Bodo do Espirito Santo vai ser retomado quatrocentos anos depois em Peraboa
A Associação Cultural e Recreativa de Peraboa e a Paróquia de Peraboa irão celebrar no próximo dia 2 e 3 de agosto a Festa do Divino Espírito Santo de Peraboa. É um festa antiga, e que no passado marcava o calendário dos nossos emigrantes. Os festejos foram recuperados pela associação que tem como objetivo valorizar todas as tradições ligadas ao culto do Espírito Santo: “Em Peraboa temos algo incomum, que mostra bem a importância do culto na vida dos peraboenses. A aldeia de Peraboa tem uma rua, um largo, uma oliveira, um cruzeiro, uma capela, um lar, uma imagem, uma confraria, que mostra bem a admiração que as pessoas têm pelo culto, e bem perto da nossa terra, o Rio Zêzere, apelidado por Jaime Cortesão o Rio do Espírito Santo. A construção da Capela talvez seja dos finais do Séc. XVI ou XVII(?), tendo sido aproveitado um afloramento em granito, e à sua frente existia um eira. Não poderei deixar de falar da localização da Capela, que fica junto à principal via romana, a principal porta de entrada da freguesia no passado. Ela, a Capela, “olha” para o caminho romano, anunciando e protegendo quem passa, quem sai e quem entra, o Caminho do Espírito Santo. Foi também local de abrigo para os peregrinos de São Tiago. Outros símbolos, como a questão da eira, onde os homens “malhavam” os cereais, isto é o centeio e o trigo, que são a base alimentar do nosso povo, o pão. Esse pão, a farinha vai fazer parte do Bodo do Espirito Santo, que vai ser devolvido à comunidade, quatrocentos anos depois. A Rainha Santa institui um dia festivo para “matar a fome aos mais carenciados.” Este ano vamos reproduzir o Bodo, com a oferta de filhoses e arroz-doce. As cestas irão na procissão e serão benzidas para que o pão nunca falte nas nossas casas, esse alimento espiritual. Provocamos um grupo de peraboenses e adquiriu-se a Coroa do Espirito Santo, que estará presente na procissão. É o símbolo maior. A grande novidade será o cortejo com os alimentos,” explicou-nos Pedro Silveira.
A Confraria do Espirito já era mencionada no Séc.XVIII, que aparece registada ao inquérito que foi levado enviado a todos ao párocos do país, aquando o Terramoto de Lisboa de 1755 para se saber os reais prejuízos do terramoto. O Pároco de Peroboa respondeu ao inquérito e registou a Confraria.
“Estamos muito Grados à estudiosa Maria Adelaide Salvado que nos ajudou a gostar mais do culto. Além do aspeto pagão da festa, a parte religiosa será um ponto alto, com a realização da procissão e distribuição do bodo.”
A Associação Cultural e Recreativa de Peraboa, disse ainda: “Vamos fazer perto de 50 litros de leite em arroz-doce e alguns quilos de farinha transformados em filhoses. Estamos felizes com a receção do povo. Vamos ter uma palestra sobre o Culto do Espírito Santo do concelho da Covilhã, no sábado à tarde, com Carlos Madaleno, que nos ajudar a interpretar melhor o culto. Temos uma equipa muito motivada, e esta edição vai ter serviço de restauração. Queremos, aqui, agradecer aos peraboenses, Junta de Freguesia e tantos anónimos, que se juntaram para manter as nossas raízes vivas.”
As marchas irão subir ao largo do Espirito Santo para interpretarem mais uma dança. “Na sexta-feira, e depois do sucesso, o nosso grupo de marchas irá apresentar-se mais uma vez. “
Outra festa que iremos recuperar em janeiro serão as tradições de São Sebastião, cuja Capela deu lugar à Padaria de Peraboa. O mais importante é recuperar essas tradições, esse enorme património religioso e imaterial, que faz parte da nossa identidade. A Associação tem sabido receber e responder aos desafios, o que é uma mais valia para a divulgação do seus património”, referiu Pedro Silveira