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Opinando: “Das Beiras a Amesterdão em 5h” de Sérgio Mendes, Professor


Das Beiras a Amesterdão em 5h

 

As crises que nos assolaram nos últimos anos têm contribuído para incrementar alterações no modo de vida das sociedades. A pandemia, por exemplo, contribuiu para a (re)descoberta do Interior como destino de férias e/ou local de residência fixa, principalmente para quem trabalha a distância. A crise energética e económica que se seguiu, ameaça este crescente dinamismo.

Quando encarada com determinação, a crise pode emergir como uma oportunidade para superar problemas estruturais. A ausência de uma rede de transportes, que se complemente e sirva o país de forma equilibrada o país, é um deles. Infelizmente, os sinais transmitidos relativamente à localização do novo aeroporto de Lisboa parecem demonstrar que os nossos governantes não pretendem mudar este paradigma. Desde a primeira proposta – Rio Frio, 1969 – que as soluções apresentadas se têm limitado à zona circundante da Área Metropolitana de Lisboa. Ultimamente surgem algumas vozes a reclamar soluções alternativas como Beja ou, mais recentemente, Santarém.

Em 2020 a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo sugeriu Tancos, Vila Nova da Barquinha, como mais uma localização para o aeroporto. Esta possibilidade apresenta-nos um potencial que não se deve descurar. Goza de uma localização mais apelativa, quando comparada com Beja e, ao contrário da opção Santarém, beneficia da existência de infraestruturas de base, como as duas pistas que pertenciam à antiga Base Aérea nº3. Acresce a proximidade às autoestradas e a uma rede ferroviária que tarda em ser verdadeiramente dinamizada. Desta forma seria possível ligar Castelo Branco, Covilhã ou a Guarda a Amesterdão em pouco mais de cinco horas. Paralelamente, fixando o Aeroporto junto à cidade do Entroncamento, promoveríamos o transporte ferroviário de passageiros. Recorde-se que, de momento, é possível ir desta localidade a quase todo o país em cerca de 2 a 3 horas. Estavam dados grandes passos para estimular o transporte ferroviário de mercadorias, o qual, muito provavelmente, terá um custo menor do que o transporte rodoviário, cada vez mais dispendioso face ao preço dos combustíveis e… das famigeradas autoestradas.

Então o que falta para, pelo menos, refletir sobre esta possibilidade? Unidade entre os decisores políticos. Principalmente os de âmbito local do Interior do país. Muitos deles estão mais centrados em captar investimentos para o seu concelho do que em defender toda uma região. Pretendem apresentá-los como um troféu e sinal de proximidade ao poder central nas próximas autárquicas. Desta forma ignoram o que sucesso de toda uma região terá um impato mais consistente no “feudo” por si dirigido.

 

Sérgio Mendes

Professor