Vouzela:ESGANA-CÃO e RABO DE OVELHA /𝐂𝐚𝐬𝐭𝐚𝐬 𝐞 𝐯𝐢𝐧𝐝𝐢𝐦𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐋𝐚𝐟𝐨𝐞𝐬
Conta-se que, durante o Estado Novo, Salazar dizia que o vinho deixava o povo tolo e que, por isso, quis reduzir a produção.
Desse tempo, algumas memórias antigas garantem que grande parte das nossas vinhas tiveram de ser arrancadas.
Mas, travar um hábito e uma tradição ancestral, já enraizada no povo desde há vários séculos, não seria uma tarefa fácil. (Que o digam a filoxera e as tantas doenças e crises que se atravessaram no caminho da vitivinicultura local.)
A história das nossas vinhas foi-se fazendo nas margens dos rios, sobretudo do Vouga. Ele é o denominador comum na região vitivinícola de Lafões, uma área agrícola que se estende por cerca de doze mil hectares, dos quais mil e seiscentos já estiveram ocupados com vinha.
O clima e a diversidade do relevo geraram diferentes microclimas dentro desta zona que é, certamente, uma das mais frias e húmida do país.
As nossas vinhas cresciam ao redor das hortas, dos campos de milho, dos batatais e dos prados. Algumas delas desenvolviam-se em enforcado. Outras em ramadas, latadas ou parreiras.
Para além da fruta e do vinho, as videiras tinham ainda a função de fazer sombra ou de servir de marcos, sendo usadas muitas vezes para delimitar as propriedades, crescendo ao longo dos rústicos muros de pedra.
As videiras de enforcado cresciam enroscando os seus troncos em volta de árvores tutoras. Cresciam e iam cobrir as copas das árvores, produzindo as uvas a grande distância do seu próprio pé. Eram conhecidas como uveiras, videiras em árvore, enforcado ou embarrado.
Quando a vinha ficava em ramada, latada ou parreira, a planta era suportada, no seu tronco principal, por esteios ou tutores. Esta técnica era usada recorrentemente nos arruamentos, nos caminhos que levavam às quintas ou nos alpendres das casas.
O trabalho de fazer vinho durava quase um ano: adubação, escava, cava, sacha, poda, empa, vindima, pisa, envasilhamento, trasfega e a prova do vinho novo (no dia de S. Martinho).
Na secção dos vinhos brancos de Lafões, a Arinto tornou-se a nossa casta rainha. Está presente, de igual forma, nos três concelhos e já era mencionada em textos de 1790 como sendo a casta de referência de Lafões. Adapta-se perfeitamente ao nosso clima húmido e é ela que, maioritariamente, dá ao vinho o sabor a fruta citrina, a acidez málica e o baixo teor alcoólico.
Por cá, outras castas eram e podem ser usadas para fazer vinho branco de Lafões como: a Esgana-Cão, a Rabo de Ovelha, a Dona Branca, a Cercial das Beiras, a Borrado das Moscas (ou Bical), a Fernão Peres, a Encruzado ou a Malvasia Fina.
Quanto aos tintos, destaque para a Amaral, uma casta autóctone de Lafões, muito antiga e já citada nas Memórias Paroquiais de 1758. Nelas, o então pároco de Souto de Lafões, referiu que as videiras: “dão copioza abundância de vinho, o mais delle a que chamam Amaral, uvas de cor preta, hé verde mas na qualidade excelente (…)”.
Na produção destes tintos DOC também podem ser usadas as castas Jaen (Fernão Pires Tinta, Jaen Galego ou Gião), Tourigo (Touriga Nacional), Alvarelhão (conhecida em Lafões por Pilongo) e Tinta Roriz.
A vindima era feita por castas (em separado), em parcelas ou em conjunto, de acordo com o vinho que se pretendia produzir e levando em conta o grau de maturação dos bagos e o clima.
A época era de festa e marcava o período das últimas colheitas, antes da chegada do inverno.
Mas, mais do que conhecer os vinhos de Lafões, há que prová-los!
Leves, delicados e pouco alcoólicos, conjugam com toda a gastronomia e com todas as ocasiões.
Num brinde às vindimas da região, fica o convite.