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Diretor: Paulo Menano

A Mentira Maldita: Ameaça às Relações Humanas e à Democracia


«Na verdade, a mentira é um vício maldito.
Apenas pela palavra somos homens e nos ligamos uns aos outros.»
Montaigne, Michel, Os Ensaios – Dos Mentirosos, Livro 1, Cap. IX., E-Primatur, 2022.

No cenário político atual, é preocupante observar como alguns políticos recorrem à mentira descarada como estratégia para reforçar a sua influência e justificar as suas ações. Essa tática de enganar as pessoas e transferir a culpa para os outros é parecida com o famoso momento em que Júlio César atravessou o Rio Rubicão, desafiando a lei e estabelecendo um precedente arriscado no comportamento político. Contudo, é importante salientar que esta analogia aplica-se apenas a uma parte dos políticos e não deve ser generalizada para todos os indivíduos que estão envolvidos na política. Neste artigo, abordaremos o papel relevante da honestidade na sociedade, destacando a visão de Michel de Montaigne sobre a mentira como um vício maléfico.

Políticos que mentem descaradamente ao serem questionados têm como objetivo de criar a ilusão de que, sem eles e o partido que lhes dá suporte no exercício do poder, um país enfrentaria dificuldades extremas. Atraem a atenção do público, manipulando as perceções, e exploram o medo e a incerteza, apresentando um quadro sombrio da situação sob a retórica do “fazer, fizemos, a fazer”. Dessa forma, esses políticos têm como objetivo enfraquecer a confiança do público para outras opções políticas e criar uma narrativa de dependência exclusiva em relação ao seu partido. No entanto, é importante lembrar que existem políticos que priorizam a transparência, a honestidade e o serviço público genuíno.

A citação de Michel de Montaigne destaca a gravidade da mentira como um vício prejudicial. Montaigne reconhece que a palavra é a base da nossa humanidade, um meio fundamental pelo qual nos conectamos uns aos outros. Através da palavra, expressamos os nossos pensamentos, compartilhamos informações e estabelecemos relações de confiança. Quando alguém mente, essa conexão é rompida, pois a confiança é abalada e a comunicação perde sua integridade.

Montaigne classifica a mentira como um “vício maldito”, sugerindo que ela corrompe relacionamentos saudáveis e sociedades estáveis. A sua visão enfatiza a importância da honestidade como um valor fundamental para a vida em sociedade. A palavra sincera é essencial para construir relações de confiança, compreensão e cooperação. Por outro lado, a mentira tem o potencial de causar danos significativos às nossas interações e à própria estrutura democrática da sociedade.

Em suma, a manipulação política e o uso da mentira descarada por alguns políticos representam uma ameaça para a confiança e o funcionamento saudável da sociedade e da democracia. É fundamental que a honestidade prevaleça como um valor essencial para os líderes políticos. Devemos valorizar a palavra sincera para construir relacionamentos sólidos e promover um ambiente de confiança mútua. Ao refletirmos sobre as palavras de Montaigne, somos lembrados da responsabilidade que todos nós temos em cultivar a honestidade e a transparência nas nossas vidas. Em última análise, isso contribui para uma sociedade mais justa, harmoniosa e que repreenda as pessoas “hipócritas da verdade” que desprezam descaradamente os nobres valores morais da comunidade.

Carlos M.B. Geraldes, PhD