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Diretor: Paulo Menano

“A prevenção é muito importante e a limpeza dos terrenos junto das habitações é fundamental”


Para além de comandante dos bombeiros fornenses, José António Pereira é também Conselheiro Nacional da Liga de Bombeiros Portugueses. Nesta entrevista abordamos medidas de prevenção e o actual litígio entre a Liga e o Governo.  O comandante garantiu que “o socorro à população esteve “totalmente assegurado”.

Há quantos anos exerce o cargo de Comandante dos Bombeiros Voluntários de Fornos de Algodres e como surgiu o seu ingresso nesta corporação?
O meu percurso nos bombeiros vem desde 1986 quando ingressei como bombeiro de terceira classe, depois passei a bombeiro de segunda em 1989. No ano de 1991 fui convidado para segundo comandante, cargo que exerci até 1995. Nessa altura, ingressei no Curso de Comandos na Escola Nacional de Bombeiros e, desde então, tenho estado sempre ligado aos bombeiros. De 1995 até à presente data, assumo o cargo de comandante dos Bombeiros Voluntários de Fornos de Algodres.

Como é ser Comandante num concelho do Interior do país?
Não é fácil. Fornos de Algodres é um concelho com dificuldades a nível económico e a consequente desertificação faz com que não tenhamos muitos voluntários. Atualmente, temos uma escola de estagiários com 12 elementos, temos também três infantes e quatro cadetes, o que já é muito bom para a região. Recentemente desafiamos a Câmara Municipal para ver se é possível conceder mais apoios ao voluntariado, por forma a conseguirmos captar mais voluntários.

Quantos elementos compõem a sua corporação?
No total são 65 voluntários, não contando o quadro de reserva, cadetes e infantes. Ainda agora nas comemorações dos 70 anos contamos com a presença de 52 elementos, sendo que os restantes, por motivos vários, não puderam comparecer.

Ao nível de meios, por quantos carros é composta a frota?
A nossa frota é composta por 14 viaturas vermelhas, ou seja, de combate a incêndio, desencarceramento e comando. Descriminando são os autotanques, dois deles pesados, quatro veículos de combate a incêndios florestais, dois veículos ligeiros de combate (um deles baptizado agora no aniversário). Temos dois veículos de comando tático, um veículo de combate a incêndios urbanos e um veículo pesado de desencarceramento que nos foi doado pelo Serviço Nacional de Bombeiros e pela Câmara mas que já tem cerca de 20 anos.

Há necessidade de mais veículos? Faltam meios aos Bombeiros de Fornos?
Não diria que faltam meios, seria importante a renovação da frota porque a grande maioria dos carros já tem mais de 20 anos, com exeção dos novos que agora foram baptizados. Por exemplo, se nos arder um carro que temos de combate a fogos florestais, que foi todo revisto no ano passado, a Autoridade Nacional só nos restitui 20% do seu valor e um carro desta natureza custa cerca de 200 mil euros. Estamos à espera da abertura dos concursos para aquisição de novas viaturas, com a expectativa de que consigamos abater alguma das que temos.
Agora, no âmbito das comemorações do 70º aniversário da corporação, recebemos duas viaturas novas e transformamos uma outra que já tínhamos em carro de telecomunicações e planeamento ao serviço do comando. Fazemos também parte do GRUATA – Grupo de Ataque Ampliado do distrito da Guarda – no qual participamos com duas viaturas.

Como é gerir o combate a um incêndio e qual foi a situação mais complicada com que já se deparou?
Gerir um incêndio depende de muitas condicionantes, nomeadamente as condições atmosféricas. Havendo uma primeira avaliação bem feita, é meio caminho andado para se obter sucesso. Claro que existem sempre factores que interferem, nomeadamente o vento e, por vezes, num segundo o teatro de operações muda. Relativamente a situações graves, recordo uma na década de 90 relativa a um incêndio que deflagrou em Gouveia e evoluiu para o concelho de Fornos. O Posto de Comando estava situado numa empresa de camionagem e acabou por atingir dois homens desta corporação. Foi a situação que mais me custou a gerir a nível pessoal.

Os últimos anos foram complicados no que se refere a incêndios florestais na região. O que é necessário melhorar para que tais calamidades não se repitam?
Falar de um incêndio actualmente, é diferente do que falar há uma década atrás. Hoje em dia, os incêndios assumem outras proporções muito graças à desertificação: os terrenos estão abandonados, não há cultivo e a vegetação abunda, logo funciona como combustível para as chamas. A abundância de vegetação dificulta o combate e propaga o fogo. Antigamente ao estudarmos o cone de propagação do incêndio sabíamos que ia “bater” em zonas de cultivo e era mais fácil combatê-lo. Hoje em dia, a nossa grande preocupação são as casas, os barracões com animais e a aproximação às aldeias. Nesta matéria, a prevenção é muito importante e a limpeza dos terrenos junto das habitações é fundamental. Se todos cumprirem a lei da limpeza florestal, sejam privados ou entidades públicas, tudo se torna mais fácil. A abertura de caminhos é importantíssima. Atualmente já existem mais acessos e, nos últimos anos, temos contado com a colaboração das Juntas de Freguesia, muitas delas já equipadas com pequenos carros que permitem ajudar no combate a um incêndio.

Foi suspenso até dia 29 de dezembro o protesto da Liga. Como foram estes dias sem reportar ao CDOS em Fornos de Algodres?
Seguimos as directrizes dadas pela Liga e não reportámos nada ao Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) da Guarda, apesar das excelentes relações que temos e sempre tivemos. Foi uma directriz dada pela Liga e, como Conselheiro Nacional da Liga de Bombeiros Portugueses, não tive a menor duvida em acatá-la. A causa é nobre e deve ser agarrada por todos os Bombeiros. No entanto, o socorro à população de Fornos de Algodres foi assegurado.

 

 

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