Mais Beiras Informação

Diretor: Paulo Menano

BE Guarda: Incêndios no concelho da Guarda e Parque Natural da Serra da Estrela


Em comunicado ao MaisBeiras Informação, o BE Guarda pronunciou-se sobre os incêndios que têm vindo a decorrer no concelho da Guarda e Parque Natural da Serra da Estrela, o qual passamos a transcrever:

Assistimos impávidos à destruição de património irreparável, sabendo que a possibilidade de não se repetir cai sobre quem, mais uma vez tão provavelmente, optará por medidas insuficientes de mitigação e reparação, ignorando sistematicamente os danos causados à população que as/os elegeu.

A nossa serra comporta espécies de fauna e flora raras e únicas, não esquecendo a acrescida dificuldade daquelas que já se encontravam em pequeno número. A perda ambiental, social e económica é incalculável!

A criação do Parque Natural da Serra da Estrela pelo Decreto-Lei n.o 557/76, de 16 de Julho, traduziu o reconhecimento do valor do maciço da serra da Estrela como região de  característica economia de montanha, onde, a par de um grande interesse paisagístico, ainda subsistem refúgios de vida selvagem e formações vegetais endémicas de importância nacional. A qualidade dos recursos hídricos existentes, a constituição do solo e do coberto vegetal na área de glaciação, aliados a factores de humanização, como o pastoreio de altitude, são, entre outros, responsáveis pelo excepcional património natural e cultural da serra da Estrela (Decreto Regulamentar n.o 50/97 de 20 de Novembro 1997 – reclassificação do Parque Natural da Serra da Estrela)

Mas a Serra da Estrela e os concelhos afetados pelos incêndios não podem esperar que estas valorizações continuem perdidas no papel. Precisam sim, que se façam escolhas práticas que tenham como consequência a sua proteção.

A península ibérica  e Portugal em concreto, encontram-se numa zona que é particularmente afetada pelas alterações no clima, em consequência do aquecimento global. Situações de seca, ondas de calor, grandes tempestades tornar-se-ão cada vez mais regulares. E se sistematicamente se reúne e estudam formas de mitigação e adaptação, porque é que assistimos a um desinteresse pelas pessoas que podem proteger o nosso património mais valioso?

O incêndio que consome o Parque Natural da Serra da Estrela tem revelado as fragilidades de um sistema que insiste em desprezar e desvalorizar quem trabalha para a proteção das populações, dos seus bens e da conservação da natureza. O concelho da Guarda, tem sido fustigado com vários incêndios que têm dizimado boa parte da sua floresta, ameaçando a sobrevivência de várias espécies e colocando em risco aldeias e as/os seus habitantes.

E perguntamo-nos o que falha?! Falhou uma real gestão florestal e prevenção de incêndios. Falhou a política da desvalorização, dos baixos salários, da ausência de Carreiras e Estatutos Profissionais.

Faltou a coragem em aplicar aos Bombeiros o seu Estatuto Profissional que os torna profissionais e valorizados. Aos Bombeiros, aqueles/as que são primeira linha de socorro das populações atuando em várias áreas, com financiamentos reduzidos, dependentes do querer do município e abraços com uma crise de voluntariado, que condena a sua sobrevivência.

Faltou o cuidado com os/as Sapadores Florestais, também do nosso concelho, que ainda esperam que o governo possa aumentar a verba anual paga às equipas para que se possa implementar o Estatuto Profissional que permite o aumento salarial e o reforço das fileiras. São estes homens e mulheres as/os que atuam na silvicultura preventiva e na gestão das faixas de combustíveis.

Faltou apostar num corpo nacional de Guardas Florestais integrados no Instituto da Conservação da Natureza com condições para fiscalizar melhor as nossas florestas.

Faltou, uma vez mais, uma política que sirva as pessoas: que saiba criar regulamentação mas também aplicá-la, integrá-la no quotidiano das populações e fiscalizá-la.

Sendo que tanto falhou até agora no que concerne à proteção dos pulmões do nosso país, reforçamos a importância de se tomarem medidas urgentes de monitorização e intervenção para a preservação das espécies de fauna e flora endémicas, impedindo que os espaços tomados pelo fogo o sejam agora por espécies invasoras, danificando uma vez mais a manutenção dos solos. Reforçamos a importância de se repensarem as condições laborais das equipas que atuam na gestão florestal e prevenção de incêndios, assim como as estratégias económicas continuamente apresentadas para estes territórios e que comportam alto impacto na biodiversidade, dando prioridade ao apoio para o desenvolvimento de atividades tradicionais que sustentam a vida e originalidade da região, a entidades dedicadas à defesa do meio ambiental, cultural e/ou social e à valorização turística com perspetiva ecológica.