
Arqueólogos avançam no estudo sobre o primeiro milénio da era cristã em Santa Comba Dão
O grupo de arqueólogos da Universidade de Coimbra, dirigido por Pedro Matos, está de volta ao Couto do Mosteiro para uma escavação que alarga o estudo sobre a ocupação humana, em Santa Comba Dão, no primeiro milénio da era cristã.
Uma vez mais, estes trabalhos de arqueologia são promovidos pelo Município de Santa Comba Dão, sendo realizados em articulação e com o apoio da Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia do Couto do Mosteiro e da Associação de Estudos do Baixo Dão.
Duas semanas em campo foram já suficientes para confirmar algumas das hipóteses que haviam sido colocadas aquando da escavação inaugural e, também, para avançar com novas hipóteses e questões sobre a cronologia da ocupação deste sítio e a própria função das estruturas encontradas.
Pedro Matos reitera que as ruínas – já reveladas em 2020 – correspondem, de facto, à “sapata” (fundações) de um edifício contemporâneo ao primeiro registo histórico da igreja de Santa Columba (974 da era cristã), sendo que a própria dimensão da estrutura permite sustentar que se trata de um edifício de cariz público e não de natureza privada.
Apesar destes progressos, o arqueólogo acautela que “não existem dados suficientes para dizer que foram encontrados vestígios da igreja de Santa Columba” avançando, no entanto, que as estruturas reveladas – balizadas cronologicamente entre os séculos X e XIII depois de Cristo (Alta idade Média) – poderão corresponder a um anexo, fisicamente associado ao templo.
Os arqueólogos foram ainda mais a fundo, no sentido estrito do termo. Escavando a um nível mais profundo encontraram provas de ocupação romana, ocorrida entre os séculos I e III d.c. Pedro Matos explica que no setor existia uma antiga villa romana, que já havia perdido o seu caráter de propriedade senhorial há, pelo menos, meio milénio, tendo posteriormente sido construído o edifício medieval em estudo.
O diretor da escavação antevê que as próximas campanhas vão permitir perceber a planta da estrutura da Alta Idade Média e sustentar hipótese(s) sobre a sua função ou funções.
Por exemplo, o que já foi escavado deixa antever um edifício de dimensões consideráveis, que poderá permitir dar corpo à teoria da existência de um pequeno mosteiro na zona, durante a Alta Idade Média.
A escavação em profundidade vai, de igual modo, possibilitar o estudo da sequência ocupacional do sítio arqueológico. Há vários séculos de hiato entre o que conhecemos da ocupação do local: Alto Império romano – entre os séculos I e III d.c, e Alta Idade Média – entre os sécs. X e XIII.
“Depois do período romano vieram as invasões bárbaras. Teria havido ocupação durante as invasões bárbaras ou não? Veio, depois o domínio islâmico. Será que vamos encontrar materiais dessa período que poderemos associar a uma ocupação islâmica?”. Estas e outras questões, levantadas pela equipa de arqueólogos, podem vir a ter resposta nas próximas campanhas no sítio do Couto do Mosteiro.