tecer – Inovação e Criatividade), intervenções socioeducativas (Eu sou+; Arte Inclusiva), bem como outros projetos multidisciplinares, de âmbito municipal (Portas do Sol – À Descoberta do Centro Histórico) e intermunicipal (Este Zêzere que nos Une; Festival Cultural das Beiras).
A pertença a uma rede mundial de cidades que elegem a Criatividade como fator estratégico para o desenvolvimento sustentável e a inclusão relaciona a Covilhã com mais «mundos» e potencia a nossa identidade e território, nomeadamente como destino turístico. Iniciativas privadas têm aumentado e inovado a oferta de alojamento na cidade e no concelho, nomeadamente em unidades hoteleiras como D. Maria – Meliá, H2 Hotel, Pena D´Água, Pousada Serra da Estrela, Puralã, Santa Eufémia e Sport Hotel, além de residenciais como Casa com História e Quinta da Amoreira, contribuindo determinantemente para que a Covilhã continue a liderar o turismo na região.
Os antepassados, preconizadores e obreiros da Cidade Fábrica, como os visionários da Cidade Universitária, inspiram e alentam a prossecução do projeto – de acordo com o Plano de Ação para o Quadriénio 2022-2025 –, tanto mais que o envolvimento e a participação de pessoas, instituições e empresas locais tornam mais fortes e coloridas as teias que tecem este anseio. “À Beira Lã Plantada”, orgulhosa do seu passado e com visão orientada para o futuro, a Covilhã é construída pelos sonhos e expectativas da sua comunidade. Por cultura e conhecimento. Por audácia e naturalidade. Por originalidade e autenticidade.