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Diretor: Paulo Menano

Opinando: “Medonho, muito medonho, mais do que medonho!” de Carlos M. B. Geraldes


«61% dos portugueses desconhece para que servem os livros»

APEL

Medonho, muito medonho, mais do que medonho!

Não faça parte desta estatística. A 23 de abril, dia mundial do livro, leia e ofereça livros, segundo inquérito da Gulbenkian realizado pelo ICS, esta é a percentagem de portugueses que não leram um único livro num ano.

No imediato, o que nos apraz inferir é que ler não é um costume do povo português, apesar de preferir gastar energia a falar do que não sabe do que na leitura, que o desenvolvimento da cidadania é imbuída de preconceito ante os livros, mas fala de religião como se fosse perito em assuntos teológicos e tira selfies com a Torre de Belém ao fundo como se fosse um historiador e um poeta de primeira água. Em segundo, e mais nefasto, por mais que não queira admitir a ausência de espírito crítico fundamentado é nulo e passa a ser um viveiro de recrutamento para sustentamento de posições cívicas extremas.

Ora, sem mais alongamentos, podemos afirmar que ler deve ser como procurar comida. Dado a nossa comunidade se encontrar num estádio da vida que já não é o mesmo é semelhante ao impulso básico dos restantes animais: do nível da subsistência (comer, procurar, parceiros, descobrir abrigos etc.).

Felizmente, como povo, já registamos uma melhoria extraordinária e sem precedentes na nossa qualidade de vida. Todavia, segundo os dados apresentados, parece que ainda não ajustamos o comportamento aos tempos: é como viver numa viagem de tempo que nunca saiu dos hábitos medievais.

Ante o exposto, urge uma educação com pré-requisitos de literacia, efetivos e não “para inglês ver”, para executar tarefas de cidadania de modo a que os cidadãos não fiquem atónitos e obsoletos face às necessidades sociais e políticas porque nada disto é feitiçaria. Viver com esta disposição para o desconhecimento do livro é como viver mergulhados nas trevas: comendo o que se lhes apresenta, sem aventura no horizonte mental, e em tempo sombrio !

Este não saber para que servem os livros é um distorcer da realidade, o não fazer refletir a evolução numa melhoria correspondente às condições de vida. As pessoas não têm a noção do quão excecional é o período que vivem em comparação com o resto da nossa história.

Como é que os portugueses não escapam a esta armadilha da iliteracia? Quais as causas que explicam este parasitismo face aos livros? Poderão essas pessoas ajudar-nos a compreender o porquê de não saberem a importância da utilidade dos livros? Quantas juntas de freguesia têm, como prioridade, a criação de bibliotecas à medida da comunidade local?

Ao lançarmos luz sobre esta atitude, é pôr a descoberto as impressões/pegadas de vida deixadas a um passado armadilhado numa mente sem curiosidade/iluminismo que passa a maior parte do tempo acumular e a puxar uma carroça sem amanhã.

Há um desconhecimento do quão rica é a historia humana, dos seus fascinantes pormenores, das pessoas carismáticas, das derrotas, das vitórias impressionantes, dos artistas que criaram tesouros, de filósofos e cientistas que fizeram avançar a compreensão do universo, bem como as numerosas sociedades e milhares de milhões de vidas que tiveram a sua existência fora da ribalta, fustigadas pelas ondas da ignorância das poderosas correntes do dogmatismo da idade do gelo, das trevas e da falta de educação rudimentar para se ganhar uma nova adaptação ao ambiente.

Ora se não sabemos qual a importância do livro, da leitura e do ler, como podemos criar uma sociedade mais justa e igualitária?!

Em que tipo de mundo queremos viver?

E o que estamos dispostos a fazer?

Carlos M.B. Geraldes (PhD)