Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

Autárquicas 21: Entrevista a Nuno Soares, candidato pelo PSD a Manteigas


Após quatro anos de mandato, retomam agora as eleições para as Autárquicas 2021 e o Mais Beiras Informação decidiu ir ao encontro dos candidatos, colocando-lhes algumas questões, para que possam partilhar a sua visão e planos para o futuro do Município a que se candidatam.

 

Quais os motivos da sua candidatura a estas Autárquicas?

Porque estou convicto que posso fazer mais e melhor pelas pessoas e pelo concelho de Manteigas, que aquilo que tem sido feito nos últimos anos.
Se a isto juntarmos o gosto pela minha terra e pelas suas gentes, estão reunidos os ingredientes para a candidatura.
O impulso final foi a resposta natural a um apelo e a um desafio que já me vinha sendo lançado há algum tempo por várias pessoas, a que se juntou a estrutura local do PSD, desta vez.
Não podia deixar de responder afirmativamente.

 

O que considera ter de diferente dos outros candidatos, para se candidatar a este mandato?
Tenho uma preparação académica, uma experiência política e profissional e um conhecimento do concelho e dos seus problemas que me permitem pensar em soluções e olhar para os problemas do concelho com uma perspetiva e uma abrangência que podem fazer a diferença pela positiva.

 

Quais os setores que considera importantes impulsionar ou melhorar na região?
Há vários setores que devem merecer uma aposta e uma atenção especial por parte dos autarcas regionais.
Começando desde logo pelo turismo, nas mais diversas formas, seja ele de natureza, desporto-aventura, religioso, cultural, etc.. Estas e outras formas são importantes e todas essas vertentes devem ser exploradas, porque muitas delas são complementares.
Mas esta será a mais obvia das apostas, não devendo ser descuradas outras, como seja a silvicultura, as energias renováveis ou a digitalização, bem como as indústrias da economia verde e sustentável, da economia circular e as ligadas ao bem-estar pessoal e social.
A propósito da digitalização, com as novas formas de teletrabalho agora em voga, existem oportunidades para fazer regressar algumas das pessoas que tinham saído da nossa região por imposições laborais, mas que agora deixam de ter esse constrangimento.
Curiosamente, a pandemia fez mais pelo teletrabalho que as empresas e o governo juntos.
Quando há uns anos atrás eu defendia a transferência de serviços centrais do estado para cidades e vilas médias do interior, como forma de atenuar a perda populacional e impulsionar o aparecimento de novos e complementares serviços, muitos se riam baixinho ou viravam a cara para o lado. Hoje a realidade bateu de forma repentina na nossa porta, e quase ninguém estava preparado, porque não quiseram ou não souberam olhar para o futuro.
Falta rede de fibra ótica, faltam dados móveis, falta rede de comunicações fixas ou móveis, há problemas no fornecimento de eletricidade, enfim, uma panóplia de problemas que não facilitam a vida a ninguém.

 

Nestes quatro anos que passaram, o que faria de diferente relativamente ao executivo Camarário vigente?
Muitas coisas teriam sido bem diferentes. Desde logo uma ajuda clara à população e às empresas durante a fase mais critica da pandemia. Passado quase ano e meio, a camara municipal ainda não conseguiu implementar um programa de apoio às empresas. Não quero qualificar, mas não entendo como se pode ter deixado passar tanto tempo.
Depois teria dialogado e promovido a intervenção social, cultural, desportiva, e outra, da sociedade civil.
As associações precisam de apoio para viver, devemos facilitar-lhes a vida, dialogar, ajudar na busca de soluções. Não asfixiar, tomando a câmara as rédeas de todas as iniciativas, apropriando-se das ideias e projetos. Isso é uma centralização descabida e que apenas fará as pessoas afastarem-se, ainda mais, do associativismo.
A câmara pode intervir quando existem falhas de mercado ou de oferta, mas deve, acima de tudo, incentivar e criar condições para que seja a sociedade civil a desenvolver as suas atividades.
Mas também teria apostado na recuperação de património municipal, muito dele a precisar de intervenção. Não podemos estar sempre a pensar construir novo, é preciso também conservar e reabilitar o que existe.
Teria ainda apostado no reforço dos apoios à fixação de pessoas e empresas. Esta aposta é decisiva para o futuro do concelho. Espero que não vamos tarde demais…

 

Acredita que os recursos de que dispõe a Câmara são suficientes para fazer face às necessidades dos cidadãos que aqui residem?
Por definição, os recursos são sempre escassos.
Neste caso não é apenas por definição, são mesmo escassos.
O orçamento municipal é pequeno. É preciso rigor e controlo por parte da despesa e engenho para captar alguma receita, nomeadamente fundos comunitários. Sem eles, dificilmente se conseguirá fazer alguma obra relevante. Os meios municipais próprios são insuficientes para obras com alguma envergadura.
Não é concebível que tenha havido uma execução orçamental onde não foram recebidas quaisquer verbas de fundos comunitários.
Mas, por vezes, para conseguir receita, basta ser zeloso e atento. Por exemplo, a câmara tem uma mini-hídrica, que não produziu eletricidade durante cerca de três anos, porque existiu uma pequena obstrução do maquinismo e a mesma não foi desobstruída. Só após varias insistências do PSD, questionando porque razão a mini-hídrica não estava a produzir, se resolveu o pequeno problema. Com isso a camara terá perdido entre de 150 a 200 mil euros de receitas. Isto é inconcebível.
Assim como não pode acontecer, a câmara abrir um concurso para concessão de água de nascente para engarrafamento e o concurso não permitir maximizar a receita municipal.
Desta forma existe dificuldade em ter os meios suficientes para fazer face às necessidades dos cidadãos residentes.

 

Sendo um concelho situado no Interior, que políticas acredita serem necessárias implementar pelo Governo para diminuir o despovoamento e desertificação?
Como vimos pelos primeiros dados dos censos, a desertificação, infelizmente, não é um problema regional, é sim um problema nacional, sendo que sem um programa ambicioso de incentivo à natalidade, com medidas fiscais, sociais e de natureza estruturante em termos de emprego, dificilmente conseguiremos inverter.
No nosso programa eleitoral, por exemplo, constará uma medida já anunciada, de tornarmos os infantários tendencialmente gratuitos, sendo objetivo que sejam gratuitos no final do mandato.
Sabemos que os custos de infantário têm peso nos primeiros tempos de vida das crianças. Devemos por isso facilitar essa situação. Com menos encargos, esperamos que seja possível às famílias terem mais filhos, mas também sabemos que essa medida, de forma isolada, não resolve o problema da baixa natalidade e da inversão da perda populacional.
Ajudar os mais idosos para que tenham uma vida mais longa e possam por cá permanecer ou regressar às suas origens depois do final da vida ativa, devem também ser apostas. A assistência médica, a sua disponibilidade e facilidade de acesso, neste aspeto, são muito importantes e, muitas vezes, decisivas na hora de escolher o local onde se vai viver.

 

Que medidas pretende implementar para captar investidores para o concelho?
Já existem vários incentivos municipais para esse efeito.
Com a experiência que resulta da sua implementação, há melhorias a introduzir e há inovações que precisamos aportar.
Para se captar investidores, é preciso, antes de mais, criar confiança no investimento, tornar os serviços municipais ágeis no tratamento burocrático dos processos, disponibilizar ajuda aos empresários, seja a nível burocrático, de instalações ou outros que sejam necessários.
Muitas vezes o incentivo financeiro é o menos importante. Tantas vezes a disponibilização de localizações próprias para o fim a que se destinam, ou a celeridade processual, são fatores decisivos na hora de escolher a localização do investimento.
A minha dissertação de mestrado foi sobre captação de investimento direto estrangeiro. Já lá vão uns anos, mas muitas das conclusões continuam válidas, seja para a escala nacional, seja para a escala local.
Nesta matéria, sei bem o que deve ser feito e não é possível resumir aqui de forma clara todos os aspetos principais, mas foquei já alguns importante anteriormente.

 

Como acha que deve a Câmara proceder, para procurar fazer face ao desemprego crescente na região?
A questão do emprego não pode estar dissociada da questão do despovoamento e desertificação. Elas acabam por ser duas faces de uma mesma moeda, criando um ciclo vicioso. Não há emprego, as pessoas vão embora á procura dele, não regressam porque não há emprego, não se criam empregos porque não há pessoas para trabalhar e consumir, e o ciclo vai crescendo…
As medidas para a fixação de pessoas têm que ser coordenadas com as políticas de incentivo à fixação de empresas e criação de postos de trabalho.
Uma maior aposta nos produtos autóctones e na criação de valor extra desses produtos pode ajudar, mas só por si não consegue quebrar e inverter este ciclo.
Nenhuma câmara, por si só, tem capacidade para sair deste espartilho, é preciso conjugar esforços a nível intermunicipal e ter apoio do governo. Caso contrário, não haverá sucesso. Pode haver pequenos focos e alguns casos de sucesso, mas sem o necessário impacto para quebrar a perda populacional.
É preciso trabalho, resiliência e conjugação de esforços entre o poder local e o poder central para que existam medidas efetivas de emprego sustentável na nossa região. Cada um a olhar por si levará ao insucesso de todos.

 

Que conselho daria a um deslocado em busca de novas oportunidades no Interior?
Somos um território de oportunidades, existem muitas coisas boas nas nossas terras, há qualidade de vida, vale a pena tentar uma vida no interior.
Coloquei em stand by a minha carreira profissional para me candidatar à presidência de um município pequeno do interior porque acredito que é possível, caso contrário, teria seguido descansado na minha vida.