
“Contigo, há descoberta” é um projeto de turismo inclusivo, social e de natureza
O “Contigo, há descoberta” foi pensado entre 2018 e 2019 e, em 2020, Anémone Leton, uma jovem de origem belga que encontrou nas paisagens do Côa a paz que procurava e que fazia voluntariado na ASTA, foi convidada pela fundadora a coordenar o projeto. “O maior receio que tenho é que as pessoas pensem que se trata de turismo pessoas para deficientes”, diz Anémone. “Não é. No ‘Contigo, há descoberta’, os companheiros são os atores principais das atividades. São eles que conduzem as atividades. São os guias, os mentores e os professores nos ateliers”, explica.
Para tal, foi e é necessário um trabalho constante junto dos companheiros. Todas as semanas há duas aulas de memorização, uma espécie de ensaio que os ajuda no aspeto mais frágil, o intelecto. O resultado é uma oferta estruturada de um, dois dias e uma semana, direcionada para adultos, crianças, empresas e para toda a gente que procure uma experiência turística humanizadora e promotora de um desenvolvimento sustentável e holístico. Os programas, disponíveis no website da instituição, incluem atividades nos ateliers, visitas guiadas às Aldeias Históricas de Almeida e Castelo Mendo e caminhadas interpretativas onde se ilustra a lenda da Cabreira – a menina pastora, que deu origem ao nome da aldeia – e sensibilizam-se os visitantes para a vegetação autóctone.
A ASTA faz parte da Carta Europeia de Turismo Sustentável (CETS), cujo Plano de Animação inclui a orgamização workshops de Foraging, promovidos pelo Município de Penamacor – um dos municípios promotores da CETS, a par dos Municípios do Sabugal e de Almeida -, onde se aprende a passar os alimentos da natureza para a mesa. “Este é, por exemplo, um dos conhecimentos que os companheiros passam aos nossos visitantes”, diz Anémone, sublinhando que todas as atividades são conduzidas pela equipa de companheiros da instituição preparada para o projeto (foto 3).
No meio do nada, no centro de tudo
Para quem vem de fora, o Alto da Fonte Salgueira, na aldeia de Cabreira, é no meio do nada, mas o contexto paisagístico em que está inserida a ASTA é também um fator diferenciador da instituição. Para quem a vê de dentro, está no centro de tudo.
“A nossa localização faz toda a diferença. É importante que a socioterapia se faça junto da natureza para que o binómio ser humano-natureza se possam aproveitar e fundir”, explica Maria José Dinis. Por exemplo, após o ritual diário matinal, há sempre lugar a uma caminhada. Maria José Dinis revela que aquando da primeira visita de avaliação do projeto, os técnicos do PIDDAC pediram-lhe para erguer a instituição na cidade da Guarda, onde havia espaços disponíveis. “Nunca seria a mesma coisa. A localização é, sem dúvida, um dos elementos diferenciadores da ASTA”, defende a fundadora da ASTA.
Mas a diferença de estar em pleno contexto natural não se reflete apenas na terapêutica. A ASTA é o dínamo de uma região desumanizada. “Há uma Cabreira antes e uma Cabreira depois da ASTA”, diz José Manuel Marques da Silva, Presidente da União de Freguesias da Amoreira, Parada e Cabreira.No dia em que vistámos a associação para conhecer o projeto, celebrava-se o São Martinho e o cortejo de lanternas, uma tradição antiga de Cabreira, um evento para o qual os companheiros trabalharam durante várias semanas.
A ASTA trouxe emprego e investimento. Além dos edifícios construídos de raíz, a instituição é responsável pela recuperação de seis casas e edifícios na Cabreira e em Almeida. Entre eles, estão a cozinha, alojamentos para os companheiros e para turistas e os edifícios que albergam os ateliers da ASTA. Mas trouxe, sobretudo, ânimo. Aos companheiros, pela forma inovadora e valorizadora da terapêutica utilizada, à economia local e aos pouco mais de 300 habitantes das três aldeias.
“Contigo, há descoberta” é mais do que uma iniciativa de cariz turístico. “É uma parte de um projeto de desenvolvimento holístico que vale a pena experienciar. Aceite e vá até lá descobri-lo. E, quem sabe, descobrir-se”.